Coronavírus não detém madeireiros e desmatamento no Brasil aumenta
A destruição na porção brasileira da Amazônia subiu 30% em março na comparação com o ano passado, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
Carolina Riveira
Publicado em 10 de abril de 2020 às 13h16.
Última atualização em 10 de abril de 2020 às 13h21.
O desmatamento na floresta amazônica do Brasil aumentou em março, mostraram dados do governo nesta sexta-feira, 10, o que indica que os madeireiros ilegais e especuladores de terra não se detiveram nem com a chegada da epidemia de coronavírus.
A destruição na porção brasileira da Amazônia subiu 30% no mês passado na comparação com o mesmo mês do ano passado, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ( Inpe ).
Nos três primeiros meses de 2020, o desmatamento na Amazônia cresceu 51% em relação a um ano atrás e chegou a 796 quilômetros quadrados, uma área aproximadamente do tamanho da cidade de Nova York.
O Brasil confirmou o primeiro caso do novo coronavírus em 28 de fevereiro, e a doença chegou à região amazônica em meados de março. As autoridades do Amazonas, o maior Estado da região da floresta amazônica, alertaram na quarta-feira que o sistema de saúde local já está quase no limite de sua capacidade com cerca de 900 casos confirmados do vírus.
A epidemia de coronavírus colocou em suspenso quase todos os segmentos da economia do país, mas não a destruição ambiental, disse Carlos Nobre, cientista da Universidade de São Paulo (USP) especializado em sistemas da Terra.
"Os dados não mostram um impacto forte como estamos vendo em todos os setores da economia", explicou. "Não estamos vendo isso com o desmatamento, que continua alto."
No mês passado, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis ( Ibama ) disse estar enviando menos agentes de campo para combater crimes ambientais, como o corte ilegal de madeira, o que leva pesquisadores a temerem que o desmatamento crescerá de maneira desenfreada. O Ibama disse que os cortes serão feitos em outros locais e não afetarão a Amazônia.
O policiamento reduzido e uma recessão provável, que levará mais pessoas a praticar atividades ilegais para terem renda, podem intensificar a devastação, alertou Carlos Souza Jr., pesquisador da entidade sem fins lucrativos Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
"Existe o risco de o coronavírus e a Covid-19 criarem condições para mais desmatamento", disse Souza. "Só tivemos três semanas e meia de isolamento social... ainda é cedo demais para julgar."
O desmatamento aumentou desde o ano passado, quando o presidente Jair Bolsonaro tomou posse – ambientalistas dizem que suas políticas estão incentivando os madeireiros ilegais, fazendeiros e especuladores.
A disparada na destruição provocou críticas globais a Bolsonaro, já que a preservação da Amazônia é considerada vital para conter as emissões dos gases estufa que causam o aquecimento climático.
O lobby do agronegócio argumenta que o desmatamento é cometido por criminosos com laços tênues com a agricultura, mas mesmo assim teme que este prejudique a imagem dos produtos agrícolas brasileiros em todo o mundo, disse Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio.
A elevação do desmatamento durante a estação chuvosa, que normalmente dura até abril, é um sinal perturbador, disse Brito. "Sabemos que, onde você tem desmatamento na estação chuvosa, isso se transformará em incêndios na estação seca para limpar a área, então isso é muito preocupante."