Agência de notícias
Publicado em 14 de dezembro de 2024 às 18h31.
Ao ser preso na manhã deste sábado pela Polícia Federal (PF), Walter Braga Netto se tornou o primeiro general quatro estrelas — da mais alta patente — a ser detido desde a redemocratização. A última detenção de um militar deste nível ocorreu em 1922, durante a Velha República, com o marechal Hermes da Fonseca, que era à época ex-presidente.
Quem mandou prendê-lo foi o então mandatário Epitácio Pessoa, e em duas ocasiões no mesmo ano. Uma se deu por incentivar que as tropas do Exército não fossem conter uma rebelião em Recife e outra por suspeita de participação em um levante que destituiria Pessoa.
O contexto histórico diverge do atual. Hoje, Walter Braga Netto foi preso por suspeita de participar de uma trama golpista que sucedeu às eleições presidenciais de 2022, motivo pelo qual foi indiciado pela Polícia Federal.
A prisão deste sábado ocorre por tentativa de obstrução às investigações. Segundo decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ele teria tentado acesso às informações da delação premiada de outro investigado, o tenente-coronel Mauro Cid. Sua defesa, por sua vez, nega a acusação e afirma que irá comprovar que não houve tentativa de obstrução.
Ao contrário de Hermes da Fonseca, o ato pela detenção de Walter Braga Netto não partiu de decretos do Executivo, mas do Judiciário com base em uma investigação policial de uma corporação independente. Na avaliação de Michel Gherman, doutor em História Social pela UFRJ, o contexto histórico impede uma comparação:
"Há problemas em comparações feitas com elementos pontuais, a realidade é bem diferente. Estamos falando de um governo eleito democraticamente, depois da ditadura militar. Hermes da Fonseca é um dos três militares alçados à Presidência, suas prisões foram feitas por acusações de conspiração. No caso de Braga Netto, não é um caso isolado... Há outros militares indiciados", pondera o especialista.