"Para impeachment é preciso violação", diz Dilma à CNN
Em trecho antecipado pela jornalista Christiane Amanpour, a petista disse que vai "lutar para sobreviver" e que luta por "princípios democráticos"
Raphael Martins
Publicado em 28 de abril de 2016 às 16h03.
Última atualização em 1 de agosto de 2017 às 14h45.
São Paulo – A presidente Dilma Rousseff concedeu entrevista à emissora americana CNN nesta quarta-feira (27) sobre seu processo de impeachment que corre no Congresso.
Na entrevista, a petista disse que vai "lutar para sobreviver" ao pedido de deposição e que luta por "princípios democráticos" ao fazê-lo.
"Eu lutarei para sobreviver, não apenas pelo meu mandato. Eu vou lutar porque o que eu estou defendendo são os princípios democráticos que regem a vida política no Brasil", disse.
A entrevista completa foi ao ar por volta das 15 horas desta quinta-feira (28).
Sobre as pedaladas fiscais como pressuposto para impeachment, Dilma disse que é vítima única de prática comum do poder Executivo. "A prática é feita por todos os cargos executivos, sempre foi uma algo regular", disse. "Se para eles [outros políticos] nunca foi crime, por que um processo de impeachment para mim?"
GOLPE
A jornalista pergunta também acerca da questão sobre a argumentação do processo de impeachment tratar-se ou não de golpe. Dilma reconhece a legalidade de haver um processo de impeachment, mas apenas com justificativa jurídica incontestável.
"A Constituição prevê um impeachment, mas para isso tem que haver uma violação", afirmou. "Ninguém pode seguir um processo de impeachment simplesmente por impopularidade da presidente pois a rejeição ou aceitação é um movimento cíclico."
"Quem desencadeou o impeachment que é acusado de corrupção. Não há acusação de crime contra mim, então, por isso, é um golpe", disse a presidente.
POPULARIDADE
Christiane Amanpour pergunta se, nesse estado de rejeição e situação de descontrole sobre o Congresso, não seria o caso de presidente renunciar ao cargo.
"O mandato não pertence só a mim, mas também aos 54 milhões que me deram seu voto e a todos os 110 milhões que participaram do processo eleitoral", disse a presidente.
"O processo de tirar um presidente do mandato não pode ser baseado em pesquisas de opinião", afirmou. "Todo presidente enfrenta altos e baixos. Todos que foram mal avaliados, vão ser removidos?"
Sobre protestos contra seu governo, Dilma diz que sempre teve "relações democráticas" com protestos e apoia um Brasil com liberdade de expressão.
"Em 2013, propusemos uma reforma política para dar a todos que sentem na minha cadeira a possibilidade de trabalhar pelo interesse do país."
SEXISMO
Perguntada sobre se questões sexistas estigmatizam a avaliação de suas ações como presidente, Dilma disse que há "clara influência".
"Sempre que me dizem que sou uma mulher dura, respondo que sou rodeada por homens fofos, educados, gentis e bondosos."
Dilma diz que em momentos de pressão, parte da mídia lhe atribui características como "deprimida" ou "à beira de um ataque de nervos".
CORRUPÇÃO
Sobre os escândalos de corrupção que envolvem membros de seu partidos, Dilma foi questionada como fazer para quebrar esse círculo de corrupção que domina o poder público.
A presidente disse que em seu governo e do antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, criou-se um ambiente em que as instuições estiveram em posição para investigar casos como a Operação Lava Jato.
"Colocamos instituições e legisladores em favor desse combate."
Ainda sobre Lula, a presidente foi questionada se não foi um erro trazê-lo para o governo e se a manobra se tratava de forma de protegê-lo de processo jurídico.
Assim como em outro momento, Dilma rechaçou a possibilidade de manobra jurídica e afirmou que Lula foi convocado para melhoria da governança e apoio político.
Dilma lembrou que ter foro privilegiado não o tira de julgamentos, apenas muda a instância jurídica.
"Fui impedida de trazê-lo porque fortaleceria meu governo."
OLIMPÍADAS
A respeito das Olimpíadas, Dilma chegou a dizer que "ficaria muito triste" em perder o cargo de presidente antes do evento esportivo. Mas ressaltou que seria ainda mais triste ser vítima do que considera um processo injusto.
"Fico triste por ver esse abalo à democracia."