Pré-natal online e live de parto: maternidades inovam durante a pandemia
Maternidades particulares adotaram algumas das medidas tecnológicas para evitar o risco de infecção por coronavírus
Estadão Conteúdo
Publicado em 27 de julho de 2020 às 13h05.
Última atualização em 27 de julho de 2020 às 16h10.
Os corredores, sala de espera e quartos de uma maternidade costumavam ser locais de encontros e abraços. Com a pandemia , essas cenas ficaram no passado e protocolos de distanciamento e restrição de visitas foram implementados.
Visita virtual, pré-natal online e transmissão do parto foram algumas das medidas tecnológicas adotadas pelas maternidades. Algumas também estão testando gestantes e acompanhantes e criando alas exclusivas para pacientes com coronavírus.
"Resolvemos fazer releituras, porque não íamos permitir que esse momento da pandemia fosse vivido sem uma solução para os pacientes e famílias. É um momento de imensa alegria e trabalhamos para trazer acolhimento e humanização", diz Rodrigo Buzzini, diretor médico do Grupo Santa Joana.
Se antes as gestantes visitavam a maternidade para conhecer as instalações e tirar dúvidas, agora esse processo é virtual. Embora as principais consultas do pré-natal tenham sido mantidas na modalidade presencial, também é possível fazer parte do seguimento online.
"Nossa plataforma de telemedicina não substitui a consulta presencial, mas permite ter contato com a paciente. Na consulta online, consigo saber quem é ela, fatores de risco, quais exames deve fazer e trazer. É um cuidado quase artesanal."
Grávida de seis meses de Henri, seu segundo filho, a publicitária Yasmin Vaz, de 28 anos, está fazendo o pré-natal online e aprovou a opção. "O momento não é o melhor do mundo e a gente estava muito preocupado por não ter o acompanhamento. As consultas presenciais são inevitáveis, mas vou fazer as virtuais quando for possível. Foi muito prático e o médico foi muito atencioso", conta ela.
A servidora pública Erica Ticiani Santana da Silva, de 39 anos, diz que a filha, Malu, nasceu "no olho do furacão" no dia 1º de junho. A pandemia mudou todos os seus planos. "Tinha me planejado para fazer uma visita presencial à maternidade, mas, por causa da pandemia, os hospitais fecharam o serviço. Fiz a virtual e foi ótimo. Depois, ainda liguei na central para tirar outras dúvidas. Foi criado um grupo de gestantes, a gente recebia informações sobre lives e conteúdos para as mães", diz.
Embora as evidências científicas não sejam definitivas, gestantes são do grupo de risco para complicações da covid, segundo o Ministério da Saúde.
Como as grávidas não podem participar de rodas de conversa ou se encontrar para atividades, a maternidade fez a ponte por grupos online. "Uma paciente que ganha bebê pode postar a foto dele. É uma construção positiva para que tenham a sensação de mais calor humano e proximidade. Nossas enfermeiras participam das interações técnicas", diz Buzzini.
"Tenho certeza de que a Malu veio para chegar em um mundo melhor. Apesar de toda essa loucura, tem de tirar um lado positivo de tudo. Continuo no grupo, porque quero mais informações, saber o que as outras mães fizeram", afirma Erica.
Desde março, visitas à unidade Itaim do Hospital e Maternidade São Luiz só podem ser virtuais e um recurso existente há dez anos, o Baby Web - tipo de live do parto -, foi resgatado e tem ajudado avós, tios e outros parentes a verem os primeiros momentos de vida do bebê.
"Tivemos de restringir a visita dos avós, que movem mundos e fundos para estar lá. A gente revisitou o Baby Web, que não permite falar, mas tem um chat e os pais podem ver mensagens depois. Não tem limite de pessoas, o limite é para quem a família entrega a senha. É discreto, não mostra a saída do bebê, mas quando faz o pele a pele. Temos câmeras em todas as salas de parto", diz Marcia Costa, diretora médica da unidade. Em fevereiro, 16% dos partos aderiram à ferramenta. O número passou para 20% em março e chegou a 30% em junho.
Cursos para pais também foram para o online. Em vídeo de 40 minutos, são tiradas dúvidas sobre trabalho de parto, amamentação e técnicas de banho.
Alas exclusivas
Para oferecer mais segurança ao bebê, profissionais de saúde e demais pacientes, algumas maternidades estão testando gestantes e acompanhantes dias antes da data provável do parto. O exame possibilita separar em alas diferentes gestantes infectadas das que testaram negativo.
"A gente testa todas as pacientes e acompanhantes. Quando o convênio não cobre, a gente arca com o teste. Existe um andar só para casos de covid, a sala é preparada e todos usam EPI (Equipamento de Proteção Individual)", comenta Marcia Costa, diretora médica do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim.
"Depois do parto, a mãe e o bebê ficam em alojamento conjunto com berço a dois metros de distância. A coleta do exame no bebê é feita seis horas após o nascimento." Na saída da maternidade, a equipe de controle de infecção hospitalar dá orientações para a mãe que foi infectada pelo vírus e ela continua recebendo ligações até 15 dias após o parto para que o hospital possa monitorar a evolução do caso.
O Hospital Israelita Albert Einstein também testa todas as gestantes, de dois a três dias antes da data provável do parto. O exame é pago pelo hospital e, quando o resultado vem positivo, a paciente é encaminhada para um setor exclusivo.
"O centro obstétrico e o centro de parto natural estão dedicados somente a gestantes que não têm covid. Já aquelas que testam positivo fazem o parto em uma sala do centro cirúrgico que adaptamos para isso, com pressão negativa e filtro que reduz o risco de contaminação para profissionais de saúde e para o acompanhante", explica Linus Pauling Fascina, gerente do Departamento Materno Infantil do Albert Einstein. Os quartos de internação para gestantes com covid também ficam em ala separada e contam com a mesma tecnologia que reduz o risco do vírus se disseminar.
O especialista diz que o centro cirúrgico voltado para gestantes com covid está preparado para fazer também partos normais. A modalidade, inclusive, vem crescendo no hospital após a pandemia. "Aprendemos ao longo da pandemia que, mesmo para gestantes com covid, o parto normal é melhor. Procedimentos cirúrgicos estão associados a mais riscos", afirma. O porcentual de partos normais realizados na instituição passou de 33% antes da pandemia para atuais 40%.
O hospital inicialmente proibiu as visitas, mas agora tem horários reduzidos e número limitado de visitantes. Fotógrafos e doulas foram treinados pela instituição quanto a procedimentos de segurança. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.