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Brasil tem que conceder asilo a Snowden, diz Glenn Greenwald

Em entrevista, o jornalista americano discutiu qual deve ser o futuro do ex-analista da CIA, sua principal fonte de informações

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 31 de janeiro de 2014 às 11h28.

O jornalista Gleen Greenwald aposta que o governo brasileiro vai acolher o ex-analista de inteligência da CIA Edward Snowden, atualmente asilado na Rússia.

Em entrevista ao Brasil Post, o americano discutiu qual deve ser o futuro de Snowden, sua principal fonte de informações, que vazou documentos revelando o esquema de espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos.

Glenn também elogiou a forma como o governo brasileiro está lidando com os EUA após as denúncias de espionagem. "O Brasil faz a coisa certa ao insistir em querer saber o que os EUA fizeram contra o governo e as empresas daqui", opina.

De passagem por São Paulo, nesta quinta-feira (30), o jornalista também falou com o Brasil Post sobre seu novo projeto de jornalismo independente financiado pelo bilionário Pierre Omidyar, dono do site de compras virtual Ebay. Leia a íntegra da entrevista.

Brasil Post: Como você vê a questão do asilo de Edward Snowden, agora que ele está na Rússia, cuja relação com os EUA é complexa e delicada?

Glenn Greenwald: Acho que todos os países têm a obrigação de prestar esse tipo de asilo, pelos direitos humanos. Sobretudo os países que aprenderam muito com as revelações dele. Infelizmente não há muitos países aptos a fazer isso além da Rússia. A Rússia vai cumprir a função de protegê-lo das punições norte-americanas.


Não é estranho que Snowden, que revelou segredos de espionagem dos EUA e luta por direitos democráticos, esteja asilado em um país que muitas vezes cerceia a liberdade das pessoas, como é o caso da violência contra os gays?

Não acho estranho. Há milhões de pessoas que recebem asilo nos Estados Unidos, um país que invadiu outro país e o destruiu, que está prendendo pessoas sem processo ou sem direito a advogados e que mata pessoas em todo o mundo. Ninguém está falando “que estranho que eles estão dando asilo para alguém que sofre com a violência que eles praticam”.

O Brasil, um dos principais alvos da espionagem dos Estados Unidos, revelada pelo Snowden, deve acolhê-lo?

O Brasil, muito antes de outros países, tem essa obrigação e assinou um tratado internacional que garante isso [o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos]. O governo do Brasil vai considerar isso e conceder asilo a Snowden.

A presidente Dilma solicitou, após as denúncias de espionagem americana, que fosse criado um serviço de e-mail que não utilizasse a rede americana de troca de informações. Uma comitiva se encontrou na última quinta-feira (30) em Washington com Susan Rice, conselheira de segurança nacional. Qual sua avaliação sobre a forma como o Brasil conduz esse processo?

O Brasil faz a coisa certa ao insistir em querer saber o que os EUA fizeram contra o governo e as empresas daqui. Os EUA não estão cooperando.


O Brasil está defendendo sua independência porque isso significa: “não aceitamos a espionagem, queremos saber o que aconteceu e, se vocês não revelarem a verdade, nosso relacionamento vai mudar”. É impressionante a atitude do governo.

A respeito de seu novo projeto de mídia, que foi financiado por Pierre Omidyar, dono do Ebay, o que podemos esperar?

Achamos a mídia norte-americana muito fraca em relação ao governo, a grandes empresas e outros grupos poderosos. Eles têm medo. Não cumprem a obrigação básica do jornalismo, que é investigar o comportamento desses grupos. Nossa organização foi criada para fazer um jornalismo sem medo e para apoiar sua independência. O jornalismo é feito com paixão.

Como Pierre Omidyar pode influenciar nas decisões editoriais?

Bem, ele sabe que, se tentar se intrometer nas questões editoriais, o projeto acaba no mesmo instante. Ele está lidando com jornalistas que sempre trabalharam com muita independência, e não deixaremos que ninguém interfira nesse ponto.

De qualquer forma, ele não apoia o projeto para ganhar mais dinheiro; já tem o suficiente. Ele está apostando em algo diferente e para isso precisa dar liberdade aos jornalistas envolvidos com isso.


O fato de você recentemente ter relações profissionais com um inimigo público dos EUA dificulta o contato com suas fontes tradicionais?

Sim, mas muitas fontes também correm riscos para vazar documentos e só fazem isso porque acreditam que as pessoas devem saber dos fatos revelados. Eles não correriam esse risco se os jornalistas com quem eles se relacionam não fossem de confiança.

A questão da neutralidade da internet tem sido discutida recentemente nos EUA e aqui no Brasil. Como a interferência de grandes empresas de telecomunicação pode afetar a maneira como as pessoas consomem informação?

As grandes instituições e os governos têm medo de que as pessoas se tornem agentes de informação porque sabem que esse é o tipo de coisa que coloca limite na maneira como eles atuam, e aí todos poderão saber como eles abusam do poder.

Quanto mais as pessoas souberem de informações que antes eram escondidas, mais jornalistas e pessoas poderão se inspirar a realizar esse tipo de trabalho. Também é essencial que a relação do jornalista com as fontes e os assuntos aconteçam sem interferências.

Do contrário, o profissional pode ficar com medo de ser processado ou ir para a cadeia. A espionagem agrava isso. Sem a relação de confiança entre fonte e jornalista, o jornalismo pode ser morto e a informação que se consome estará comprometida.

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