Brasil

Deixar o rodízio de água para depois é mesmo a melhor opção?

Segundo especialistas, adiar o rodízio não só não resolve o problema da água em São Paulo, como pode piorar a situação

Segundo especialistas, adiar o rodízio não só não resolve o problema da água em São Paulo, como pode piorar a situação (Thinkstock)

Segundo especialistas, adiar o rodízio não só não resolve o problema da água em São Paulo, como pode piorar a situação (Thinkstock)

DR

Da Redação

Publicado em 11 de fevereiro de 2015 às 16h58.

São Paulo - Com o Sistema Cantareira subindo sutilmente diante dos elevados índices de chuva dos últimos dias, o governo de São Paulo já pensa na possibilidade de adiar a temporada de rodízio de água - que já era dada como certa pelos especialistas.

Encarada como um alívio pelos paulistanos que não querem ver suas torneiras secas, a solução pode acabar só adiando - e piorando - o problema da água na cidade, segundo especialistas ouvidos por EXAME.com.

"É muito arriscada essa política de postergar o racionamento. Já se arriscou uma vez e chegamos a essa situação. Mesmo assim, o governo continua contando com São Pedro. Desde 2013, estamos contando com as chuvas", afirma Roberta Baptista Rodrigues, doutora em recursos hídricos e professora dos cursos de Engenharia Ambiental e Sanitária e de Engenharia Civil da Universidade Anhembi Morumbi.

Desde o começo de fevereiro, as chuvas quase diárias elevaram o armazenamento de água do Sistema Cantareira e, a 17 dias do final do mês, já choveu 70,7% do esperado. A situação animou o governo estadual que avalia que, se no final de março o sistema estiver operando com uma capacidade de 10% a 12%, o rodízio de água na Grande São Paulo pode ser evitado.

Além das chuvas, o governo conta também com a conclusão da obra de ligação entre a represa Billings e o sistema Alto Tietê e também com a ampliação da capacidade de interligação entre os sistemas. Se tudo ficar pronto até maio, as represas que estão em melhor situação poderão atender moradores que hoje são abastecidos pelo Cantareira. 

Para Marco Antônio Palermo, doutor em engenharia de recursos hídricos, este plano não evitará o rodízio. "Precisaríamos ter chuvas muito volumosas para suprir o principal manancial da cidade. Os outros reservatórios, mesmo integrados, não têm capacidade para atender toda a cidade", afirma.

Além disso, segundo o especialista, a probabilidade de que chova o suficiente para trazer o Cantareira a níveis que permitam suportar a estiagem é muito remota.

Segundo Roberta, mesmo que a Sabesp consiga abastecer a população até o final do período de estiagem, o sistema vai estar em uma posição muito mais crítica no próximo verão. "O ideal seria economizar ao máximo esta água que está caindo, não contar com São Pedro e começar o racionamento o quanto antes", afirma. 

Palermo concorda que a cidade já deveria estar sob um esquema de racionamento de água há muito tempo. "O temor é que o rodízio venha tarde demais e não tenha mais água para racionar entre a população. Se as reservas acabarem, não vai ter o que fazer", diz. 

Para ele, o rodízio deveria ter sido implantado assim que o volume útil do manancial se esgotou, em maio do ano passado. "É uma reserva emergencial, não deveria estar sendo usada assim", afirma Palermo. 

Quarta cota

Nesta quarta-feira, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) confirmou que a Sabesp encontrou uma quarta cota do volume morto. Segundo o governador, essa nova reserva teria volume estimado de 40 bilhões de litros, o que equivale a aproximadamente 4% da capacidade total do manancial.

Ainda não se sabe, contudo, se será possível captar essa quantidade de água, porque ela está abaixo do nível de captação e localizada em uma área de difícil acesso.

Se tudo der certo e for possível captar essa nova reserva, o abastecimento em São Paulo teria uma sobrevida de cerca de 1 mês e meio. Há ainda uma terceira cota do volume morto que está sendo guardada para o período de secas, segundo o governador.

Somadas, a terceira e a quarta cotas do volume morto têm cerca de 80 billhões de litros de água, o que daria para abastecer a cidade por cerca de 3 meses durante o período de seca, que vai de maio a setembro. O Sistema Cantareira abastece 6,2 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo e já está na segunda cota do volume morto. 

De acordo com a professora Roberta, o problema em captar mais essa reserva do volume morto é a qualidade da água. Quanto mais próxima do leito da represa, pior a qualidade da água captada. 

"Mesmo que seja possível captar, é uma ação extremamente arriscada", diz Roberta. "Já estamos entrado no período de estiagem e é uma situação muito arriscada. O governo já arriscou em 2013 e em 2014, não dá para continuar contando com São Pedro", afirma.

Segundo Roberta, questões políticas estariam impedindo que o rodízio seja decretado. "Sei que há uma questão política, já que a imagem do governador ficaria abalada em caso de racionamento de água, mas os argumentos técnicos deveriam vir em primeiro lugar", diz ela.

Acompanhe tudo sobre:Águacidades-brasileirasEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasEmpresas estataisEstado de São PauloEstatais brasileirasMetrópoles globaisSabespSaneamentosao-pauloServiços

Mais de Brasil

G20: Banco Mundial declara apoio à Aliança Global contra a Fome

Convidado para o PL, Tarcísio nega interesse em mudar partido: 'Estou confortável no Republicanos'

Pesquisa prefeito Rio: Paes tem 49% e Ramagem, 13%, diz Quaest

Chuvas no RS revelam sítio arqueológico ocupado há cerca de dez mil anos; veja fotos

Mais na Exame