Brasil

'Culpa é do BC, agora é o Senado que pode trocar o presidente', diz Lula sobre alta taxa de juros

Presidente afirmou que só teve um contato com Campos Neto e diz que não quer confusão, mas que país volte à normalidade e cresça

Lula: petista voltou a criticar a independência do BC (Rosinei Coutinho/SCO/STF/Flickr)

Lula: petista voltou a criticar a independência do BC (Rosinei Coutinho/SCO/STF/Flickr)

AO

Agência O Globo

Publicado em 8 de fevereiro de 2023 às 05h34.

Última atualização em 8 de fevereiro de 2023 às 05h36.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta terça-feira que a culpa pela alta taxa de juros no país é do Banco Central e que o Senado Federal pode trocar a presidência do banco, atualmente comandado por Roberto Campos Neto, que tem mandato até o fim de 2024.

Lula voltou a afirmar que não é possível que o país cresça com a taxa de juros em 13,75% ao ano, definida pelo BC.

"Eu acho que esse cidadão que foi indicado pelo Senado tem a possibilidade de maturar, de pensar e saber como é que vai cuidar desse país porque ele tem muita responsabilidade. Ele tem mais responsabilidade do que Meirelles tinha no meu tempo. Naquele tempo, era fácil jogar a culpa no presidente da República. Agora não. A culpa é do Banco Central. Agora é o Senado que pode trocar o presidente do Banco Central."

A expectativa do mercado é que a taxa Selic, neste patamar desde agosto do ano passado, se mantenha neste patamar até o fim deste ano.

"Não é possível que a gente queira que esse país volte a crescer com uma taxa de juros de 13,75% (ao ano). Nós não temos inflação de demanda, é só isso. Eu acho que esse cidadão que foi indicado pelo Senado tem a possibilidade de maturar, de pensar e saber como é que vai cuidar desse país porque ele tem muita responsabilidade", afirmou Lula durante café da manhã com alguns veículos de mídia no Palácio do Planalto.

Lula afirmou ainda que teve pouco contato com o atual presidente do Banco Central, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, mas parte do “pressuposto de que as pessoas são de boa fé”. O presidente disse ainda que espera que os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento) estejam "acompanhando a situação do Brasil".

"De qualquer forma, como eu não conheço ele bem, eu só tive uma única vez com ele, eu sempre parto do pressuposto de que as pessoas são de boa fé, de boa vontade. Quer acertar, consertar a economia brasileira, que a economia precisa voltar a crescer, que os juros precisam ser acessíveis pela parte dos investidores brasileiros. Eu espero que o Haddad esteja acompanhando, a Simone esteja acompanhando e que ele próprio esteja acompanhando a situação do Brasil."

O presidente afirmou, ainda, que haverá mudança em todos os bancos.

"Nós vamos mudar a direção de todos os bancos porque nós já indicamos o Mercadante para o BNDES, Maria Rita para a Caixa Econômica Federal, a companheira do Banco do Brasil e vamos indicar do Basa (Banco da Amazônia) e do Banco do Nordeste. Eu tenho dito que o Banco do Nordeste vai voltar a emprestar dinheiro para Estado ou cidade que tenham capacidade de endividamento. Não tem sentido recusar emprestar dinheiro para Estado ou cidade com capacidade de endividamento. Isso também vale para o BNDES."

Nesta segunda-feira, durante cerimônia de posse de Aloízio Mercadante como presidente do BNDES, Lula afirmou que não havia uma justificativa para a atual taxa de juros e cobrou um posicionamento da classe empresarial. Lula chegou a afirmar que, no seu mandato, poderia rever o atual modelo de autonomia do Banco Central.

"Como vou pedir que os empresários ligados à Fiesp invistam se eles não conseguem tomar dinheiro emprestado? Esse país tem cultura de viver com juros altos. Quando o Banco Central era dependente de mim, todo mundo reclamava. A taxa a 10% era muito. Não existe justificativa para que a taxa de juros esteja a 13,75%. Se a classe empresarial não se manifestar, eles (Copom, órgão do BC que define a taxa) não vão baixar juros."

No último mês, em entrevista à GloboNews, Lula criticou a autonomia do Banco Central e classificou como “uma bobagem” o sistema em que o chefe da autoridade monetária cumpre mandato – esse é o primeiro governo em que o presidente da república não indicou ninguém para o cargo. Na ocasião, Lula questionou de que serve a independência se a inflação e taxa de juros estão elevadas.

Nesta terça-feira, o petista voltou a criticar a independência do BC e afirmou que as pessoas que acreditavam que isso ia mudar “alguma coisa no Brasil” precisam “ficar de olho se vale a pena ou não”.

"Eu acho que as pessoas que acreditavam que a independência do Banco Central ia mudar alguma coisa no Brasil, que os juros ia ser menor, as pessoas que tomaram essa posição é que tem que ficar olhando se valeu a pena ou não."

Lula pode mudar regras do Banco Central? Veja como são escolhidos os diretores

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralGoverno LulaRoberto Campos NetoSelic

Mais de Brasil

'Tentativa de qualquer atentado contra Estado de Direito já é crime consumado', diz Gilmar Mendes

Entenda o que é indiciamento, como o feito contra Bolsonaro e aliados

Moraes decide manter delação de Mauro Cid após depoimento no STF

Imprensa internacional repercute indiciamento de Bolsonaro e aliados por tentativa de golpe