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Bolsonaro quer governo sem “toma lá dá cá”, mas não diz como

Pré-candidato à presidência tem ideias bem definidas sobre os princípios morais que devem reger o Brasil, mas poucas sugestões sobre como aplicá-las

Jair Bolsonaro (./Bloomberg)

Jair Bolsonaro (./Bloomberg)

Luiza Calegari

Luiza Calegari

Publicado em 27 de novembro de 2017 às 18h29.

São Paulo – O deputado e pré-candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSC) não parece ter pensado muito sobre como aplicar seus preceitos morais ao sistema democrático.

Durante o evento Amarelas Ao Vivo, promovido pela revista VEJA nesta segunda-feira (27) em São Paulo, o deputado reforçou que não é adepto do modo “toma lá dá cá” de fazer política, ou seja: a negociação de cargos em troca de apoio a propostas no Congresso. Mas não apresentou ideias concretas sobre a aplicação de seus preceitos. Quando questionado, ele responde de forma vaga. “Quem quiser vai ter que nos apoiar sem ganhar cargos em troca. Já estou conversando com alguns parlamentares para viabilizarmos isso”, afirma.

Vale lembrar que o relacionamento entre Executivo federal e Congresso é o maior desafio para da democracia brasileira. Afinal, a falta de articulação com o Congresso foi uma das razões para o impeachment de Dilma Rousseff ao mesmo tempo em que a troca de favores com os parlamentares  explica a permanência de Michel Temer no poder e o avanço das propostas de seu governo.

Em outros termos: ter uma noção clara de como garantir governabilidade sem o fisiologismo será um tema importante para as eleições do ano que vem.

Bolsonaro também não mencionou a crise de representatividade, citada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, no mesmo evento. “O problema do nosso sistema é que a pessoa não sabe quem elegeu, e o político não sabe a quem ele representa”, diz o ministro, que apoia o voto distrital como forma de aproximar o político e a população.

Questionado sobre qual seria sua atitude se suas propostas entrassem em choque com o ponto de vista do STF, que tem a missão de resguardar a Constituição Federal, o deputado erespondeu: “nesse caso, chama o presidente do STF para conversar” – sem mencionar, portanto, o fato de que visitas de um outro ministro da Corte, Gilmar Mendes, ao presidente Michel Temer fora da agenda oficial são fonte constante de escândalos na vida política brasileira.

Ele mostrou, isso sim, um apreço irredutível pela época da ditadura militar citando a coluna em que o jornalista Roberto Marinho justificou, no jornal “O Globo”, em 1984, o apoio ao golpe militar. Bolsonaro sabe a citação de cabeça: “Participamos da Revolução de 1964, identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada”.

A própria Globo reconheceu, posteriormente, que o apoio à ditadura militar tinha sido um erro. Quanto a isso, Bolsonaro respondeu que aconteceu “só depois que o Roberto Marinho morreu”. Ele até tem um general preferido da época: “Médici, que aniquilou a guerrilha do Araguaia. Se ele não tivesse botado para quebrar na época, teríamos Farc (guerrilha colombiana) na Amazônia até hoje”.

Outra pedra no sapato de Bolsonaro (além do “kit gay”, que ele continua citando) é a atuação da China no mercado brasileiro. “A China não está comprando no Brasil, ela está comprando o Brasil”, ele gosta de repetir.

Depois do anúncio de que o economista Paulo Guedes poderia encabeçar a equipe econômica no caso de o deputado ser eleito, um jornalista perguntou como ele respeitaria o processo de licitações se a China fizesse as melhores ofertas, como vem ocorrendo nos últimos leilões do governo. “Uma hora o dinheiro deles acaba”, foi a única resposta de Bolsonaro.

Pressionado por mais precisão em suas declarações, Bolsonaro saiu pela tangente: “Eu não tenho amor pelo poder. Não preciso ser eleito presidente. Dilma disse que faria o diabo pra chegar lá. Eu não. Eu só vou até onde Deus me deixar. Só vou ser eleito se Deus quiser”.

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