Chaminé em plataforma de petróleo da Petrobras: um dos documentos registra repasses milionários de um suposto esquema que abastecia candidatos e financiava campanhas (Sérgio Moraes/Reuters)
Da Redação
Publicado em 12 de abril de 2014 às 18h02.
Brasília - Considerado o "homem bomba" por suas conexões com o mundo político e negócios escusos com a Petrobrás, o ex-diretor de abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa tinha por hábito anotar de próprio punho todas as informações acerca de seus negócios.
A PF encontrou na casa dele 36 pen drives, além de agendas e cadernos que revelam negócios suspeitos investigados na Operação Lava Jato.
Um desses documentos, revelado pelo Bom Dia Brasil da TV Globo na última sexta-feira, registra repasses milionários de um suposto esquema que abastecia candidatos, numa espécie de mensalão, e financiava campanhas políticas.
Entre os papéis, a PF encontrou, conforme reproduzido pela reportagem, uma tabela dividida em três colunas.
A primeira com nome de grandes empresas, a segunda com os executivos responsáveis pelas empresas e a terceira, intitulada 'Solução', subdividida em frases como: 'Está disposto a colaborar', 'Já está colaborando, mas vai intensificar para campanha a pedido de PR' e 'Já teve conversa com candidato e vai colaborar a pedido do PR'. A sigla seria uma referência a Paulo Roberto, na interpretação dos investigadores.
Conforme o Bom Dia Brasil, que teve acesso ao documento, após esse período, a Costa Global, empresa de Paulo Roberto, passou a ter em caixa mais de R$ 4 milhões, US$ 1 milhão e 314 mil Euros.
AGENDA
A revista Veja, que começou a circular ontem, mostra outro documento apreendido na casa e no escritório de Paulo Roberto, sem identificação da fonte dos recursos, em que ele descreve supostos pagamentos ao Partido Progressista (PP) no valor de R$ 28,5 milhões; sendo que R$ 7,5 milhões seriam para o diretório nacional do partido, conforme entendimento da Polícia Federal.
Siglas também indicam, para os investigadores, que recursos foram repassados aos deputados Nelson Meurer (PP-PR) e João Pizzolati (PP-SC). Os recursos viriam de empresas fornecedoras da Petrobrás onde Paulo Roberto atuou de 2003 a 2012 por indicação inicialmente do PP e, mais tarde, do PMDB e PT.
A revista menciona, ainda, os ex-deputados Pedro Henry (PP-MT) e Pedro Corrêa (PP-PE), ambos condenados no esquema do mensalão. O segundo teria recebido R$ 100 mil do doleiro.
A arrecadação dos recursos, conforme os documentos da operação obtidos pela revista, consistia na "contratação" da consultoria de Paulo Roberto por fornecedores da Petrobrás e, num segundo passo, na lavagem do dinheiro pelo doleiro Alberto Youssef. Ambos estão presos desde o mês passado, na superintendência da PF em Curitiba.
As relações do doleiro com políticos já levaram a abertura de pedido de cassação de mandato no conselho de ética da Câmara do deputado André Vargas (PT-PR). Diálogos mostram relação estreita entre os dois e atuação no Ministério da Saúde.
Paulo Roberto deverá ser ouvido nos próximos dias pela comissão externa da Câmara que acompanha as investigações sobre irregularidades na Petrobrás. A comissão, contudo, não tem poderes para aprofundar as apurações do caso. Nas próximas semanas, o Supremo Tribunal Federal (STF) irá decidir se o Congresso tem direito a criar uma CPI exclusiva para investigar a Petrobrás.