Presidente Michel Temer (Mario Tama/Getty Images/Getty Images)
Luiza Calegari
Publicado em 29 de março de 2018 às 10h54.
Última atualização em 29 de março de 2018 às 16h11.
São Paulo – A operação Skala, deflagrada pela Polícia Federal nesta quinta-feira (29) está fechando o cerco contra o presidente Michel Temer: até agora, os quatro presos confirmados são amigos do presidente e apontados como seus auxiliares em um esquema de corrupção ligado ao porto de Santos, em São Paulo.
As prisões levantaram preocupação no Planalto: pessoas próximas do presidente temem que a investigação leve a uma terceira denúncia – e, nesse caso, ele não poderia mais culpar o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, como fez nas duas denúncias anteriores. Dessa vez, os pedidos partiram da procuradora-geral da República Raquel Dodge, o que reforça os temores de que uma terceira denúncia esteja a caminho.
Se for esse o caso, as pretensões de Temer de se reeleger também vão por água abaixo.
Na investigação, a PF tenta esclarecer se Temer está envolvido nos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em um esquema de pagamento de propina para conceder vantagens a empresas que atuam no Porto de Santos na edição do decreto dos Portos, em maio do ano passado.
A medida ampliou de 25 para 35 anos os prazos de concessão e arrendamento das empresas que atuam em portos, podendo ser prorrogados por até 70 anos. Isso beneficia as empresas que já são arrendatárias no porto atualmente.
No dia 4 de maio, pouco antes da aprovação da medida, a PF gravou uma conversa telefônica entre Temer e o ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures sobre a edição do decreto. Loures é o mesmo que foi gravado saindo de uma pizzaria de São Paulo com uma mala lotada de dinheiro que, segundo executivos do grupo J&F, seria o pagamento de propina.
José Yunes, ex-assessor e um dos amigos mais próximos do presidente, foi apontado por Lúcio Funaro, delator da Lava Jato, como operador de propinas de Temer. Ele nega. Os dois são amigos há 60 anos.
Em janeiro deste ano, a PF enviou 50 perguntas ao presidente sobre a relação entre ambos e o envolvimento deles na edição do decreto. Em uma delas, perguntou se Temer recebeu recursos via Yunes para editar a medida.
Temer negou, e ainda criticou o questionamento. “Reitero a agressividade, o desrespeito e, portanto, a impertinência, por seu caráter ofensivo, também dessa questão, tal como das anteriores”
A primeira aparição de Yunes no noticiário foi quando o ex-executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho disse que Temer pediu 10 milhões de reais para a campanha do PMDB, e que o dinheiro foi entregue “via Eliseu Padilha”.
Foi Yunes quem levou um pacote da Odebrecht até Padilha. À revista VEJA, Yunes afirmou que não sabia se tratar de dinheiro sujo. “Fui um mula do Padilha”.
À PF, em janeiro, Temer também teve que prestar contas sobre esse caso. “A longa amizade criou um grau de confiança entre nós, de maneira que o Sr. José Yunes me auxiliou em campanhas eleitorais, mas nunca atuou como arrecadador de recursos”, disse o presidente.
O coronel da Polícia Militar é outro dos amigos de longa data de Temer. Em junho do ano passado, a PF encontrou recibos de despesas familiares do presidente no escritório de Lima Filho.
Ele foi citado na Lava Jato pela primeira vez por Ricardo Saud, da JBS, que disse ter mandado entregar 1 milhão de reais em espécie na sede de uma das empresas do militar para a campanha do PMDB, a pedido do próprio Temer.
Em relação ao decreto dos Portos, a PF encontrou mensagens suspeitas no telefone do coronel: em uma, ele estaria acertando uma “gorjeta” com uma interlocutora não-identificada, e, em outra, se refere a “Rodrigo”, que a PF suspeita ser Rocha Loures.
Até agora, ele não tinha ido prestar depoimento à polícia sobre o decreto dos portos por motivos de saúde: por nove meses, apresentou sucessivos atestados médicos para justificar sua ausência, segundo a Folha de S.Paulo. Ele chegou a pedir para responder ao depoimento por escrito, o que foi negado.
Antonio Celso Grecco é um dos sócios da Rodrimar, empresa que atua no Porto de Santos. De acordo com o G1, um dos contratos de concessão da Rodrimar no Porto de Santos é anterior à lei de 1993 que regulamenta o setor. (Veja também: Quem é o sócio da Rodrimar preso pela Polícia Federal)
Isso deixaria a empresa de fora do decreto dos Portos editado em 2017. No entanto, para o Tribunal de Contas da União (TCU), o texto dá margem para que a empresa seja beneficiada por decretos futuros. O procedimento padrão seria licitar novamente as áreas da empresa.
A suspeita da PF é de que a empresa teria pago propina para ser beneficiada.
Wagner Rossi é pai do deputado Baleia Rossi, e foi ministro da Agricultura (durante o final do governo Lula e início da gestão de Dilma Rousseff) e diretor da Companhia Docas do Estado de São Paulo, estatal que administra o porto de Santos.
Ele foi citado na delação de Joesley Batista, da JBS, que disse ter sido procurado por Rossi após a saída dele do Ministério, reclamando de que Temer o teria abandonado.
Segundo Joesley, depois dessa conversa, Temer perguntou sobre o valor que Joesley repassava a Rossi e por que os repasses tinham parado. Joesley disse que parou de mandar dinheiro porque Rossi não era mais ministro.
Temer, então, teria pedido que os repasses continuassem já que Rossi estaria "muito bravo" com o presidente.
Por fim, a empresária Celina Torrealba é uma das donas do Grupo Libra, que foi beneficiada pela Medida Provisória (MP) dos Portos, de 2012, depois convertida na lei dos portos, em 2013. Segundo a delação de Lúcio Funaro, citada pelo jornal O Globo, a empresa ficaria de fora da MP dos Portos por ter débitos fiscais inscritos em dívida ativa.
Eduardo Cunha, então, teria atuado para incluir um item na MP que permitia que as empresas nessa situação fossem beneficiadas pela medida da mesma forma. Também segundo Funaro, isso teria sido feito porque o Grupo Libra é um dos grandes doadores de campanha de Michel Temer.