Amazônia: o desmatamento já totaliza 920 quilômetros quadrados (LeoFFreitas/Getty Images)
Reuters
Publicado em 3 de julho de 2019 às 13h50.
Última atualização em 3 de julho de 2019 às 14h21.
Brasília — O desmatamento na parte brasileira da floresta amazônica cresceu mais de 88% em junho na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o segundo mês consecutivo de aumento do desmate no governo do presidente Jair Bolsonaro.
Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmatamento na Amazônia totalizou 920 quilômetros quadrados.
Os dados que apontam aumento de 88,4% são preliminares, mas indicam que a cifra anual oficial, baseada em imagens mais detalhadas e mensurada durante os 12 meses transcorridos até o final de julho, está a caminho de superar o número do ano passado.
O desmatamento já atingiu 4.565 quilômetros quadrados nos 11 primeiros meses, um aumento de 15% em relação ao mesmo período de 2018.
Ambientalistas alertam que as afirmações contundentes de Bolsonaro em defesa do desenvolvimento da Amazônia e criticando as autoridades ambientais do país por aplicarem multas que considera excessivas estimulam madeireiros e fazendeiros a lucrar com o desmatamento.
"Bolsonaro agravou a situação... ele fez um ataque retórico forte", disse Paulo Barreto, pesquisador da organização não-governamental brasileira Imazon.
A temporada de chuvas que foi até abril pareceu ter contido um aumento do desmatamento, que subsequentemente ocorreu no início da temporada seca, em maio.
O desmatamento aumentou 34% em maio na comparação com o mesmo mês do ano passado.
"Estamos adotando todas as medidas para combater o desmatamento ilegal", disse o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, à Reuters. "Nessa semana estavam em ação 17 equipes simultâneas de fiscalização do Ibama em toda a Amazônia."
O Palácio do Planalto não respondeu de imediato a um pedido de comentário, direcionando o questionamento para o Ministério do Meio Ambiente.
O Brasil abriga 60% da Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, vista como vital para a luta global contra a mudança climática.
A comercializadora de grãos norte-americana Cargill disse no mês passado que a indústria alimentícia não conseguirá cumprir a promessa de eliminar o desmatamento em suas cadeias de suprimentos globalmente até 2020, e se comprometeu a fazer mais para proteger ambientes nativos do Brasil.
O aumento do desmate ocorre no momento em que o governo brasileiro sofre pressão para proteger o meio ambiente no âmbito do acordo de livre comércio fechado entre a União Europeia e o Mercosul na semana passada.
Apesar de o texto final do pacto UE-Mercosul ainda não ter sido divulgado, um resumo apresentado por países europeus inclui uma previsão de que o Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas precisa ser efetivamente implementado, assim como outros compromissos para enfrentar o desmatamento.
O presidente francês, Emmanuel Macron, chegou a afirmar na semana passada, antes do fechamento do acordo, que não assinaria o pacto comercial se o Brasil deixasse o Acordo de Paris.
Paulo Adário, estrategista de florestas do Greenpeace, disse que "todas as indicações" são de que o desmatamento se agravará ainda mais no governo Bolsonaro, mas espera que a notícia de um aumento grande pressione o governo a agir.
"Quando eles tiverem os números finais, se realmente for muito, isso será um pesadelo para Bolsonaro", disse Adário. "Isto é algo realmente importante do ponto de vista internacional e brasileiro porque a Amazônia é um ícone".