Com intervenção, número de mortos em confrontos com polícia cresce no RJ
Entre fevereiro e final de julho, 738 pessoas foram mortas em confrontos com polícia, indicam dados, em aumento de 35 por cento em relação ao ano anterior
Reuters
Publicado em 16 de agosto de 2018 às 18h54.
Rio de Janeiro - Seis meses após o governo enviar forças federais para assumirem controle da segurança no Estado do Rio de Janeiro , os números de assassinatos e de pessoas mortas em confrontos com a polícia aumentaram, segundo dados oficiais, levantando dúvidas sobre as estratégias utilizadas.
O presidente Michel Temer anunciou em 16 de fevereiro medidas de emergência autorizando que o Exército assumisse comando de forças policiais no Estado do Rio, onde grupos criminosos rivais e milícias impulsionaram um aumento acentuado na violência.
Nos primeiros seis meses da intervenção federal, no entanto, houve 3.479 assassinatos no Estado, um aumento de quase 5 por cento em relação ao mesmo período no ano passado, de acordo com dados oficiais do Estado.
Entre fevereiro e o final de julho, 738 pessoas foram mortas em confrontos com a polícia, indicam dados examinados pela Reuters, em aumento de 35 por cento em relação ao ano anterior. Entre fevereiro e o mês passado, 16 policiais foram mortos , um a menos que no período em 2017.
"É muito preocupante um cenário em que os indicadores mais sensíveis estão piorando, com uma política de segurança voltada para o aprofundamento disso, que causa insegurança, que são confrontos, tiroteios e barulhos de armas nas ruas", disse Silvia Ramos, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, no Rio.
A crescente violência se tornou uma questão importante para as eleições de outubro, com candidatos de todo o espectro político buscando mostrar suas credenciais de combate ao crime e apelar para um eleitorado farto de uma economia fraca e corrupção endêmica.
Embora pesquisas de opinião indiquem que a maior parte das pessoas no Rio é a favor da intervenção federal, poucas percebem grandes melhorias desde seu começo e a intervenção tem sido amplamente criticada por uma falta de transparência e por metas pouco claras.
Em comunicado, o gabinete de intervenção federal destacou que estatísticas de crime caíram, como roubo de carros e de carga, acrescentando que "a tendência é que a redução dos índices continue nos próximos meses".
Em entrevista antes da data de seis meses, o porta-voz da intervenção federal, Roberto Itamar, disse que grande parte do trabalho do governo foi focado em consertos administrativos e logísticos que levarão mais tempo para serem percebidos.
Ele acrescentou que a parte mais difícil do trabalho do governo no Estado é reparar relações entre a população e a polícia.
"Ao longo de alguns anos pra cá (as relações) tem se enfraquecido", disse. "Tem que ser uma construção de uma confiança mútua".