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Saída de médicos cubanos deixa pequenas cidades sem atendimento

Os cubanos atuavam em sua maioria em áreas pobres e remotas do país. Em muitos desses locais, vão fazer falta

Aeroporto: os primeiros milhares de médicos cubanos começaram a deixar o Brasil e voltar para casa nesta quinta-feira (22) (Adriano Machado/Reuters)

Aeroporto: os primeiros milhares de médicos cubanos começaram a deixar o Brasil e voltar para casa nesta quinta-feira (22) (Adriano Machado/Reuters)

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Reuters

Publicado em 23 de novembro de 2018 às 11h02.

Última atualização em 23 de novembro de 2018 às 11h21.

Brasília — Os primeiros milhares de médicos cubanos começaram a deixar o Brasil e voltar para casa nesta quinta-feira após o governo cubano romper o acordo de cooperação entre os países, deixando milhões de brasileiros sem essa opção de atendimento médico.

O presidente eleito Jair Bolsonaro disse que os médicos cubanos estavam sendo usados como "trabalho escravo" por que o governo cubano tomava 70 por cento de seus salários. Para Bolsonaro, o programa, que começou em 2013, poderia continuar apenas se os profissionais recebessem o pagamento completo e pudessem trazer suas famílias de Cuba.

Bolsonaro, admirador do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi eleito no mês passado por brasileiros angustiados com as altas taxas de criminalidade e com a percepção de que a corrupção atingira níveis altíssimos após quase uma década e meia de governos de esquerda que tinham laços próximos com Cuba.

Os cubanos atuavam, em sua maioria, em áreas pobres e remotas do país, onde médicos brasileiros não querem trabalhar. O governo agora trabalha para substituí-los em 8.332 posições deixadas pelos cubanos que retornam para casa.

Cuba gera receitas com a exportação de mais de 50 mil funcionários da área de saúde para mais de 60 países.

Em muitas cidades brasileiras e nas periferias de cidades que contavam com o apoio de médicos cubanos, as salas de espera normalmente cheias nos postos de saúde estavam vazias nesta semana. Nelas, avisos diziam que consultas haviam sido canceladas.

Adrielly Rodrigues, uma mulher grávida de 22 anos, foi recusada na quarta-feira ao chegar a um posto para um exame pré-natal em Santa Maria, cidade próxima à capital Brasília.

"Estamos muito preocupados por que não temos dinheiro para pagar por um médico particular. Ela está grávida de cinco meses e ainda precisa ser acompanhada e fazer os exames", disse sua mãe, Adriana Rodrigues. Ela acrescentou que a médica de Adrielly era boa mas "ela foi embora agora".

Um lobby nacional de prefeitos, a FNP, e o conselho das autoridades municipais de Saúde Conasems disse, em nota, que 29 milhões de brasileiros poderiam ficar sem atendimento básico de saúde. Essas organizações pediram que o governo torne possível que os cubanos fiquem no país.

O Ministério da Saúde planeja, na semana que vem, abrir mão da exigência de que os cubanos validem seus diplomas médicos no Brasil para que possam continuar trabalhando no país. Para isso, devem ser contratados diretamente pelo governo brasileiro e não mais pela Organização Panamericana de Saúde, que intermediava o contrato com o governo Cubano.

Não está claro quantos cubanos irão querer romper com o programa de exportação de médicos do governo comunista de Cuba, já que o rompimento equivaleria à deserção. Bolsonaro, que assume a Presidência em 1º de Janeiro de 2019, disse, na semana passada, que daria asilo aos cubanos que o requisitarem.

O Brasil espera preencher as vagas com contratações locais. Em apenas dois dias desde que o processo foi aberto, 6.394 médicos se inscreveram para preencher os postos vazios, segundo informou um porta-voz do ministério. Mas as credenciais dos aplicantes ainda tem de ser confirmadas.

Um cubano que ficará no Brasil é Richel Collazo, que é tão querido na pequena cidade de Chapada, no estado do Rio Grande do Sul, que o prefeito local lhe ofereceu o emprego de secretário municipal de Saúde.

"A minha cidade necessita de médicos e ele foi muito importante para o nosso atendimento de saúde", disse o prefeito Carlos Catto à Reuters, por telefone.

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