Contra CUT, Temer apela a UGT e Força por reformas
Até o ministro da Fazenda deverá conversar com sindicalistas aliados para barrar eventual impacto negativo das propostas entre os trabalhadores
Estadão Conteúdo
Publicado em 14 de novembro de 2016 às 08h30.
São Paulo - O presidente Michel Temer mobiliza a Força e a União Geral dos Trabalhadores (UGT) para tentar rachar o movimento sindical, reduzir a oposição às reformas da Previdência e trabalhista e esvaziar ações contra o governo planejadas pela Central Única dos Trabalhadores ( CUT ), a maior central brasileira e ligada ao PT.
Até o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, deverá conversar com sindicalistas aliados para barrar eventual impacto negativo das propostas entre os trabalhadores.
O governo espera que as duas centrais, que juntas superam a CUT em número de sindicatos filiados, ajudem ao menos a "embalar" o discurso sobre a necessidade das reformas. Em troca, o Planalto deverá ceder às reivindicações dos aliados e ampliar seus espaços na gestão.
Após ser recebido em audiência privada de 40 minutos com Temer na quarta-feira, 9, o presidente da UGT, Ricardo Patah, saiu do encontro com o compromisso de levar Meirelles a uma plenária na sede da entidade em São Paulo. A exemplo do titular da Fazenda, Patah é filiado ao PSD de Gilberto Kassab, atual ministro de Ciência, Tecnologia e Comunicações.
"Faremos o encontro daqui a uns dez dias. Será uma reunião grande. O Michel gostou da ideia. Ele quer que o debate com a equipe econômica não se limite ao meio empresarial. A sociedade tem de participar", afirmou Patah ao jornal O Estado de S. Paulo.
"Vou chamar todos os presidentes estaduais para acompanhar a fala do ministro Meirelles. Vamos nesse diálogo superar as dúvidas sobre a retirada de direitos. Nossa relação com o governo é respeitosa. Não vamos ser contra apenas por sermos contra", disse Patah. A assessoria de Meirelles informou que o encontro com os sindicalistas ainda não foi marcado.
Patah disse também que Temer pretende enviar a reforma da Previdência ao Congresso Nacional no dia 3 de dezembro e a trabalhista no começo do próximo ano.
O primeiro triunfo da estratégia do presidente já foi obtido com o esvaziamento do chamado Dia Nacional de Greve, promovido pela CUT na sexta-feira.
A UGT e a Força optaram por não participar. Em vez disso, marcaram uma manifestação para o próximo dia 25. "Nós falamos para a CUT que não iríamos, e a data era dia 25.
Até porque a data de hoje (sexta-feira) ia ter 'fora, Temer', e isso para a gente é coisa do passado", afirmou o deputado Paulinho da Força (SD-SP).
A manifestação do dia 25 vai tratar de dois temas que, na avaliação do Planalto, serão definidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF): a terceirização e a prevalência do acordado sobre o legislado em questões trabalhistas.
A expectativa da equipe econômica é de que pelo menos metade da reforma trabalhista seja resolvida na Justiça, o que eliminaria dois problemas: livraria o governo Temer do desgaste e esvaziaria a oposição.
"Não há a possibilidade de se fazer greve geral. Iríamos ficar na rua falando de greve geral e o povo trabalhando. Para se fazer greve, você tem de ter motivo. E não temos", disse Paulinho.
Aliados
Juntas, a UGT e a Força têm 2.892 entidades, contra 2.319 da CUT, que reúne mais de 30% dos sindicalizados. Incentivadas pelo Planalto, Força e UGT cogitaram até uma fusão há alguns meses, mas a ideia, por enquanto, não avançou.
Segundo um interlocutor do governo no Congresso, a ideia é que as entidades cumpram na gestão Temer o mesmo papel que a CUT exerceu nos governos do PT: críticas pontuais combinadas com o apoio institucional e veto ao "fora, Temer".
"Estaremos em contato com as centrais sindicais para dirimir quaisquer arestas que tiverem na proposta de reforma trabalhista que o governo pretende encaminhar. E aí estão incluídas todas elas, até mesmo a CUT, se quiser conversar", disse ao Estado o ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima.
Pressão
Enquanto recebe o apoio dessas duas centrais na base, Temer é pressionado a aumentar o espaço na administração federal dos partidos ligados à Força e à UGT.
Líder da Força, Paulinho quer que a Secretaria de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário, atrelada à Casa Civil, volte a ter status de ministério.
"Houve um compromisso do presidente Michel Temer de transformar em ministério. Ele nos pediu para aguardar um pouco e estamos aguardando que ele nos chame", disse.
Antes mesmo de o governo atender ao pedido de Paulinho e criar secretarias ligadas à Casa Civil para tratar de questões fundiárias, o presidente do Solidariedade já havia indicado ao Planalto os nomes para ocupar diversas posições no governo.
Oposição
Dirigentes de centrais da oposição consideram que tanto a Força Sindical quanto a União Geral dos Trabalhadores (UGT) têm agido de forma dúbia para evitar a perda de apoio na base em função da aproximação com o governo Michel Temer.
Eles citam como exemplo a reunião entre as entidades para a realização de uma greve geral, programada para sexta-feira, 11.
Um sindicalista da Central Única dos Trabalhadores (CUT) disse que os presidentes da Força e da UGT chegaram a afirmar que estavam participando da reunião para sinalizar a seus associados que apoiavam o ato, mas informaram na ocasião que não iriam participar, como de fato aconteceu.
O deputado Paulinho da Força (SD-SP), presidente da Força, afirmou que na reunião ficou definido o dia 25 como o dia do ato nacional pela garantia dos direitos trabalhistas.
A data, segundo ele, foi decidida entre diretores de todas as entidades, mas a CUT foi pressionada pela base a antecipar o ato.
Adilson Araújo, presidente da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), ligada ao PCdoB, mas com presença também do PDT e PT, disse à reportagem que o alinhamento da UGT e Força com governo não tem respaldo das bases.
"Vamos disputar essas bases. O trabalhador não foi consultado sobre a aproximação da Força e UGT com o governo." Adilson afirmou que a CTB e as demais centrais também querem manter o diálogo aberto com o governo.
Críticas
Em discurso nas plenárias sindicais da Força, o metalúrgico Miguel Torres, vice-presidente da entidade, subiu o tom contra o governo Temer para evitar uma migração de sindicatos para a CUT.
"Não vamos admitir perda de direitos. O governo precisa tomar algumas providências antes das reformas, como taxar grandes fortunas, lucros e dividendos."
A CUT afirmou que já há migração de sindicatos para a sua base. Paulinho, porém, negou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.