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Carros produzidos no Brasil são "mortais", segundo agência

Estar conduzindo um veículo produzido no Brasil ou a versão feita na Europa do mesmo automóvel pode ser a diferença entre a "vida e a morte", diz reportagem da Associated Press

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 14 de maio de 2013 às 19h50.

São Paulo – Estar dirigindo os carros produzidos no Brasil ou os mesmos modelos e similares europeus pode ser a diferença entre a “vida e a morte” em casos de acidentes, aponta uma reportagem da agência Associated Press republicada em veículos de todo o mundo.

Segundo a matéria, a qualidade dos veículos no quarto maior mercado consumidor global – que tem uma nova classe média ávida pelo seu próprio automóvel - está se tornando uma tragédia nacional, com a taxa de mortes em acidentes sendo quatro vezes maior no Brasil que nos Estados Unidos, onde os veículos são mais seguros.

A matéria foi republicada em sites de grande audiência internacional, como The New York Times, Washington Post e Huffington Post.

“Os culpados são os próprios carros, produzidos com soldas mais fracas, itens de segurança escassos e materiais de qualidade inferior em comparação a modelos similares fabricados para os consumidores americanos e europeus. Quatro dos cinco carros mais vendidos do Brasil não conseguiram passar em testes de colisão independentes”, afirma o texto.

A Associated Press menciona os resultados do Latin NCAP, instituto independente que recentemente passou a fazer testes de veículos vendidos na América Latina e apontou, na última edição, a incongruência entre os resultados dos mesmos veículos que, em tese, deveriam ser iguais, independentemente de onde são vendidos. Mas não são. EXAME.com publicou os resultados, há mais de um mês.

A reportagem dispensa ataques à indústria, alegando que se beneficiam de consumidores menos exigentes com segurança para ainda obter margens maiores que em mercados desenvolvidos. Nos EUA, são 3%; no Brasil, 10%, segunda a consultoria IHS.

De acordo com um especialista ouvido pela Associated Press, a diferença prática, no momento de um acidente, pode ser a vida ou a morte.

"A diferença que você está falando é de alguém morto no veículo ou morrendo muito rapidamente, ou então alguém sendo capaz de sair do veículo sozinho", disse David Ward, diretor-geral da Fundação FIA, em Londres.

Mais do que airbags

Nem a presença de airbags e ABS, que se tornarão obrigatórios no Brasil em 2014, são suficientes. Muitas vezes, o problema é estrutural.

“A versão brasileira tem a mesma aparência do lado de fora, mas está faltando peças. Em uma versão, eles incluem o reforço (à estrutura), na outra não ", disse à agência um engenheiro da indústria automotiva que não quis se identificar.

A matéria fala ainda em falta de zonas de deformação e frágeis colunas de direção.

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) se pronunciou sobre o teor da reportagem em nota intitulada "O automóvel brasileiro é seguro" (veja íntegra abaixo). À agência internacional, montadoras brasileiras deram respostas individuais sobre o desempenho de seus veículos citados. 

Entre outras coisas, elas apontaram que atendem à legislação brasileira.

A reportagem da AP sinaliza que uma mudança neste padrão só ocorrerá se houver reação dos brasileiros, como ocorreu nos Estados Unidos na década de 60, quando as mortes em acidentes chegaram a números estratosféricos.

Além dos fatores veiculares, é preciso lembrar que estradas mal conservadas é outro item no ingrediente das mortes de trânsito no Brasil, como aponta a própria agência americana.

Veja a nota da Anfavea:

A indústria automobilística brasileira tem uma longa experiência na produção de veículos. São quase 60 anos no aperfeiçoamento dos sistemas de fabricação e melhoria de qualidade e segurança. Lamentável, portanto, quaisquer correlações entre o número de vitimas no trânsito com os indicadores de qualidade dos veículos produzidos no Brasil.


Existem vários fatores que influenciam nos acidentes, desde condições das estradas, inabilidade dos motoristas – provocada muitas vezes pelo consumo de álcool, psicotrópicos ou mesmo cansaço excessivo – além da precariedade do estado de conservação dos próprios veículos – pneus desgastados, falta de manutenção, iluminação deficiente, afora eventuais desrespeitos à sinalização de trânsito. 

A realidade é que muitos ocupantes são salvos exatamente pela boa qualidade dos veículos produzidos no País, com a adoção de todos os quesitos de segurança passiva e ativa regulamentados pelo Contran. Mais ainda: a indústria cumpre todas as prescrições de segurança regulamentadas pelos órgãos de governo e atestadas por ensaios realizados conforme procedimentos normatizados e auditáveis.

As normas e sistemas produtivos existentes no Brasil são os mesmos adotados pelos mais avançados centros produtivos. Como a maioria das plataformas são mundiais, as especificações são idênticas e os cuidados com a produção são os mesmos. Quando existem alterações, na denominada tropicalização dos produtos, são para deixar os veículos ainda mais robustos e seguros para as respectivas aplicações.

“O alto estágio da engenharia automotiva nacional tem permitido que as montadoras brasileiras hoje desenvolvam modelos para os mercados mais exigentes, como tem assegurado que a qualidade construtiva dos produtos aqui feitos sejam iguais ou até melhores do que os produzidos em qualquer outro país”, ressalta Luiz Moan Yabiku Junior, presidente da ANFAVEA.

Matéria atualizada às 18h do dia 14/05 com a resposta da Anfavea.

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