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Crise da água em SP mostra disparidade entre pobres e ricos

Embora áreas ricas não sejam imunes à escassez e nem todas as áreas pobres registrem falta d’água, o impacto que estas regiões sofrem tem sido desproporcional


	Torneira pingando: moradores que ganham menos de R$ 3.620 têm probabilidade duas vezes maior de terem passado por cortes de água
 (sxc.hu)

Torneira pingando: moradores que ganham menos de R$ 3.620 têm probabilidade duas vezes maior de terem passado por cortes de água (sxc.hu)

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Da Redação

Publicado em 22 de dezembro de 2014 às 16h55.

São Paulo - Há dias em que Izilda Aparecida tem a sorte de conseguir beber água da torneira. Como ela administra então um lava-rápido? Ela teve que fechar seu pequeno negócio neste mês até o serviço de água retornar.

Do outro lado da região metropolitana de São Paulo, no distrito financeiro do Itaim, na maior cidade da América do Sul, Luiz Antonio Navarro não vê menos Audis e outros carros de luxo na fila para limpeza e polimento.

As diferentes experiências dos bairros - um pobre e o outro rico - na mesma megacidade ilustram a disparidade enfrentada pelos 20 milhões de habitantes de São Paulo em meio à pior seca do Brasil em oito décadas.

“Eu não tinha ideia de que uma cidade tão grande pudesse ter tantos problemas de água”, disse Natália Paula, 19, que comprou um tanque de armazenamento há dois meses, quando o racionamento chegou ao seu bairro. “Imagine ir cozinhar para os seus filhos e não sair água da torneira. Eu fiquei desesperada”.

Embora os bairros mais ricos não sejam imunes à escassez e nem todas as áreas de baixa renda registrem falta d’água, o impacto sofrido pelos pobres e pela classe média baixa está sendo desproporcional.

Os moradores que ganham menos de R$ 3.620 (US$ 1.359) por mês - ou cinco vezes o salário mínimo - têm uma probabilidade duas vezes maior de terem passado por cortes de água do que as pessoas que ganham o dobro desse valor, segundo uma consulta do instituto de pesquisas Datafolha divulgada em outubro.

Racionamento

Embora diga que não está racionando dentro dos limites da cidade, a Companhia de Abastecimento do Estado de São Paulo, conhecida como Sabesp, está reduzindo a pressão da água à noite para evitar vazamentos e economizar água.

Isso significa que a água não está chegando à periferia, onde estão as pontas das redes de abastecimento - nem a bairros elevados e a empresas de distribuição de outras cidades que dependem da água da Sabesp -. A empresa aconselha que as pessoas mantenham caixas d'água em suas residências.

Isso não ajudou Izilda, que mora na área de Guarulhos, onde as favelas se espalham pelo horizonte. A empresa de distribuição da cidade, a SAAE, tem dito desde o início do ano que não recebe água suficiente da Sabesp para atender a demanda. Quando a caixa d'água de Izilda secou, ela fechou seu lava-rápido, sua única fonte de renda, enquanto o serviço de água não retornar.

“O racionamento está ocorrendo, não importa o que digam as autoridades” da cidade de São Paulo, disse ela.

A quem culpar?

Quando os reservatórios secaram, a presidente Dilma Rousseff e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do PSDB, de oposição, discutiram antes das eleições de outubro sobre de quem era a culpa. Só depois de reeleitos que ambos prometeram cooperar e assinaram contratos para obras de interligação de sistemas de água. Dilma Pena, presidente da Sabesp, disse que não ter pressionado por uma economia maior foi um “erro”, segundo o áudio de uma reunião interna divulgado em outubro pelo jornal Folha de S. Paulo.

“Nós deveríamos ter dito na mídia, como um tema repetitivo, ‘cidadão, economize água’”, disse Pena. “Mas a gente tem que seguir a orientação”.

A Sabesp, empresa da qual o estado de São Paulo é sócio majoritário, disse em um comunicado enviado por e-mail na época que os comentários da executiva foram feitos em uma reunião interna sobre estratégias de comunicação.

O jornal O Estado de S. Paulo informou no dia 20 de dezembro que Pena está de saída do cargo por motivos de saúde.

Vazamentos

O governo poderia ter se esforçado mais para interromper os vazamentos do sistema de águas, disse Leo Heller, relator especial da ONU para o Direito à Água e ao Saneamento. Cerca de 31 por cento da água tratada escapa do sistema da Sabesp -- mais de um terço devido a encanamentos ilegais.

“Essa falta d’água não ocorreria se houvesse um planejamento melhor”, disse Heller, em entrevista por telefone.

Na semana passada, o governo Alckmin anunciou que multará os usuários cujo consumo de água aumentar. O governo também planeja distribuir gratuitamente tanques de água e kits para evitar o gotejamento de torneiras. A assessoria de imprensa dele não respondeu a um pedido de comentário.

A assessoria de imprensa de Dilma Rousseff encaminhou as perguntas à Sabesp e a Alckmin, dizendo em um comunicado que os recursos hídricos “são de responsabilidade dos estados e municípios”.

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