Desde janeiro, Bolsonaro já fez 99 ataques à imprensa, diz levantamento
Segundo dados da Federação Nacional dos Jornalistas, os principais alvos são o grupo Globo e os jornais Folha de S. Paulo e Valor Econômico
Clara Cerioni
Publicado em 4 de novembro de 2019 às 15h59.
Última atualização em 4 de novembro de 2019 às 16h01.
Brasília — O presidente Jair Bolsonaro já realizou, desde a posse, 99 ataques diretos a jornalistas ou à forma como os trabalhos da imprensa são conduzidos pelos profissionais no país.
Os dados foram apresentados pela presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Maria José Braga, nesta segunda-feira (4), durante reunião do Conselho de Comunicação Social (CCS) no Senado Federal.
Braga ressaltou que o levantamento da Fenaj foi "criterioso", buscando separar críticas conceituais de "ataques puros e simples" a jornalistas específicos ou à maneira como alguns veículos fazem a cobertura de seu governo.
"Só em outubro, o presidente realizou 13 ataques pessoais contra jornalistas ou à forma como o jornalismo é feito no país. Fizemos questão de separar o que são críticas conceituais e o que se configura simplesmente como agressões. Desde a posse, já foram 99 ataques pessoais e agressões a veículos específicos. São manifestações do tipo 'a imprensa é nossa inimiga' ou 'se valesse, jornalista já estaria tudo preso'. O presidente parece buscar de forma sistemática desacreditar a imprensa, intentando que a população creia ser ele um perseguido por ela, e que portanto as informações veiculadas não seriam confiáveis. Já foram 11 ataques pessoais contra jornalistas e 88 contra veículos e à imprensa como um todo. Os principais alvos são o grupo Globo e os jornais Folha de S. Paulo e Valor Econômico", disse Braga.
Tortura e censura
Todos os meses, a presidente da Fenaj reporta ao CCS casos de violência a profissionais da comunicação no país.
No relatório de outubro, citou a censura feita pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC) a uma reportagem sobre o Festival de Artes Jackson do Pandeiro, em João Pessoa (PB).
A matéria foi reeditada para publicação no YouTube e o diretor do programa "Antenize", Vancarlos Alves, foi demitido, porque a reportagem original veiculava um cordel em que aparecia a imagem da ex-vereadora Marielle Franco, assassinada no ano passado no Rio de Janeiro.
Na versão para a internet, a imagem de Marielle foi eliminada.
Braga também citou a censura praticada pelo YouTube a dois vídeos do site Ponte Jornalismo. As reportagens da Ponte Jornalismo denunciavam dois professores da rede de ensino AlfaCon, que faziam apologias à tortura e a execuções sumárias durante as aulas, para os alunos.
"O estranho é que as imagens usadas nas reportagens da Ponte Jornalismo, com as apologias aos crimes, vinham de vídeos da própria AlfaCon. O YouTube alegou que a Ponte Jornalismo estaria infringindo o direito autoral", afirmou a presidente da Fenaj.