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Chuvas dificultam batalha contra maior inflação em dois anos

Mau tempo afeta preço dos alimentos em um cenário de consumo já aquecido no país

Feira da Gávea: no Rio, mercados e restaurantes reclamam de falta de alimentos (Márcio Nunes/Contigo)

Feira da Gávea: no Rio, mercados e restaurantes reclamam de falta de alimentos (Márcio Nunes/Contigo)

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Da Redação

Publicado em 20 de janeiro de 2011 às 08h33.

Brasília/Nova York - A temporada de chuvas mais violenta no País desde 1967, um desastre que já causou a morte de 741 pessoas, está contribuindo para acelerar a inflação, que está no maior nível em dois anos.

As tempestades que causaram deslizamentos, destruindo estradas e plantações, reforçam receios de que os preços dos alimentos podem subir até 17 por cento no primeiro trimestre, segundo Fabio Romão, economista da LCA consultoria em São Paulo.

“O choque no preço de alimentos causado pelas chuvas está acontecendo em um momento em que a economia já está aquecida”, disse Ures Folchini, chefe da área de investimentos em renda fixa do Banco WestLB do Brasil SA, em entrevista por telefone de São Paulo ontem. “O Banco Central certamente vai levar isso em conta porque as expectativas de inflação estão piorando.”

A disparada nos preços de frutas e hortaliças pode tornar mais difícil o combate à inflação pelo novo presidente do BC, Alexandre Tombini, disse Folchini. O desastre natural com maior número de mortos na história brasileira também vai testar a disposição do governo da presidente Dilma Rousseff de conter os gastos para ajudar a reduzir os juros no futuro.

O Comitê de Política Monetária do BC elevou ontem o juro básico em 0,5 ponto percentual para tentar conter a inflação, que, segundo economistas, deve ficar acima da meta de 4,5 por cento este ano.

Economistas consultados pelo BC na semana passada elevaram suas projeções para a inflação deste ano para 5,42 por cento, contra 5,34 por cento na semana anterior. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro com vencimento em julho subiu 25 pontos-base, para 11,91 por cento, desde que as chuvas se intensificaram nas últimas duas semanas.

Falta de alimentos

O Ibovespa caiu 1,45 por cento, para 70.058 pontos, desde 5 de janeiro, enquanto os títulos do governo denominados em real perderam 0,4 por cento, segundo o JPMorgan Chase & Co. O dólar se desvalorizou 0,2 por cento em relação ao real no período, para R$ 1,6708.

No Rio de Janeiro, supermercados e restaurantes reclamam da falta de alimentos depois das inundações e deslizamentos nas cidades serranas de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo. A reconstrução da área, responsável pelo abastecimento de 40 por cento a 60 por cento de hortaliças e laticínios que chegam à capital, precisará de R$ 2 bilhões, disseram os prefeitos das três cidades em 17 de janeiro.


A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro estima que os prejuízos para as empresas ficaram em R$ 153,4 milhões.

Apesar de ter causado menos vítimas fatais, as enchentes em São Paulo, estado que tem a maior produção agrícola do País, também foi severa.

Melancias

A produção de alface, brócolis, agrião, couve-flor e outros itens caiu cerca de 20 por cento no estado depois que chuvas destruíram ou reduziram a qualidade da colheita, disse Flavio Godas, economista da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo, o Ceagesp, terceiro maior centro de distribuição de alimentos no atacado do mundo.

Os preços de hortaliças subiram 60 por cento este mês e vão continuar a subir até março, quando as chuvas devem passar, disse Godas. Uma inundação num dos terminais de alimentos do Ceagesp em 11 de janeiro causou uma perda de 40 toneladas de melancias.

Grãos para exportações -- soja, açúcar e café -- não devem ser afetados, ou porque a colheita não começou ou porque as chuvas nas áreas de produção foi menos severa, de acordo com cooperativas agrícolas, incluindo a Cooxupé, maior cooperativa de café do País.

Abalo psicológico

Esse tipo de desastre natural é um abalo psicológico à pretensão do País de alcançar o status de nação desenvolvida, disse Leonardo Barreto, professor de ciências políticas da Universidade de Brasília.

A falta de planejamento no combate e prevenção desses desastres - mesmo depois de duas outras tragédias ligadas ao clima terem afetado o Rio no ano passado - pode servir como um sinal de alerta para o País que se prepara para receber a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, segundo Barreto.

“Depois das eleições, quando os brasileiros foram bombardeados com números e dados positivos sobre a economia, vem essa tragédia e voltamos a lembrar que somos um gigante com pé de barro”, disse Barreto. “Ela desperta o nosso complexo de vira-lata”.

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