Delcídio é o único que deve ter medo do Cerveró, diz Lula
No depoimento, o ex-presidente afirmou que sua relação com Delcídio "era institucional”, e que não tem motivos para se preocupar com a delação de Cerveró
Da Redação
Publicado em 14 de março de 2017 às 14h09.
Última atualização em 14 de março de 2017 às 14h10.
Brasília- O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu como falsa a acusação de ter tentado obstruir as investigações da operação Lava Jato e se disse vítima de um massacre na mídia, durante depoimento prestado como réu na Justiça Federal nesta terça-feira.
Logo após a denúncia ser lida pelo juiz Ricardo Leite no início da audiência em Brasília, Lula afirmou: “Os dados são falsos". O ex-presidente é réu na ação ao lado de outras cinco pessoas, entre elas o ex-senador Delcídio do Amaral.
O caso teve origem quando Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, gravou uma conversa com Delcídio na qual o então parlamentar oferecia dinheiro, influência política junto ao Supremo Tribunal Federal e até uma rota de fuga em troca do silêncio do ex-dirigente da estatal na Lava Jato.
Delcídio foi preso por conta desta gravação e posteriormente fechou acordo de delação premiada com os investidores. Ele afirmou agir a mando de Lula, o que o ex-presidente nega.
"Há mais ou menos três anos eu tenho sido vítima, eu diria quase que de um massacre", disse Lula.
"Eu acho que todos aqui têm dimensão do que é um cidadão que foi presidente da República... de repente é pego de surpresa por manchetes de jornais e por notícias da televisão todo dia, todo santo dia", acrescentou.
"No café da manhã, no almoço e na janta alguém insinuando: tal empresário vai prestar uma delação e vai acusar o Lula, tal deputado vai prestar uma delação e vai acusar o Lula, agora vão pegar fulano e vai prender o Lula."
No depoimento, Lula afirmou que sua relação com Delcídio "era institucional”, e que não tem motivos para se preocupar com a delação de Cerveró. “Só tem um brasileiro que poderia ter medo de uma delação do Cerveró, que é o Delcídio”, disse o ex-presidente.
A pena para condenação por obstrução de Justiça, sob a lei de organização criminosa, é reclusão de três a oito ano, segundo o procurador Ivan Marx.
A operação Lava Jato investiga um esquema bilionário de corrupção envolvendo a Petrobras, empreiteiras, partidos, políticos, além de outras empresas e órgãos do governo. Lula é réu em outras duas ações da Lava Jato, além da que corre na Justiça Federal de Brasília.
Nesta manhã, o juiz Ricardo Leite questionou o ex-presidente sobre um discurso em Angra dos Reis em 2010, quando o petista fala que no seu governo a Petrobrás se tornou mais transparente e que ele participava mais das decisões.
"O governo participa da Petrobrás através do Conselho da Petrobrás... eu, durante todo o tempo, da Petrobrás eu só participei de uma reunião de comissão da política estratégica", disse Lula na 10ª Vara Federal de Brasília.
"De cargo não. Não definia cargo", acrescentou. "O presidente (da República) não indica cargo na Petrobrás, o presidente recomenda ao Conselho da Petrobrás a indicação de tal pessoa indicada por tal partido político a partir da capacidade técnica das pessoas.”