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Crise política bate à porta de Michel Temer

A crise se assentuou com a demissão de Geddel Vieira Lima, que era o principal negociador do governo com o Congresso

Temer: as tensões políticas também aumentam pela assinatura iminente de um acordo de delação entre a justiça e membros da construtora Odebrecht (./Getty Images)

Temer: as tensões políticas também aumentam pela assinatura iminente de um acordo de delação entre a justiça e membros da construtora Odebrecht (./Getty Images)

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AFP

Publicado em 25 de novembro de 2016 às 17h53.

O influente ministro brasileiro Geddel Vieira Lima, encarregado da articulação política do governo, apresentou sua renúncia nesta sexta-feira após denúncias por tráfico de influências que apontam para o próprio presidente Michel Temer.

Depois da "mais profunda reflexão (...) apresento aqui este meu pedido de exoneração do honroso cargo" de secretário do Governo, indicou em carta dirigida a Michel Temer, e divulgada à imprensa.

Geddel Vieira Lima é o sexto ministro a sair do gabinete de Temer desde que o então vice assumiu provisoriamente em maio, e de forma definitiva em agosto. E em todos os casos a sombra da corrupção se aproximou.

A crise explodiu quando o ministro da Cultura, Marcelo Calero, renunciou, na semana passada, acusando Vieira Lima de tê-lo pressionado para que o Instituto do Patrimônio Histórico (Iphan), subordinado a sua pasta, aprovasse um projeto imobiliário em Salvador, onde possui um apartamento.

E em uma declaração à Polícia Federal divulgada à imprensa na quinta-feira, Calero disse que o próprio Temer o havia pressionado para solucionar o caso.

O presidente negou através de seu porta-voz ter "pressionado" qualquer um de seus ministros "a tomar alguma decisão que ferisse as normas internas ou suas convicções". Segundo o site G1, Calero "gravou a conversa" com Temer.

"O ministro Calero se excedeu (...), pelo que se comenta, nisso de voltar a ver o presidente da República para tratar de um assunto que já havia tratado, levando um gravador, o que também é um crime", disse o ministro da Defesa, Raul Jungmann em entrevista à AFP.

"Os feitos vão deixar bem claro que o presidente Temer jamais iria impor ou faria com que um subordinado deixasse de cumprir a lei", acrescentou.

A oposição anunciou que estuda apresentar um pedido de impeachment de Temer.

A renúncia de Vieira Lima "não elimina a necessidade de investigar atos irregulares cometidos por ele, por outros ministros ou pelo próprio presidente Temer", segundo uma carta enviada à Advocacia-Geral da União pela liderança da bancada dos deputados do PT.

Políticos sob suspeita

Geddel Vieira Lima, de 57 anos, do PMDB-BA, era o principal negociador do governo com o Congresso, onde está tramitando um pacote de duras medidas de austeridade para limpar as contas públicas, recuperar a confiança dos investidores e tentar tirar o país de sua pior recessão em mais de um século.

As tensões políticas vão aumentando pela assinatura iminente de um acordo de delação entre a justiça e membros da construtora Odebrecht, uma das maiores envolvidas no megaescandâlo da Petrobras, que poderia envolver altos funcionários de todo espectro político.

Os deputados decidiram na quinta-feira adiar para a próxima semana a discussão de um pacote de medidas anticorrupção, diante da suspeita de que, na realidade, buscavam aprovar rapidamente uma autoanistia que os livre da tormenta que pode vir com as denúncias dos executivos da Odebrecht.

A renúncia de Vieira Lima se refletiu nos mercados. Às 12H45 (de Brasília), o Ibovespa operava estável (-0,08%), depois de ter caído mais de 1% e o real se recuperava em relação ao dólar, com uma baixa de 0,7%, depois de ter caído mais de 1,3%.

"É tudo consequência deste quadro político. Se vê muita instabilidade, não se sabe o que vai acontecer. E como o mercado vive destes rumores, reage com quedas diante desse cenário instável", comentou à AFP o analista Cláudio Oliveira, da Corretora Futura em São Paulo.

"Como os investidores reagiriam a uma nova queda de um governo no Brasil?", questiona.

A saída de Vieira Lima foi precedida pela do próprio Calero e pelas dos titulares de Planejamento, Transparência e Turismo, que renunciaram no primeiro mês de gestão por envolvimento com o Petrolão, e a do Advogado Geral da União, que foi afastado em setembro.

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