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Controle do Cade, que regula concorrência, opõe Paulo Guedes e Sérgio Moro

Conselho Administrativo de Defesa Econômica tem ligação com Lava Jato e está na Justiça, área de Sérgio Moro, mas superministro da Economia mostra interesse

Paulo Guedes e Sérgio Moro (Montagem de EXAME com fotos de Sérgio Moraes e Rodolfo Buhrer/Reuters)

João Pedro Caleiro

Publicado em 12 de novembro de 2018 às 15h55.

Última atualização em 12 de novembro de 2018 às 16h19.

Seis cargos importantes ficarão vagos no ano que vem e serão alvo dos dois superministros do presidente eleito, Jair Bolsonaro: Sérgio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia).

Em 2019, terminam os mandatos de quatro dos seis conselheiros do Conselho Administrativo de Defesa Econômica ( Cade ), além do superintendente-geral e do procurador-geral.

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O órgão responsável pela concorrência é, formalmente, vinculado à Justiça. Tradicionalmente, tanto a pasta quanto a área econômica submetem nomes para o conselho ao presidente da República, que é o responsável pelas indicações, que passam pelo Senado antes da nomeação efetiva. Fazenda e Justiça costumavam se revezar nas indicações, mas, no governo do presidente Michel Temer, alguns dos nomes indicados partiram da ala política, de parlamentares e aliados.

A área interessa a Guedes, que colocou assessores para esboçar planos para aumentar a concorrência na economia brasileira. O órgão, porém, tem também uma relação próxima à Lava Jato, que tornou famoso o juiz Moro. Mais de 30 processos da operação estão sob investigação no conselho.

A movimentação de Guedes, que delegou a área a economistas ligados ao Instituto de Política Econômica Aplicada (Ipea), se deu sob o pressuposto de que o Cade seria uma área de influência de seu ministério, antes de se confirmar que a Justiça também ganharia o superministro Moro.

“A lei prevê que o conselho é ligado à Justiça. Com Guedes na economia, haverá duas dimensões que poderão se arranjar e dividir as indicações ou poderá haver uma disputa. Com uma nova elite política assumindo o poder, acho mais provável a segunda hipótese”, disse ao Estadão/Broadcast um advogado e ex-integrante do conselho, que preferiu não se identificar.

Segundo integrantes da equipe de transição ouvidos pela reportagem, Guedes já determinou que indicações que saiam do ministério para órgãos como o Cade responderão a critérios técnicos.

Para a concorrência, especificamente, a equipe trabalha com o fortalecimento da pauta liberal, defendida pelo ministro, com o fomento à competição e a redução da regulação, principalmente em áreas como combustíveis e energia elétrica.

Multas

Outra questão que poderá ser revista no novo governo é o valor das multas cobradas de empresas que prejudicaram a concorrência, um tema que vem sendo debatido em quase todas as sessões do Cade e divide a atual composição. A avaliação de fontes ligadas à equipe é que, no governo Bolsonaro, poderá aumentar o valor das multas cobradas pelo Cade. Nesta semana, o juiz Sérgio Moro defendeu penas mais duras, o que pode ser um indicativo também para esse setor.

Para o professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ricardo Ruiz, ex-integrante do Cade, as leis que regem o órgão e a jurisprudência do conselho são consolidadas e evitam que novas indicações mudem radicalmente a atuação da autarquia. Ele disse ainda que o perfil pró-mercado que Bolsonaro pretende adotar tende a fortalecer o papel do Cade.

“Liberais em tese têm mais desconforto com monopólios e cartéis, que fragilizam o que é mais importante para eles, que “Liberais têm mais desconforto com monopólios e cartéis, que fragilizam o que é mais importante para eles, que é a concorrência.” Ricardo Ruiz EX-INTEGRANTE DO CADE é a concorrência. Uma agência antitruste é parte importante dessa política econômica porque, se fragilizar a concorrência, você torna o capitalismo menos eficiente”, disse.

Entre julho e setembro do próximo ano, vencem os mandatos dos conselheiros Polyanna Vilanova, João Paulo de Resende, Paulo Burnier e Cristiane Alkmin. Em outubro, acabam os do superintendente-geral, Alexandre Cordeiro - que é o responsável pelas investigações de cartéis e condutas anticompetitivas, incluindo as da Lava Jato -, e o do procuradorgeral, Valter Agra. Os dois últimos ainda podem ser reconduzidos.

Guedes e Moro não responderam os questionamentos da reportagem. O Cade informou que as alterações na composição do conselho “não terão reflexo na continuidade do trabalho atualmente realizado e tampouco comprometerão a excelência da atuação dos servidores e colaboradores do órgão”.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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