250 lojas podem ser acessadas pela Cornershop, no Uber e no Uber Eats (Germano Lüders/Exame)
Estadão Conteúdo
Publicado em 3 de agosto de 2022 às 12h38.
Última atualização em 3 de agosto de 2022 às 12h45.
Na capital paulista, 81% da malha cicloviária apresenta bom estado geral de manutenção, conforme auditoria da Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade). Mas um quinto (19%) foi classificado na categoria que "exige atenção".
Apesar da demanda de reparos, a avaliação feita pela entidade da sociedade civil mostra avanços: o alerta da necessidade de melhora valia para 41% das vias para bicicletas. Os ciclistas, contudo, frisam a necessidade de expandir a rede para as periferias, e também aumentar a oferta de paraciclos (estrutura usada para "estacionar" as bikes).
Dentre as que necessitam de manutenção, há uma gradação de urgência. Algumas estruturas estão completamente apagadas ou que não foram implementadas, embora constem no mapa oficial da Prefeitura (2%). Outras não respeitam condições mínimas de proteção (5%) e precisam de intervenção imediata. Enquanto isso, outras 12% precisam de reparos específicos e pontuais.
"O ganho é resultado da requalificação promovida a partir de 2020, que agora deve ser completada considerando os dados mais atuais. Ainda assim, é imperativo agir em pelo menos 7% das estruturas, que encontram-se completamente desgastadas ou apagadas", conclui o relatório. A avaliação se deu em relação a quatro aspectos: condições de proteção, pintura, pavimento e sinalização horizontal em cruzamentos.
No documento, a associação destaca que, neste ano, as vistorias focaram no "estado de preservação das ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas existentes". Eles usaram, como base, o mapa oficial da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), que, entre maio e abril, quando a análise de campo ocorreu, listava 677 km de vias com tratamento cicloviário permanente - já são agora 699,2 km, segundo o site da CET. A escolha por averiguar o estado atual, explicam, está ligada ao Plano de Ação Climática da capital que prevê, até 2030, bicicletas representando 4% das viagens na cidade; e ao Plano de Segurança Viária.
Flavio Soares, coordenador geral da auditoria, destaca que houve ganho tanto na expansão quanto na manutenção, principalmente ao comparar com as condições que os levaram a pesquisar em campo pela primeira vez em 2018 - na época, eram 485 km. "Estávamos vendo as ciclofaixas desaparecendo." Porém, frisa que as estruturas dentro dos 7% que precisam de manutenção urgente têm situação "muito grave" e não podem ser esquecidas, por colocarem a vida do ciclista em risco.
O ponto de vista da jornalista e cicloativista Adriana Marmo, que participou da pesquisa de campo, é semelhante. Após ficar os dois primeiros anos da pandemia distante da capital, se surpreendeu positivamente com a expansão e requalificação da malha em algumas regiões, como a de Interlagos, na zona sul. Porém, conta, pedalar pelo Campo Limpo, também na zona sul, é quase uma missão "kamikaze". "É desesperador, a ciclovia sumiu e em alguns lugares onde está boa, virou estacionamento."
Eles destacam que há concentração da malha e também dos melhores estados de manutenção no eixo centro-oeste. Nesse sentido, afirmam ser necessário construir estrutura em áreas periféricas, além de fazer conexões com os demais bairros. "As periferias pedalam, mas são inviabilizadas", diz Ricardo Neres, um dos diretores da Ciclocidade. "A periferia, como sempre, é desprovida dessa atenção."
Em nota, a CET informou que entre 2019 e 2020, foram entregues 177 km de novas ciclovias e ciclofaixas, e 320 km - dos 500 km previamente existentes - passaram por reforma para se adequarem ao novo padrão de pavimentação e sinalização. "A ampliação da malha cicloviária permanente continuou a ocorrer mesmo durante o período de pandemia, alcançando 35% de expansão."
Neste ano, afirma, a pretensão é aumentar a malha em 157 km (com ampla participação social), dos quais 48 km já estão em execução. "Ao final da gestão, atingiremos os 1 mil km de ciclovias e ciclofaixas." O plano é de que, até 2028, a estrutura cicloviária tenha 800 km. A CET também informou que prepara novo edital para a manutenção e melhoria dos 700 km da malha existente, além de consulta pública sobre a iluminação de todas as estruturas.
A companhia frisou a importância dos pesquisas de campo da associação. "Algumas estruturas apontadas pela Ciclocidade, foram identificadas pela equipe técnica da CET e são pequenas conexões que estão sobre o passeio (compartilhadas) e outras que ainda aguardam a realização dos debates entre comunidade, como por exemplo a da Av. dos Metalúrgicos."
A ciclofaixa da Rua da Consolação, na região central, teve um de seus trechos considerados como um dos dez piores em 2018 - na auditoria deste ano, não houve ranqueamento. Hoje a via apresenta bom estado geral de manutenção, mas conforme a auditoria alguns trechos têm pintura precária e pavimento razoável.
O músico Richard Meteairon, de 36 anos, que mora na região há dez anos, começou a andar de bike na pandemia ao perceber as requalificações e expansão da malha. "Cada dia está melhor", fala. "Mas às vezes a manutenção demora para acontecer, aí surgem buracos."
A assistente jurídica Josy Alves, de 41 anos, conta que no trajeto iniciado no Tatuapé, bairro da zona leste onde mora, a Consolação é o "melhor trajeto" que fez. "Mesmo porque tem duas faixas, uma só para subir e outra só para descer." Porém, acha que a estrutura deixa a desejar na sinalização. Pedalando há cinco anos, ela conta que, mesmo em ciclofaixas, não se sente segura. "Porque os pedestres, os motoqueiros, ninguém respeita."
Mesmo com a ciclofaixa, não é incomum ver pessoas que prefiram pedalar nas calçadas. Entre elas o desenvolvedor Glau Rossi, de 32 anos, que explica que sempre prefere pedalar na calçada ou mesmo no asfalto, pois é "mais prático". "Tem mais espaço."
A pintura da ciclofaixa da Rua Teodureto Souto, no Cambuci, também na região central, há poucos sinais de que antes era pintada de vermelho. Ela é uma das vias consideradas precárias, que deixa a desejar também nos quesitos proteção, pavimento e sinalização, e precisa de manutenção urgente.
Davi Fagundes, 22 anos, que mora e trabalha no Cambuci, conta que, quando quer dar um passeio de bicicleta prefere ir até a Avenida Paulista. "Olha a situação disso aqui (e aponta para a ciclofaixa), tudo ruim, o asfalto cheio de ondulação." Ele também destaca que a "rua é muito perigosa". "Os carros descem 'bolados'."
Amanda Xavier, 25 anos, conta que é raro ver ciclistas passando por ali. "Não é usada, tanto que você vê os carros estacionados aqui na frente." Em uma área de cerca de 400 metros, a reportagem contou ao menos um carro e três motos sobre a ciclofaixa. Amanda afirma que, na Teodureto, a CET fiscaliza com frequência o uso indevido. "Quando as sirenes disparam, a pessoa capta que está errada e retira."
A ciclorrota da Rua Ministro Sinésio Rocha, na Vila Anglo Brasileira, é outra que carece de manutenção urgente, segundo a auditoria. Além da sinalização, são evidentes os desníveis, rachaduras e alguns buracos no asfalto. Conforme definição da CET, são vias sinalizadas que interligam pontos de interesse (ciclovias e ciclofaixas). Na prática, indicam que veículos e bicicletas usam o mesmo espaço. Nelas, a velocidade da via é reduzida para garantir a segurança dos ciclistas.
Dentre os moradores, é difícil encontrar algum que entenda o que são os pictogramas desenhados no asfalto. "Não vou mentir, não entendi muito bem essa marcação", conta Cesar dos Santos, de 21 anos, que trabalha há três anos na Rua Estêvão Barbosa, que faz parte da ciclorrota.
Ele costuma pedalar de casa para o trabalho todos os dias. Entre a Avenida Eliseu de Almeida e a Rua Doutor Alberto Seabra tem ciclofaixas a seu dispor, mas, no resto do trajeto, não. Na região da Estêvão Barbosa, não sente tanta diferença. "Aqui para dentro tem menos movimento de carro." Mas gostaria que houvesse estruturas para ciclismo na Avenida Pompeia e na Rua Heitor Penteado.
O skatista profissional Douglas Fabricio Carvalho, de 35 anos, também se sente seguro para pedalar por ali. "É um bairro bem tranquilo (para andar de bicicleta)", fala ele, que mora ali há dez anos.
O músico Dimitri Moreira, de 41 anos, concorda que não é um trecho de tensão, porém, preferia que fosse uma ciclovia. "A segurança de qualquer lugar que tem uma ciclovia, por pior que esteja, já aumenta muito. Você não fica disputando com carro."
A confusão sobre a tipologia se repete na calçada compartilhada da Avenida Queiroz Filho, que também aparece como uma das estruturas que precisam de atenção urgente. Calçadas compartilhadas, conforme a CET, são espaços destinados prioritariamente aos pedestres, mas compartilhados com ciclistas. Elas são sinalizadas por sinalização vertical e horizontal, além do pictograma de pedestres e ciclistas pintados - que a reportagem não avistou durante o passeio.
A Prefeitura também que a ciclofaixa do Cambuci e a ciclorrota da Vila Anglo Brasileira "serão priorizadas a partir da contratação da empresa para a manutenção das ciclovias". A calçada compartilhada da Avenida Queiroz Filho, por sua vez, "será substituída pela estrutura cicloviária da Ponte Jaguaré/Queiroz Filho", prevista nos 48 km que estão sendo executados.
A associação também mapeou os paraciclos e identificou 2.599 estruturas, que somam mais de 5,4 mil vagas. A maior parte delas (2.449, com 4.934 vagas) no formato "U invertido".
Ao compilar os dados, perceberam alta concentração dos equipamentos em alguns eixos principais, como o trajeto da Avenida Paulista até Jabaquara, por exemplo. No relatório, a associação frisa a importância de implantação de novos paraciclos "onde há enormes vazios".
Em nota, a CET ressaltou que considera que "a implantação de bicicletários é importante para a cidade" e que a "Secretaria Municipal de Mobilidade e Trânsito vai continuar trabalhando pela instalação de mais estruturas". No entanto, não falou de quantidade, nem em que locais pretendem disponibilizá-los.
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