(TIME/Reprodução)
Da Redação
Publicado em 4 de maio de 2022 às 09h09.
Última atualização em 4 de maio de 2022 às 10h22.
A revista americana Time publicou nesta quarta-feira, 4, uma entrevista com o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que foi capa da semana na publicação. A capa traz o título "O segundo ato de Lula - o líder mais popular do Brasil busca um retorno à presidência".
A entrevista, segundo a Time, foi realizada no fim de março em São Paulo. Na conversa, Lula falou sobre a guerra na Ucrânia, os desafios da economia brasileira, o que espera para as eleições e sobre o que a Time classificou como "a frágil democracia brasileira".
A revista lembra que Lula lidera nas pesquisas eleitorais contra o presidente Jair Bolsonaro antes das eleições presidenciais de outubro.
"Há uma expectativa de que eu volte a presidir o país porque as pessoas têm boas lembranças do tempo em que eu fui presidente. As pessoas trabalhavam, as pessoas tinham aumento de salário, os reajustes salariais eram acima da inflação. Então eu penso que as pessoas têm saudades disso e as pessoas querem isso melhorado", disse Lula sobre sua liderança nas pesquisas.
A reportagem cita ainda o fato de Lula ter voltado a ser elegível em meio à anulação de suas condenações pelo Supremo Tribunal Federal, e cita que em abril, a ONU também concluiu que o ex-juiz Sergio Moro foi parcial no caso.
Sobre seus planos na política econômica, Lula não deu detalhes e afirmou que "a gente não discute política econômica antes de ganhar as eleições".
O ex-presidente pontuou feitos elogiados de seu governo, como a construção das reservas internacionais em dólar do Brasil. "Ao invés de perguntar o que é que eu vou fazer, olhe o que eu fiz".
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"Quem tiver dúvida sobre mim olhe o que aconteceu nesse país quando eu fui presidente da República: o crescimento do mercado. O Brasil tinha dois IPOs. No meu governo fizemos 250 IPOs. O Brasil devia 30 bilhões, o Brasil passou a ser credor do FMI, porque emprestamos 15 bilhões. O Brasil não tinha um dólar de reserva internacional, o Brasil tem hoje 370 bilhões de dólares de reserva internacional", disse.
Lula também afirmou que não são realistas propostas do candidato de esquerda à presidência na Colômbia, Gustavo Petro, de fazer uma "frente anti-petróleo".
"Veja, eu acho que o Petro tem o direito de fazer todas as propostas que ele quiser fazer. Mas no caso do Brasil é irreal. No caso do mundo é irreal. Você ainda precisa do petróleo por um tempo", disse. "O que você pode estabelecer é um plano de longo prazo para você diminuir [o consumo de petróleo] na medida em que você vai criando alternativas."
Perguntado sobre a guerra na Ucrânia, que se desenrola desde 24 de fevereiro, Lula alfinetou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmando que ele poderia ter "negociado mais". "Eu acho que ninguém está procurando contribuir para ter paz", disse.
Lula também afirmou que Zelensky é "tão responsável quanto [o presidente russo Vladimir] Putin" porque "uma guerra não tem apenas um culpado".
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Também atribuiu a culpa da invasão russa aos Estados Unidos e à União Europeia, que, segundo ele, poderiam ter evitado o conflito se tivesse firmado um acordo para a Ucrânia não entrar na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
"Qual é a razão da invasão da Ucrânia? É a OTAN? Os Estados Unidos e a Europa poderiam ter dito: ‘A Ucrânia não vai entrar na OTAN’. Estaria resolvido o problema", disse.
"Eu não conheço o presidente da Ucrânia. Agora, o comportamento dele é um comportamento um pouco esquisito, porque parece que ele faz parte de um espetáculo. Ou seja, ele aparece na televisão de manhã, de tarde, de noite, aparece no parlamento inglês, no parlamento alemão, no parlamento francês como se estivesse fazendo uma campanha. Era preciso que ele estivesse mais preocupado com a mesa de negociação", afirmou Lula.
Lula também foi perguntado pela Time sobre o que pensa do presidente americano, Joe Biden. O brasileiro elogiou o "programa econômico" de Biden, mas disse que o americano vive um "momento difícil" para executar as propostas.
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Também afirmou que Biden não tentou amplamente acabar com a guerra da Rússia, e disse que, se fosse oferecido, o Brasil não entraria na Otan caso ele fosse o presidente.
"E é o fato de o Brasil ser um país de paz que vai lhe fazer restabelecer a relação que nós criamos de 2003 a 2010. O Brasil vai virar protagonista internacional, porque a gente vai provar que é possível ter um mundo melhor", disse, afirmando também que é preciso "que a gente reconstrua a ONU [Nações Unidas]" porque a organização, para Lula, não vem sendo respeitada por membros, da Rússia aos EUA.
(Com Agência O Globo)