Serra é o único nome que aglutina, além de Kassab, o DEM e o PPS, que ameaçavam candidaturas próprias (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)
Da Redação
Publicado em 25 de julho de 2012 às 14h07.
Brasília - A entrada de José Serra na corrida pela Prefeitura de São Paulo, confirmada nesta segunda-feira pelo próprio ex-governador via Twitter, reforça o caráter nacional da disputa pelo comando da maior cidade do país e congela a entrada oficial do PSD, do prefeito paulistano, Gilberto Kassab, no governo Dilma Rousseff.
A decisão de Serra de entrar na corrida foi consequência da pressão de lideranças tucanas, em especial o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Eles viram na iminente aliança entre o PT e o PSD risco não só de a prefeitura voltar a mãos petistas, mas também ameaça à reeleição do PSDB ao governo do Estado em 2014.
Nas últimas semanas, as conversas entre Kassab e o ex-presidente Lula, com vistas ao apoio do PSD à candidatura de Fernando Haddad (PT) à prefeitura, haviam evoluído ao ponto de o prefeito comparecer, sob vaias de alguns petistas, à comemoração do aniversário do partido, em Brasília.
No Planalto também já se alinhavava o embarque oficial do PSD no governo Dilma para depois das eleições de outubro. Apesar de o partido, com 55 deputados na Câmara, se mostrar fiel nas votações de interesse governista mesmo sem ser oficialmente da base aliada, a sigla deveria receber um ministério até o início de 2013.
Uma aliança com Serra -adversário derrotado à Presidência por Dilma em 2010, e a quem Kassab sempre garantiu lealdade- constrange, na opinião de petistas ouvidos pela Reuters, um movimento do prefeito de aceitar uma vaga na Esplanada para seu partido.
Segundo tucanos próximos do governador Geraldo Alckmin ouvidos pela Reuters, Serra é o único nome que aglutina, além de Kassab, o DEM e o PPS, que ameaçavam candidaturas próprias.
A movimentação para garantir que Serra seja o candidato tucano à prefeitura, entretanto, ainda precisa superar percalços internos do partido.
A primeira é a definição sobre as prévias partidárias, marcadas quando o ex-governador afirmava não ter interesse na disputa. A data prevista é o próximo domingo, mas há movimentação de aliados de Serra e do próprio governador para atrasar em uma semana sua realização.
Dos quatro pré-candidatos iniciais, dois desistiram da disputa nos últimos dias, em favor do ex-governador. No domingo, o secretário estadual da Cultura, Andrea Matarazzo, anunciou, em entrevista coletiva, sua saída da disputa e o apoio a Serra.
Na manhã desta segunda-feira, foi a vez de Bruno Covas falar à imprensa que abandonava a corrida em favor de Serra.
Outros dois postulantes à pré-candidatura tucana, entretanto, não demonstram estar dispostos a abrir mão das prévias. Segundo um tucano próximo do governador, que pediu para não ter o nome revelado, em conversas no final de semana, tanto Ricardo Trípoli quanto José Aníbal afirmaram ao governador Geraldo Alckmin que Serra precisa enfrentar as prévias e que elas não devem ser adiadas.
O mesmo tucano afirmou, entretanto, que é difícil que os dois resistam à pressão do governador.
Reação no PT
A confirmação de Serra na disputa já disparou uma reavaliação da estratégia petista para as eleições.
Segundo uma liderança do PT no Estado, o partido não irá insistir em um apoio do PMDB no primeiro turno -o vice-presidente Michel Temer vem garantindo que seu partido não abrirá mão de Gabriel Chalita na cabeça de chapa.
Mas uma consequencia natural será a necessidade de maior mobilização das duas principais lideranças petistas: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff.
Lula, que vem se dedicando há meses à montagem da aliança petista em torno do ex-ministro da Educação Fernando Haddad, deve agora mergulhar na competição, mesmo ainda se recuperando do tratamento de um câncer.
Já Dilma talvez não tenha como, ao menos em São Paulo, manter a disposição inicial de ficar afastada dos palanques.
Apesar de Chalita ser considerado um adversário aliado, e que tem o carinho pessoal da presidente, Dilma será atraída para a campanha de Haddad por ter mais apelo do que Lula entre uma parcela da população paulistana -os setores de classe média alta e entre eleitores conservadores.
"O PSDB percebeu que o resultado das eleições municipais em São Paulo ajudará a formar o tabuleiro nacional para 2014, por isso a reação", disse à Reuters um deputado do PT de São Paulo, reconhecendo a expectativa de uma corrida mais difícil com Serra como opositor.
Segundo outro petista que integra a coordenação da pré-candidatura de Haddad, o desmantelamento da aliança com Kassab enfraquece a candidatura de Haddad entre eleitores de centro e mais conservadores. Além disso, Serra deve unir partidos de centro e direita em torno de sua candidatura.
"Com Serra, nós os enfrentamos unificados, com duas máquinas, a da Prefeitura de São Paulo e a do governo do Estado", disse à Reuters uma liderança do PT de São Paulo, que preferiu não ser identificada.
No redesenho da estratégia eleitoral, o PT paulistano, e em especial Lula, já prevêem uma disputa mais "dura e suja", nas palavras de um ministro petista.