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Diálogo com a sociedade é desafio para Temer

Para conselheiros e aliados de Temer, o presidente pode até se comunicar bem com a base, mas não faz o mesmo com a sociedade

Temer: falha de comunicação estaria impactando na popularidade do presidente (Adriano Machado/Reuters)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 22 de janeiro de 2017 às 09h59.

Última atualização em 22 de janeiro de 2017 às 18h26.

São Paulo - No momento em que o governo acerta os detalhes finais para fechar um contrato de publicidade no valor de R$ 200 milhões, válido por cinco anos, conselheiros e aliados próximos ao presidente Michel Temer atribuem a falhas de comunicação do Palácio do Planalto um fator fundamental para a baixa popularidade da administração do peemedebista.

A avaliação é de que o presidente dialoga bem com sua base aliada no Congresso, mas não consegue se comunicar com a sociedade. Os erros listados por aliados de Temer vão de campanhas institucionais consideradas "desastradas" e pronunciamentos "superficiais" feitos pelo peemedebista até movimentos "erráticos" de ministros "voluntariosos".

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O diagnóstico é feito por integrantes do grupo de comunicação que prestava assessoria regular a Temer logo após o impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, mas que se desfez após os primeiros meses de gestão do peemedebista.

"Após meia dúzia de reuniões, deu para perceber que aquilo que se discutia ali, ali mesmo morria, tragado pela autossuficiência dos comunicadores oficiais. Simplesmente desliguei-me do grupo", afirmou ao Estado o publicitário Chico Santa Rita, que foi um dos conselheiros de Temer.

Para o publicitário, o governo está tomando medidas estruturais importantes em pouco tempo, como as reformas trabalhista e da Previdência e o saque das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), mas as avaliações públicas do governo seguem "ladeira abaixo" por causa comunicação, segundo ele, deficiente.

"Começou no momento em que o Temer foi confirmado (presidente) pelo Congresso e, simplesmente, fez um pronunciamento chocho à Nação. Era hora de ter feito um grande balanço, mostrando o tamanho da verdadeira herança maldita que herdava após os desgovernos do PT", afirmou Santa Rita.

Campanhas

No caso da reforma da Previdência, na avaliação do publicitário, a campanha oficial foi feita a partir de uma negação e uma ameaça. O slogan oficial é "Reformar para não acabar". "A situação pode ser verdadeira, mas o slogan traduz uma preocupação do status quo, não das pessoas", disse o ex-conselheiro do presidente.

Um dos casos mais lembrados por aliados do Planalto para ilustrar a falta de estratégia de comunicação foi a campanha "Gente boa também mata". Lançada pelo Ministério dos Transportes, a ação tentou mostrar que qualquer cidadão pode causar acidentes e até mortes se não respeitar as leis de trânsito.

A peça acabou suspensa por causa da repercussão negativa, principalmente nas redes sociais. "A ideia é boa, mas (a propaganda) foi mal feita", disse o marqueteiro Nelson Biondi.

Em caráter reservado, aliados e interlocutores de Temer também reclamam do "excesso de liberdade" na comunicação dos ministérios. Um dos casos mencionados envolve o atual ministro da Justiça, Alexandre de Moraes.

Além de ser apontado como o responsável pela demora do Planalto em se manifestar no caso das rebeliões em presídios, o ministro já causou diversos constrangimentos ao governo.

Antes mesmo do impeachment de Dilma, por exemplo, Moraes causou desconforto ao confirmar que havia sido sondado para integrar o governo Temer. O episódio de maior desgaste, no entanto, ocorreu em setembro, quando Moraes "antecipou" a integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL), em Ribeirão Preto (SP), uma nova etapa da Operação Lava Jato.

"Quando vocês virem (a operação) esta semana, vão se lembrar de mim", afirmou o titular da Justiça, na ocasião. No dia seguinte, a Polícia Federal prendeu o ex-ministro Antonio Palocci. À época, Temer chegou a chamá-lo para explicações no Planalto e Moraes disse que foi mal interpretado. Procurado novamente pela reportagem, o ministro não se manifestou.

Jornada

Outro ministro que causou problemas foi Ronaldo Nogueira, titular do Trabalho. Depois de dizer que os trabalhadores teriam até 12 horas de jornada por dia, ele foi repreendido por Temer. O ministério teve de divulgar uma nota dizendo que a reforma trabalhista não elevaria a jornada semanal do trabalhador, mas ajustaria sua forma de cumprimento. "Um ponto fraco do governo é a comunicação com a sociedade. O governo ainda não conseguiu falar ao conjunto da sociedade a situação do País. Não conseguiu mostrar seu projeto", disse o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB).

Na avaliação do governador, o diálogo do governo com a Câmara dos Deputados e com o Senado está "fluindo", mas com a sociedade há um déficit. "Tem muito chão para caminhar e mostrar para a sociedade o tamanho da crise em que estamos", afirmou Hartung. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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