Boulos e Nunes repetem ataques em debate da Globo e falam pouco da cidade
A dois dias da votação, que ocorre no próximo domingo, 27, candidatos pouco discutiram temas da cidade no primeiro bloco, que normalmente tem mais audiência
Publicado em 25 de outubro de 2024 às 23h10.
Última atualização em 25 de outubro de 2024 às 23h54.
O último debate da corrida eleitoral pela prefeitura da cidade de São Paulo, realizado pela TV Globo nesta sexta-feira, 25, foi marcado pela repetição de ataques e temas recorrentes entre o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL).
A dois dias da votação, que ocorre no próximo domingo, 27, os candidatos pouco discutiram propostas para a cidade nos blocos de tema livre, tradicionalmente o de maior audiência.
Nunes buscou questionar Boulos sobre posicionamentos como a desmilitarização da polícia, descriminalização do porte de drogas e segurança pública. Por outro lado, Boulos concentrou seus ataques na privatização do serviço funerário, na segurança no centro da cidade e na aliança de Nunes com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Quando o formato do debate exigiu que os candidatos abordassem temas como saúde, segurança e educação, bairros e regiões específicas da cidade foram citados brevemente.
Foram mais de dez pedidos de direito de resposta, sendo oito de Nunes e dois de Boulos. Cada candidato teve um direito de resposta concedido.
Primeiro bloco com muitos ataques
O primeiro bloco, de tema livre, foi iniciado por Nunes, que questionou Boulos sobre a falta de apoio ao projeto do deputado federal Kim Kataguiri (União-SP) de aumento de pena para criminosos. O atual prefeito repetiu uma pergunta feita no debate anterior da TV Record, no sábado, 19.
Boulos respondeu que não estava presente na sessão de votação, pois estava reunido com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O psolista aproveitou para se apresentar ao eleitor e destacar a importância da "mudança" na gestão da cidade.
Durante o confronto, o candidato do PSOL também questionou o emedebista sobre o custo para velar um corpo após a concessão dos cemitérios municipais. Nunes rebateu afirmando que a privatização seria uma medida para combater a corrupção e melhorar um dos serviços mais mal avaliados da cidade. O prefeito também voltou ao tema das drogas, perguntando sobre a posição de Boulos.
Boulos criticou Nunes por ter elogiado o ex-presidente Bolsonaro pela gestão da pandemia de covid-19, enquanto Nunes destacou que São Paulo se tornou a "capital da vacina" sob sua gestão. Nunes também acusou Boulos de querer retirar armas da Guarda Civil Metropolitana (GCM), o que foi negado pelo candidato do PSOL.
No encerramento do debate, Boulos acusou Nunes de tentar assustar os eleitores para influenciar o resultado da eleição.
No segundo bloco, candidatos focam na cidade
No segundo bloco, quando os candidatos deveriam fazer perguntas com temas escolhidos, o embate começou com Boulos questionando sobre o orçamento da cidade. O atual prefeito afirmou ter cuidado da saúde financeira do município e destacou que a gestão tem quase R$ 22 bilhões em caixa.
Nunes acrescentou que, graças a isso, foi possível abrir mais Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Ele também mencionou que a prefeitura distribui mais de 300 milhões de medicamentos por mês.
Boulos discordou, afirmando que a saúde municipal não melhorou sob a gestão de Nunes, especialmente devido à falta de medicamentos. Ele ainda acusou o prefeito de fechar outros equipamentos de saúde para inaugurar novos.
Na sequência, Nunes optou por discutir a criação de empregos. O prefeito ressaltou que sua gestão criou oportunidades e aumentou o número de vagas de trabalho na cidade. Ele então questionou Boulos sobre os programas "Meu Trampo" e "Avança Tech".
Boulos respondeu mencionando a criação do "CEU Profissões", projeto que visa oferecer cursos profissionalizantes para jovens no ensino médio. Aproveitou também para valorizar sua candidata a vice, Marta Suplicy (PT), e questionou Nunes sobre as reformas das escolas municipais.
Nunes afirmou estar realizando obras e voltou a promover os programas destinados aos jovens que buscam entrar no mercado de trabalho e nas profissões do futuro. O emedebista ainda questionou Boulos sobre empreendedorismo.
Em sua resposta, Boulos mencionou a proposta da deputada Tabata Amaral (PSB), o "Jovem Empreendedor", incluído em seu plano de governo. Ele também questionou Nunes sobre alegações de extorsão de vendedores ambulantes por fiscais municipais e reforçou as acusações de envolvimento do prefeito em escândalos de corrupção.
Neste bloco, Nunes pediu oito pedidos de direito de resposta, mas apenas um foi concedido.
Acusações sobre corrupção dominam terceiro bloco
Boulos abriu o terceiro bloco questionando o prefeito sobre o caso da máfia das creches e o suposto depósito de um cheque, investigado pela Polícia Federal, na conta pessoal de Nunes e não de sua empresa.
“Nunca tive um indiciamento, uma condenação”, afirmou o prefeito, negando as acusações e assegurando que todos os recebimentos de sua empresa foram fruto de serviços prestados. Nunes também mencionou o parecer de um promotor que classificou Boulos como um “criminoso solto”.
Boulos acusou o prefeito de desvalorizar a carreira dos professores ao dizer que ele não trabalhava e prometeu valorizar os profissionais da educação. O candidato do PSOL voltou a mencionar que o caso da máfia das creches ainda está sob investigação da PF e, como nos debates anteriores, questionou Nunes sobre a abertura de seu sigilo bancário.
Em um momento tenso, Nunes tentou usar o celular para, segundo ele, checar uma anotação, mas foi desautorizado pelo mediador, César Tralli. Nunes negou as acusações e voltou a afirmar que Boulos “depredou o prédio da Fiesp”.
Boulos negou a acusação e satirizou Nunes, dizendo que ele precisava de uma “bicicleta com rodinhas”, em que uma delas seria Tarcísio e a outra Bolsonaro, em referência aos padrinhos politicos do atual prefeito. Em seguida, Boulos insistiu na pergunta sobre a abertura de sigilo bancário para comprovar a ausência de irregularidades.
Nunes rebateu as críticas classificando Boulos como um candidato “extremista” e “radical” e questionou a posição do psolista sobre o voto contrário ao arcabouço fiscal na Câmara.
Boulos evitou a pergunta e trouxe à tona uma denúncia de contratos da prefeitura com o crime organizado, mencionando uma reportagem do UOL que citava Eduardo Olivatto, chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb). A reportagem indicava que Olivatto é irmão de Ana Maria Olivatto, ex-mulher de Marcola, chefe do Primeiro Comando da Capital (PCC). Nunes negou as acusações, afirmando que Olivatto já trabalhava em gestões anteriores.
Boulos insistiu no tema, mencionando um pedido de investigação do Ministério Público sobre Olivatto, alegando que ele estaria constrangendo servidores a fazer campanha para Nunes. O psolista tentou seguir com uma pergunta sobre a proximidade do prefeito com Olivatto no caso da máfia das creches, mas seu tempo foi encerrado.
Nunes acusou Boulos de não tratar de temas como o arcabouço fiscal e a cidade, e negou irregularidades em sua gestão. Antes do encerramento do bloco, Boulos obteve um direito de resposta e usou o tempo para reforçar as acusações de proximidade de Nunes com o ex-cunhado de Marcola.
Com ataques, candidatos falam de habitação de mobilidade
No último bloco, em que os candidatos voltaram a discutir temas escolhidos, Nunes optou por abordar a habitação. Ele questionou Boulos sobre o programa habitacional da prefeitura, o "Pode Entrar", destacando que é o maior da história da cidade.
Boulos respondeu que o programa é positivo e precisa de melhorias, mas ressaltou que o mérito é do ex-prefeito Bruno Covas, falecido em 2021, e não de Nunes. O candidato do PSOL então questionou o atual prefeito sobre o aumento da população de rua na cidade, afirmando que o número de pessoas em situação de rua dobrou durante a gestão de Nunes.
Nunes negou que a população de rua tenha dobrado e afirmou que os dados apresentados por Boulos são imprecisos. O prefeito valorizou as Vilas Reencontro, moradias transitórias para pessoas em situação de rua, e perguntou o que Boulos achava do programa.
Boulos insistiu sobre a população de rua e prometeu resolver o problema caso seja eleito. Ele também mencionou uma suposta tentativa de favorecimento de empresas no programa habitacional da prefeitura em 2023, que levou ao pedido de demissão do então secretário de Habitação, João Farias.
Na área da mobilidade, Boulos questionou o prefeito sobre a não construção da Ponte Gaivotas Granau, localizada no Grajaú, zona sul da cidade. Nunes justificou que o processo de licitação foi demorado, mas que a obra está em andamento, citando outras construções de sua gestão.
Boulos insistiu no tema, mencionando que um dos contratos da gestão do emedebista estaria vinculado ao PCC e acusou Nunes de ter reduzido a frota de ônibus. Em resposta, Nunes perguntou se Boulos acabaria com o subsídio às empresas de transporte, o que foi negado pelo candidato do PSOL.
O prefeito aproveitou para defender que o subsídio é essencial para manter o preço da tarifa congelado e garantir a gratuidade para estudantes de baixa renda e idosos.
Boulos, por sua vez, acusou Nunes de “não admitir um erro” e apontou falhas na gestão do transporte coletivo, destacando a falta de entrega da Ponte Gaivotas Granau e a duplicação da via M’Boi Mirim. Nunes alegou que essa última obra é responsabilidade do governo estadual, que tem dado continuidade por meio da gestão de Tarcísio de Freitas.
O emedebista questionou a posição de Boulos sobre o VLT no centro da capital. Boulos afirmou que o governo federal já garantiu recursos para a obra por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e lembrou que, durante o governo de Bruno Covas, a gratuidade da tarifa para idosos foi revogada.
Nas considerações finais, os dois candidatos agradeceram os eleitores e reforçaram o pedido de voto. Nunes defendeu a sua gestão e disse que vai fazer mais. Boulos afirmou que quer ser o candidato da mudança e o seu adversário já teve a chance.