Bolsonaro: se não houver volta a emprego semana que vem, vou tomar decisão
Como alternativas, o presidente fala em autorizar o retorno às atividades dos comerciantes; medidas vão contra todas as orientações de órgãos de saúde
Estadão Conteúdo
Publicado em 2 de abril de 2020 às 21h37.
Última atualização em 3 de abril de 2020 às 09h46.
O presidente Jair Bolsonaro reforçou que as questões do "vírus e desemprego não podem ser tratadas de forma dissociada" no Brasil e defendeu o afrouxamento das regras de quarentena. Segundo o presidente, se a partir da próxima semana "não começar a voltar o emprego, vou ter de tomar uma decisão".
Entre as alternativas, Bolsonaro, em entrevista à rádio Jovem Pan sugeriu "numa canetada" autorizar o retorno às atividades dos comerciantes, que, segundo o presidente, "levaram uma paulada no meio da testa com as medidas tomadas por alguns governadores".
"Eu tenho um projeto de decreto pronto para ser assinado, se for preciso, que considera como atividade essencial toda aquela indispensável para levar o pão para casa todo dia", afirmou o presidente.
Segundo ele, "enquanto o Supremo ou o Legislativo não suspender os efeitos do meu decreto, o comércio vai ser aberto. É assim que funciona". Bolsonaro ainda disse que não montou um Ministério "colado" ao Legislativo e descartou que os militares possam atuar na reabertura do comércio.
O presidente voltou a pedir que os governadores e prefeitos revejam as posições sobre o isolamento. "Mais prudente seria abrir de forma paulatina o comércio a partir da próxima semana", disse o presidente.
Bolsonaro defendeu que as políticas de isolamento podem levar ao aumento do número de mortes por causa das políticas de quarentena.
"Quando você isola e leva ao desemprego, junto do desemprego vem a subnutrição, o organismo fica mais debilitado. Essa pessoa vai ficar mais propensa a contrair um vírus - esse próprio aí, o coronavírus -, que terá uma letalidade até maior" defendeu o presidente.
"Entre morrer de vírus e uma parcela maior que poderá morrer de fome, depressão e suicídio, há uma diferença muito grande", disse.
O posicionamento do presidente vai contra todas as indicações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do próprio Ministério da Saúde, que defendem a quarentena e o isolamento social para conter o vírus que já infectou mais de um milhão de pessoas em todo o mundo.
O próprio vice-presidente, Hamilton Mourão, afirmou em entrevista nesta quinta-feira, 2, que o país ainda está no período pré-pico e medidas de isolamento seguem sendo necessárias.
Para ele, o isolamento social deve ser aplicado “no sentido de passarmos por esse mês de abril, em que se espera que o pico diminua, e alcancemos o achatamento da curva”. Isso permite tanto preparar o sistema de saúde para os doentes quanto receber os insumos necessários.
Líderes de diversos países estão defendendo e cumprindo a quarenta com o fechamento de comércio e de atividades, liberando apenas serviços essenciais. Os esforços buscam conter a disseminação do coronavírus.
No Brasil, ainda não foi atingido nem o pico da doença e médicos, em reunião com o presidente, afirmaram ao líder do Executivo que não é possível acabar com o isolamento neste momento.
Casos no país
O último balanço divulgado pelo Ministério da Saúde nesta quinta-feira, 2, mostra que o Brasil tem 7.910 casos confirmados decoronavírus(causador da covid-19). Assim como nos últimos dois boletins, o número de infectados subiu mais de mil em apenas 24 horas. No total, foram 1.064 a mais em relação ao dia anterior.
O número de mortes confirmadas cresceu 58 em um dia e somam 299. A maior parte dos óbitos (90%) é de pessoas com mais de 60 anos. A taxa de letalidade subiu de 3,5% para 3,8%.
“Estamos aumentando e automatizando os testes. Isso gera uma capacidade maior de resultados. Nós vamos pegar tudo o que está parado. Vamos chegar em um teste quase em tempo real”, disse o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, nesta quarta, explicando o aumento de mais de mil casos confirmados nos últimos três dias.