Consumo de álcool cai no país, mas deve voltar a subir até 2025, prevê OMS
O consumo total de álcool por pessoa no Brasil caiu de, em média, 8,8 litros por ano em 2010 para 7,8 litros em 2016
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de setembro de 2018 às 14h35.
Última atualização em 21 de setembro de 2018 às 15h11.
Genebra - O consumo de bebidas alcoólicas no Brasil sofreu uma queda entre 2010 e 2016, mas ainda é responsável por um número importante de mortes no País. A tendência de redução, porém, corre o risco de ser revertida e aumentar até 2025. Os dados constam de relatório publicado nesta sexta-feira, 21, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em seu levantamento anual do impacto das bebidas alcoólicas no mundo.
O consumo total de álcool por pessoa no Brasil caiu de, em média, 8,8 litros por ano em 2010 para 7,8 litros em 2016. No mundo, a média é de 6,4 litros por pessoa por ano. Na Europa, continente onde o consumo é o maior, a taxa chega a 9,8 litros. Mas o volume caiu em 10% desde 2010.
A diferença entre homens e mulheres brasileiras é profunda. Em 2016, um homem bebia no País em média 13 litros de álcool por ano. Entre as mulheres, a média era de apenas 2,4 litros. A cerveja representa 62% de tudo o que é bebido no Brasil. Os destilados respondem por 34% e o vinho por apenas 3%.
Os últimos dados da OMS indicam que 1,4% da população brasileira era dependente do álcool, 59% afirmaram não terem bebido nos últimos 12 meses e 21%, que nunca bebem. Ainda assim, 6,9% das mortes no Brasil tem uma relação direta com o álcool.
Estimativa de alta
A OMS estima que medidas de prevenção adotadas nos últimos anos podem influenciado na queda do consumo brasileiro entre 2010 e 2016. Mas considera que a recessão na economia brasileira a partir de 2014 e a estagnação nos anos anteriores podem ter contribuído. O temor da entidade é que essa queda no consumo possa ser revertida até 2025 com uma eventual retomada do crescimento. De acordo com a OMS, há o risco de que a taxa volte a subir para 8,3 litros.
Para a organização, esse movimento de alta é esperado para o mundo todo nos próximos dez anos. Em todo o planeta, a entidade estima que 3 milhões morrem por ano por doenças ou acidentes relacionados com o álcool. Isso representa uma em cada 20 mortes. Para a entidade, a meta de reduzir o consumo em 10% até 2025 pode não ser atingida, diante do aumento dos índices em vários países, entre eles os das Américas.
O impacto tem sido maior em locais onde os recursos para saúde são mais escassos. Mais de três quartos dessas mortes ocorrem entre homens. Do total de mortes atribuídas à bebida, 28% estão relacionadas com acidentes ou violência; 21% delas têm relação com desordens digestivas e 19% com doenças cardiovasculares.
"Um número muito grande ainda de pessoas sofre as consequências do uso do álcool, por violência, acidentes, problemas de saúde mental e doenças como câncer", disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. "Essa é a hora de agir para prevenir essa ameaça séria à sociedade", disse em coletiva à imprensa.
Apesar de uma tendência positiva no papel dos estados, a OMS considerada que o número de vítimas é ainda "inaceitavelmente alto" na Europa e Américas. No mundo, a estimativa é que 237 milhões de homens e 46 milhões de mulheres sofrem com desordens relacionadas ao consumo.
Hoje, 2,3 bilhões de pessoas bebem álcool no mundo, e a taxa supera a marca de 50% nas Américas e Europa. Em média, cada pessoa bebe por dia o equivalente a dois copos de vinho de 150 ml, ou 750 ml de cerveja. Isso representa 33 gramas de álcool puro por dia.
O que também chama a atenção é que 27% dos adolescentes entre 15 e 19 anos bebem. Na Europa, esse índice chega a 44%. Nas Américas, é de 38%.
Na avaliação da OMS, governos precisam usar de forma mais proativa impostos sobre as bebidas para salvar vidas, além de promover proibições de publicidade.
Copa do Mundo
A entidade criticou o fato de que grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo, são patrocinados por empresas de bebidas, o que permite que a publicidade sobre o álcool seja transmitida para bilhões de pessoas pelo mundo, furando proibições de comerciais nas televisões e regras estabelecidas sobre a publicidade.
No Brasil, a Fifa exigiu que o País suspendesse as regras que impediam a venda de bebidas alcoólicas durante a Copa do Mundo de 2014 nos estádios. Em 2022, o Catar promete também permitir a venda dos produtos e sua publicidade - mesmo com o Corão impedindo que álcool seja consumido no país.
Segundo o representante da OMS Vladimir Poznyak,existe um diálogo entre a organização e as entidades esportivas. Mas ele admite que uma decisão cabe aos organizadores dos eventos esportivos. "Esse patrocínio não é alvo que vemos como positivo", disse.