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Cachoeira teria pago propina a secretário de GO, diz PF

Cachoeira e o ex-diretor da Delta Cláudio Abreu demonstram irritação com o fato de Furtado Neto supostamente ter congelado o repasse de verbas para a empreiteira

Processo envolve o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira (José Cruz/Agência Brasil)

Processo envolve o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira (José Cruz/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 21 de julho de 2012 às 09h38.

Brasília - Interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal durante a Operação Monte Carlo revelam que o secretário de Segurança Pública de Goiás, João Furtado Neto, teria recebido propina do esquema comandado pelo contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, para supostamente liberar repasses para a Delta Construções. Em conversas grampeadas com autorização judicial, Cachoeira e o ex-diretor da Delta Cláudio Abreu demonstram irritação com o fato de Furtado Neto supostamente ter congelado o repasse de verbas para a empreiteira.

Segundo o ex-diretor da Delta, o secretário teria ameaçado não renovar ao final do ano passado o contrato para aluguel de carros caso não fosse honrado um compromisso com ele. Para a PF, o acerto seria o pagamento de propina, que, em vez de ter sido repassado ao secretário, estaria sendo embolsado pelo governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo (PSDB).

O contrato do aluguel de carros é apontado pela polícia como parte do "compromisso" firmado no início do mandato entre Perillo e a Delta, com a intermediação de Cachoeira. O acerto envolveria a liberação de créditos milionários devidos à empreiteira pelo governo goiano mediante suposto pagamento de propina ao chefe do Executivo estadual.

"Aquela suspensão do cara (João Furtado) e passar para o número 1 (segundo a PF, Marconi Perillo), o do babaca do João Furtado, declarou guerra para nós viu? Travou todo meu procedimento da nota fiscal ir pro (sic) financeiro para me pagar e metendo os cravos em mim", reclamou Abreu, em telefonema para Cachoeira às 12h49 de uma sexta-feira, dia 15 de julho do ano passado.


Cachoeira pede que o ex-diretor da Delta explique a situação novamente. Abreu conta-lhe que o secretário de Segurança teria colocado uma pessoa "no meio do percurso" para cuidar do pagamento das faturas da empreiteira. Ele disse ainda que, com a suspensão acerto pessoal com Furtado Neto, os repasses foram congelados. "Ele (o secretário) travou nossas coisas lá. Travou tudo", disse Abreu.

"E aí", perguntou Cachoeira. "E aí, mandou recado, meu amigo. Se eu não voltar a cumprir com ele, vai ficar tudo travado e ameaçou chegar no final do ano e não renovar o contrato e licitar tudo de novo", respondeu o ex-diretor da Delta.

"Vagabundo, não é? Porque que ele não pagou antes? Vou falar com Edivaldo que ele tá indo lá agora com o governador (sic)", disse Cachoeira, referindo-se ao ex-diretor do Departamento de Trânsito em Goiás Edivaldo Cardoso, que deixou o cargo no início de abril após terem sido reveladas gravações de conversas dele com o contraventor.

Cerca de sete horas depois, os dois voltam a se falar ao telefone. O ex-diretor da Delta pergunta a Cachoeira como foi a conversa com o número 1. Não fica claro com quem o contraventor conversou. No grampo, Cachoeira diz que Perillo quer falar com ele "pessoalmente". E acrescenta que vão se encontrar na casa de Edivaldo Cardoso. O contraventor acrescenta que vai para a conversa com Perillo com um "arsenal".

Sem precisar data, o governador admitiu à CPI ter se reunido com Cachoeira em uma ocasião na casa de Cardoso. Segundo ele, os dois conversaram rapidamente sobre incentivos fiscais para a empresa de medicamentos.

Outro lado

Em nota, a assessoria de imprensa do secretário de Segurança Pública negou e repudiou "as ilações" envolvendo-o baseadas no vazamento de conversas entre presos da Operação Monte Carlo. Segundo o órgão, os pagamentos para a Delta seguiram um "cronograma normal" desde que Furtado Neto assumiu o cargo, em janeiro de 2011.

O secretário disse, por meio da assessoria, que a própria PF não encontrou "nenhuma prova contra o secretário no âmbito das investigações" e que não há uma gravação sequer de conversa dele com qualquer um dos indiciados pela polícia.

A assessoria de imprensa do governador de Goiás afirmou que não houve nenhuma ameaça quanto à renovação do contrato com a Delta, muito menos a interrupção dos pagamentos. Ele disse ainda que há "pessoas que retiram fragmentos de mais de 30 mil horas de gravações com a clara intenção de montar uma ilação sobre propinas".


Perillo afirmou em nota que já declarou "por diversas vezes" que Cachoeira jamais lhe fez qualquer tipo de cobrança. "Nunca algum prestador de serviços, nos governos comandados por Marconi Perillo, teve que pagar qualquer quantia em troca de benefícios ou cumprimento de obrigações contratuais", disse.

A Delta negou qualquer tipo de irregularidade no contrato. "A Delta venceu concorrência pública, aberta e transparente destinada a fornecer veículos para a Secretaria de Segurança de Goiás. Os automóveis foram colocados à disposição do estado, sempre foram usados da forma contratada e sobre este serviço prestado havia o pagamento devido estabelecido em contrato", afirmou, em nota.

Segundo a empresa, Abreu foi afastado da empreiteira em março de 2012 em razão das acusações que pesam contra ele. "A empresa não tem conhecimento sobre a veracidade ou não de conversas mantidas por ele, nem do motivo delas", afirmou. "É falso afirmar que a Delta Construção se beneficiou indevidamente de contratos, ou beneficiou outrem", disse.

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