Sergio Moro: pressão de parlamentares para que ex-juiz da Lava Jato perca o comando sobre o Coaf (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 30 de abril de 2019 às 07h55.
Última atualização em 30 de abril de 2019 às 07h56.
Quatro dias após admitir a retirada do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Justiça e Segurança Pública, para entregá-lo ao Ministério da Economia, o presidente Jair Bolsonaro recuou e agora defende a manutenção do órgão na pasta do ministro Sérgio Moro. Como revelou o jornal O Estado de S. Paulo, a eventual troca fazia parte de uma negociação do governo para aprovar, no Congresso, medida provisória que reorganizou os ministérios.
"A posição do senhor presidente, neste momento, é de manutenção do Coaf junto ao Ministério da Justiça", disse nesta segunda-feira, 29, o porta-voz do Planalto, Otávio do Rêgo Barros. Ele admitiu, no entanto, que segue em estudo a possibilidade de o órgão retornar para o Ministério da Economia, comandado por Paulo Guedes. "Estudos prosseguem no sentido de analisar se essa decisão inicial do nosso presidente deve ser referendada ou eventualmente retificada", afirmou Rêgo Barros.
Durante café da manhã com jornalistas na semana passada, Bolsonaro disse não se opor a "voltar o Coaf para o Ministério da Economia, apesar de o Paulo Guedes estar com muita coisa". "Falei hoje (quinta-feira) com o Fernando Bezerra (relator da MP que trata da reforma administrativa). Se não aprovar (a MP), será uma bagunça", afirmou o presidente.
A reação de Moro foi imediata. Ainda na quinta-feira, ele disse que estava "conversando com os parlamentares para manter o Coaf no Planalto". "E esperamos convencê-los."
Em um evento na sexta-feira em Minas Gerais, Moro voltou a fazer a defesa da permanência do Coaf. A marcação de posição também foi feita no Twitter. Em sua conta, o ministro afirmou que a possível mudança "não é o melhor". O ex-juiz titular da Lava Jato em Curitiba afirmou, também, que Paulo Guedes não quer a transferência do órgão para a Economia.
Guedes disse ao jornal que não quer o Coaf de volta ao guarda-chuva da Economia. Interlocutores da equipe econômica alegam que ele prefere não comprar briga com Moro.
Apesar da sinalização de recuo de Bolsonaro, o deslocamento do Coaf, neste momento, foge ao seu controle. O presidente da comissão especial mista do Congresso que analisa a medida provisória que reestruturou a Esplanada dos Ministérios, deputado João Roma (PRB-BA), afirmou que há pressões para sustentar a mudança de endereço. "O governo precisa se preocupar agora, menos em externar opinião, e mais para contornar movimentos políticos nesse sentido", disse ele.
A MP recebeu 539 emendas - algumas delas pedem que o Coaf volte para a área econômica. A alteração é defendida pelo Centrão, que compõem o colegiado com algumas de suas principais lideranças, e que considera o Coaf uma arma poderosa demais nas mãos do ex-juiz da Lava Jato. Ao Estado, Bezerra Coelho disse que o governo está em fase de avaliação de todas as demandas - "inclusive a proposta do Coaf, entre outras". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.