Brasil

Despenca número de médicos que acham efetiva política contra covid-19

Há dois meses, 87% dos profissionais consultados viam as políticas como eficientes. Hoje, esse número caiu para 46%, mostra pesquisa

Rio de Janeiro: em primeiro dia de reabertura gradual na cidade, calçadão fica cheio de pessoas (Dikran Junior/Estadão Conteúdo)

Rio de Janeiro: em primeiro dia de reabertura gradual na cidade, calçadão fica cheio de pessoas (Dikran Junior/Estadão Conteúdo)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 3 de junho de 2020 às 16h39.

Última atualização em 3 de junho de 2020 às 17h36.

Vem caindo consideravelmente nos últimos dois meses o número de médicos que acham efetiva a política implementada no Brasil contra a covid-19, assim como os que veem engajamento da população no combate ao coronavírus, gerador da doença.

Entre 19 e 22 de maio, 46% dos profissionais viam as políticas como eficientes. Há dois meses, porém, entre 31 de março e 2 de abril, esse número era quase o dobro, de 87%, segundo pequisa da consultoria especializada em estudos de saúde Fine Research, divulgada com exclusividade à Exame.

Do total de participantes brasileiros, 54% consideram autoridades têm subestimado o impacto da pandemia e 28% dizem que as autoridades têm dado a importância adequada. O número dos que consideram que a doença está sendo subestimada só é maior no México (75%) e no Equador (69%) entre os países da América Latina.

Sobre o envolvimento da população, a percepção positiva caiu de 64% para 48% no mesmo período.

Nesta semana, um dia após o Brasil ultrapassar a marca das 30 mil mortes pela covid-19, começou uma nova etava de reabertura da economia em algumas regiões do país.

No Rio de Janeiro, por exemplo, onde atividades esportivas e cultos religiosos foram liberados, desde que as devidas regras de prevenção contra a doença, havia bastante gente na praia e nos calçadões. O Ministério Público do Estado chegou a pedir à Justiça nesta terça-feira que aplique multa pessoal de R$ 50 mil ao prefeito da cidade, Marcelo Crivella, pela decisão de flexibilizar as regras de isolamento.

Desde o início da pandemia, o Brasil tem sofrido com a falta de coordenação entre as autoridades formadoras de políticas públicas sobre o assunto, já que o presidente Jair Bolsonaro tem contrariado recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), como o uso de máscara e distanciamento social, e defendido a reabertura total do comércio no país.

Depois de ficar quase 20 dias sem ministro da Saúde, em função da demissão de Nelson Teich, o país oficializou nesta quarta-feira Eduardo Pazuello como chefe interino da pasta. Teich havia ficado menos de um mês no cargo, no lugar do ex-ministro Henrique Mandetta, que saiu após se desentender com o presidente Bolsonaro.

Quando saiu do governo, a exemplo do seu antecessor, Teich disse em entrevista que o Brasil "navega em situação de absoluta incapacidade de enxergar o que vai acontecer pela frente”.

Polarização e riscos

A pesquisa mostra também a existência de polarização entre os médicos sobre a normalização das atividades no país. Metade vê nos próximos 30 dias uma flexibilização das restrições de forma gradual e controlada. A outra metade considera que os controles devem se manter ou se intensificar. Na América Latina, a média das opiniões tende para expectativa de regras mais restritas (56%).

No Brasil, a maioria dos profissonais vê alto risco de colapso a disponibilidade de leitos de internação, áreas de UTI e ventiladores no Brasil. Os principias riscos percebidos no pais estão associados com a falta de material de proteção e falta de protocolos.

A pesquisa foi feita de forma online com médicos registrados na plataforma, que reúne mais de 90 mil profissionais de atenção primária e diversas especialidades.

O estudo abrange 16 países da América Latina. No total, participaram 5.076 médicos, a maior parte deles do Brasil (1.606), seguido de Argentina (1.003), México (920) e Colômbia (773).

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