Com acarajé e sarapatel, Rui Costa tenta conquistar apoio de Arthur Lira
Planalto quer melhorar relação com a Câmara, e presidente da Casa espera, com aproximação, emplacar demandas
Agência de notícias
Publicado em 25 de fevereiro de 2024 às 09h04.
Escalado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para coordenar os ministérios do governo, o chefe da Casa Civil, Rui Costa, tem se movimentado para desempenhar outro papel: o de interlocutor do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Com essa nova relação política, o governo espera evitar turbulências com deputados, enquanto Lira quer emplacar demandas de parlamentares aliados, de emendas a indicações em cargos públicos
O pragmatismo que uniu Costa e Lira é celebrado por diferentes parlamentares, que esperam colher os dividendos da nova parceria.
— Arthur gosta de quem é pragmático e resolutivo. Não gosta de gente de conversa boa e que não resolve. Rui tem o perfil de pessoa que Arthur gosta, e, quando eu o procurei, sempre me atendeu — afirma o deputado Felipe Carreras (PSB-PE), aliado do presidente da Câmara.
Costa foi destacado por Lula para fazer a ponte entre o Palácio do Planalto e Lira após o presidente da Câmara romper com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, responsável pela articulação política do governo. O estopim da desavença ocorreu após a edição de uma portaria que prevê novas regras para a liberação de recursos apadrinhados por parlamentares na área da saúde. O chefe da Casa Civil tem falado quase todos os dias e se reunido ao menos uma vez por semana com Lira.
Gentilezas
Durante o carnaval, Costa pediu ao seu sucessor no governo da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), para promover um almoço regado a acarajé, abará, sarapatel e feijoada no Palácio de Ondina, sede do Executivo local, para receber Lira como convidado principal. A ideia era dar boas-vindas ao presidente da Câmara e arrefecer a irritação do deputado com Lula externada no discurso no início do ano legislativo.
No encontro, para agradar a Lira, Costa deixou até de lado desavenças políticas e ciceroneou um antigo rival, o deputado federal Elmar Nascimento (União-BA), fiel escudeiro do presidente da Câmara que almeja ser o próximo presidente da Casa legislativa. Ao longo da confraternização, Lira disse o que o ministro da Casa Civil queria ouvir: que tem interesse em contribuir com o governo.
Nas conversas entre os dois neoaliados, o deputado alagoano pediu ao chefe da Casa Civil que o governo apoie o seu candidato à sucessão na presidência da Câmara. O tema, no entanto, é delicado para Costa — que, embora dê sinais de que não apresenta qualquer restrição a Elmar, nome preferido de Lira, mantém a posição de neutralidade do presidente Lula. O ministro é amigo de outro postulante ao cargo, o deputado Antonio Brito (PSD-BA), que também participou do almoço no Palácio de Ondina.
Essa disputa pode colocar à prova a relação de ganha-ganha entre Costa e Lira — que já foi estremecida no passado, quando o presidente da Câmara sugeriu a Lula que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ocupasse a cadeira de chefe da Casa Civil.
Deixando as divergências no passado e focado no pragmatismo, Costa tem se movimentado, ao lado de Haddad, na negociação com Lira de um acordo para impedir a derrubada do veto presidencial que cortou R$ 5,6 bilhões em emendas de comissão. Uma das possibilidades em análise é o governo recompor esse valor nos próximos meses — cenário que dependeria do comportamento do Orçamento, com aumento de receitas ao longo do ano.
O chefe da Casa Civil também ajudou a costurar o calendário para pagamento de emendas até 30 de junho deste ano, um movimento considerado estratégico para liberar verba para prefeituras às vésperas das eleições municipais. A iniciativa havia sido vetada por Lula, mas, após nova crise com o Congresso, o governo recuou.
Costa elegeu ainda o PAC Seleções, programa de obras voltado para atender governadores e prefeitos, para ampliar a sua interlocução com Lira e seus aliados. A expectativa do ministro da Casa Civil é que parlamentares direcionem emendas para municípios — e apadrinhem os canteiros em seus redutos eleitorais. Deputados, porém, veem a proposta com certa desconfiança, pois preferem escolher livremente a distribuição de verba. Para convencer integrantes do Congresso, Costa conta com o apoio de Lira.