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Bom desempenho de geradoras de energia não deve se repetir

Desempenho não deverá se manter diante da expectativa de perdas por déficit maior na produção de hidrelétricas ao longo do ano


	Cabos de transmissão de energia elétrica próximos a usina de Itaipu, em Foz do Iguaçu: entre as geradoras que podem ser mais afetadas a partir de agora está a Eletrobras
 (Dado Galdieri/Bloomberg)

Cabos de transmissão de energia elétrica próximos a usina de Itaipu, em Foz do Iguaçu: entre as geradoras que podem ser mais afetadas a partir de agora está a Eletrobras (Dado Galdieri/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 21 de maio de 2014 às 18h50.

São Paulo - O forte desempenho das geradoras de energia elétrica no primeiro trimestre não deve se manter em todo 2014, segundo especialistas do setor, diante da expectativa de perdas por déficit maior na produção de hidrelétricas ao longo do ano e pela estratégia de sazonalização de eletricidade das companhias.

Redução de contratos de energia e mudança nas regras para redução do Preço de Liquidação de Diferenças (PLD) já são algumas da alternativas mencionadas para evitar que geradoras tenham gastos que podem chegar a 24 bilhões de reais.

Isso ocorre uma vez que o governo federal afirma que não aportará mais recursos para ajudar o setor elétrico, após já ter feito desembolsos para distribuidoras.

Mas mesmo essas alternativas enfrentam oposição no setor elétrico e, sem solução para mitigar esses gastos, a expectativa é de que algumas geradoras que não têm sobra de energia no portfólio para se proteger possam ter resultados negativos já no segundo trimestre.

“No próximo trimestre, vem prejuízo pesado para geradoras por conta do GSF”, disse o coordenador do Grupo de Estudos do Setor de Energia Elétrica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Gesel;UFRJ), Nivalde de Castro, à Reuters.

O GSF (Generating Scaling Factor) mede o déficit no volume de energia gerado pelas hidrelétricas e deve ficar acima de 8 por cento no ano, segundo estimativas citadas por executivos de geradoras durante teleconferências sobre resultados do primeiro trimestre.

O professor Nivalde lembra que a maioria das geradoras não trabalha com reservas de energia acima de 5 por cento para servir de proteção em situações como as vividas atualmente.

Para ele, entre as geradoras que podem ser mais afetadas a partir de agora está a Eletrobras, já que vendeu grande quantidade de sua energia disponível para o ano no leilão de energia A-0, realizado em abril.

Em teleconferência com analistas nesta semana, o diretor-financeiro da Eletrobras, Armando Casado de Araújo, disse que as condições de preço oferecidas do leilão foram muito significativas.

"Existe alguma coisa sim que a gente deixou como reserva", disse o executivo quando questionado sobre se a empresa tem sobra de energia para se proteger ao longo do ano, sem revelar os valores.

Por outro lado, as empresas que não renovaram concessões de geração de energia conforme as regras do governo federal, ao final de 2012, devem ser as menos afetadas, já que têm energia descontratada dessas concessões para usar como um hedge.

Essas geradoras são principalmente, Cemig e Cesp. O lucro da primeira saltou mais de 40 por cento e o lucro da segunda mais que dobrou no primeiro trimestre.

Ainda assim, mesmo essas geradoras não estão completamente protegidas, caso tenham alocado a maior parte de sua energia nos primeiros meses do ano.

"A situação não está boa para ninguém, para nenhum gerador", disse o diretor de Planejamento e Controle da Tractebel, Edson Luiz da Silva, a jornalistas, após palestra em evento da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) nesta quarta-feira.

"Independentemente do que você fez, tem algo que você não consegue compensar que é o aumento substancial da geração termelétrica tirando o espaço da hidro... Dependendo do que cada um fez, ele vai minorar ou piorar a sua situação", acrescentou.

Alocação de Energia

A sazonalização de energia é feita pelas geradoras antes do início de cada ano com base nas estimativas de cada gerador para o ano seguinte.

Grande parte das hidrelétricas do país alocaram maior volume de sua energia do ano no primeiro trimestre, na expectativa de obter mais ganhos com essa estratégia, já que apostavam que o preço de energia de curto prazo (PLD) cairia a partir de abril.

“Esperava-se que até abril os reservatórios se recuperassem, o que não aconteceu”, disse Silva, da Tractebel.

Como os reservatórios das hidrelétricas não se recuperaram, a geração hidrelétrica deverá ser bem menor que o previsto anteriormente pelas geradoras, para poupar as represas que estão em níveis historicamente baixos.

Além da estratégia de alocação de energia, a exposição das geradoras tende a aumentar porque o consumo de carga de energia no sistema deve reduzir, diante da diminuição das temperaturas tradicional do período.

Com a redução da carga, diminui a necessidade de geração de energia pelo sistema, permitindo que os reservatórios das hidrelétricas sejam ainda mais poupados, procedimento operativo que costuma ocorrer nestas situações.

Assim, grande parte das geradoras pode ter fortes ganhos conquistados no primeiro trimestre anulados ao longo do ano, já que ficarão expostas a uma possível escassez de energia contratual ao longo do ano.

"Na média, o resultado das geradoras tem que ser analisado ao longo do ano. O resultado do primeiro trimestre pode se reverter para frente”, disse o presidente da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica (Apine), Luiz Fernando Vianna.

Geradoras têm pedido uma solução para a exposição ao longo do ano e preparam estudos com soluções para apresentar ao governo federal.

Mas alguns argumentam que o risco hidrológico é o risco do negócio das geradoras, com o qual elas têm que lidar.

Edson Luiz da Silva, da Tractebel, rebate, dizendo que nenhuma geradora costuma deixar descontratado um volume de energia tão grande quanto o que deverá ser necessário para enfrentarem uma situação crítica como a atual.

Ele acrescentou que a alteração da regra no cálculo do PLD, que provocou a elevação do preço a partir de setembro do ano passado, também acabou elevando o impacto da exposição para as companhias.

"O cálculo do PLD foi mudado no meio do processo. Antes, eu poderia estar exposto, mas num patamar de preço mais baixo que o atual. Se não houvesse a mudança de regra ao longo do processo, eu teria condições de uma outra decisão”, disse.

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