CoronaVac na sede da empresa Sinovac, na China (Thomas Peter/Reuters)
Fabiane Stefano
Publicado em 23 de dezembro de 2020 às 15h34.
Última atualização em 23 de dezembro de 2020 às 15h55.
Parceiro local do laboratório chinês Sinovac, o Instituto Butantan deve adiar a divulgação dos resultados de eficácia da CoronaVac. O adiamento, segundo reportagem da Folha, acontece depois de a Sinovac solicitar o envio de toda a base de dados para a China, onde ela será equalizada com os resultados dos estudos feitos em outros países, evitando assim que cada localidade divulgue um índice de eficácia diferente. De acordo com o jornal, que diz ter tido acesso aos dados, a eficácia do imunizante supera os 50% necessários para que ele seja aprovado.
Essa equalização de dados de diferentes países pela Sinovac deve levar, no máximo, 15 dias. O cronograma de vacinação divulgado há pouco segue válido, prevendo o início da vacinação de grupos prioritários em 25 de janeiro. A viabilidade da data, entretanto, depende do aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que criou uma comissão provisória para acelerar os processos de registro e aprovação emergencial das vacinas contra a covid-19.
No Brasil, a CoronaVac começou teve seus estudos de fase 3 iniciados em 21 de julho, em mais de 13.000 voluntários, que se somam a outros 50.000 chineses que também participaram dos estudos de fase 3 no país asiático. Estudos das fases 1 e 2 publicados na revista científica britânica The Lancet — e revisados por pares — já mostraram que a vacina é segura e induz a produção de anticorpos em cerca de 97% dos voluntários. A expectativa de infectologistas, entretanto, é que esse número caia um pouco nos estudos da fase 3, que testam o imunizante em um número maior de voluntários — só no Brasil, mais de 13.000 participam do estudo clínico. Para a comunidade científica, uma taxa de eficácia superior a 50% já é suficiente para uma vacina ser aceita e aprovada.
“É provável que a CoronaVac não alcance a mesma taxa de eficácia de 94% e 95% das vacinas produzidas pela Moderna e pela Pfizer/BioNtech, respectivamente”, diz Luiz Fernando Lima Reis, diretor de pesquisas do hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Isso porque, segundo Reis, as vacinas que utilizam versões inativados do vírus, como o imunizante do Butantan, tendem a ter menor eficácia, mas são tecnologias amplamente usadas na saúde pública. “Qualquer percentual acima de 50% estará valendo. Precisaremos de todas as vacinas disponíveis cuja segurança e qualidade sejam comprovadas para imunizar a população.”
Após discussões acaloradas entre o governador João Doria e o governo federal, o Ministério da Saúde informou na última quarta-feira (16) que incluirá a vacina do Butantan no Plano Nacional do Imunização contra a Covid-19. O ministério, inclusive, prometeu o início da vacinação para o final de janeiro e já negocia a compra de 100 milhões de doses para entrega e distribuição em todo o país ainda no primeiro semestre de 2021. O Butantan também deve vender a vacina para outros países da América Latina, como Argentina, Peru, Colômbia e Bolívia.
A expectativa do Ministério da Saúde é que, nos próximos meses, o país tenha acesso a 258,4 milhões de doses de várias vacinas contra o coronavírus. O secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros, disse que parte desse volume já começa a chegar em janeiro.
Segundo Medeiros, a expectativa é ter 42 milhões de doses do consórcio Covax Facility; 100,4 milhões da vacina de Oxford; e 70 milhões da vacina da Pfizer. Já a CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan e pela chinesa Sinovac, somaria mais 46 milhões de doses, das quais 9 milhões seriam entregues em janeiro, 15 milhões em fevereiro e 22 milhões em março de 2021. Medeiros disse que há uma negociação em andamento para ampliar o contrato da CoronaVac para 100 milhões de unidades.