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Bolsonaro faz desagravo a Salles em motociata de SP

“O Ministério do Meio Ambiente era aparelhado e (Salles) fez um excelente trabalho”, afirmou Bolsonaro na manifestação de motociclistas a favor de seu governo

Jair Bolsonaro em motociata em São Paulo no dia 12 de junho. (Rodrigo Paiva/Getty Images)

Jair Bolsonaro em motociata em São Paulo no dia 12 de junho. (Rodrigo Paiva/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 13 de junho de 2021 às 08h50.

O presidente Jair Bolsonaro liderou ontem em São Paulo uma manifestação de motociclistas a favor de seu governo. A motociata levou ao fechamento da pista central da Marginal do Tietê, principal artéria da cidade, e da Rodovia dos Bandeirantes entre a capital e Jundiaí, no interior, em um trecho de pouco mais de 50 quilômetros, até retornar e acabar na região do Parque do Ibirapuera.

Ao final da manifestação, o presidente fez um discurso de cunho eleitoral em um caminhão de som em que reforçou suas posições contrárias aos procedimentos recomendados pelos cientistas para evitar a proliferação do novo coronavírus. Ele também aproveitou o ato para fazer um desagravo ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, alvo de investigações no âmbito do Supremo Tribunal Federal por suspeita de atuar a favor de madeireiros na Amazônia e por obstruir uma apuração da Polícia Federal que culminou na maior apreensão de madeira ilegal da história do País.

Bolsonaro voltou a contestar o uso de máscaras, criticou ações para garantir distanciamento social e fez nova defesa do “tratamento precoce” contra a covid-19 com uso de cloroquina - apontado como ineficaz pela comunidade científica. O presidente esteve sem máscara durante todo o ato e foi multado pelo governo de São Paulo por este motivo. Os deputados federais Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli (ambos PSL-SP), e os ministros da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, e da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, também.

Tarcísio discursou na manifestação, e foi aclamado pelo público como “governador”. Ele é tido como possível candidato do presidente ao Palácio dos Bandeirantes no ano que vem.

Os motociclistas que acompanharam o presidente, vindo especialmente de moto clubes da capital, do interior de São Paulo e dos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná, estavam em um número suficiente para circular o complexo do Anhembi, na zona norte, onde ocorreu a concentração, em uma fila de 5 quilômetros de extensão. Segundo a Polícia Militar, 12 mil motociclistas participaram do ato. Muitos deles portavam bandeiras do Brasil e não usavam máscaras. No Ibirapuera, havia ainda faixas contra o Supremo Tribunal Federal, a favor do “voto impresso auditável” e pedindo “intervenção militar”.

‘Excelente trabalho’. Salles permaneceu no carro de som ao lado do presidente. “O Ministério do Meio Ambiente era aparelhado e (Salles) fez um excelente trabalho”, afirmou Bolsonaro. O ministro discursou por cerca de um minuto, e repetiu o slogan do presidente “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.

Ao agradecer os motociclistas pela motociata, Bolsonaro voltou a comentar um benefício já prometido para a categoria, de isenção de tarifas de pedágios em novas concessões rodoviárias executadas pelo governo.

Ele participou do evento vestindo um colete do representante de uma associação de proprietários de motocicletas Harley Davidson do Espírito Santo durante a visita ao Estado anteontem. “Acho que ele ficou satisfeito”, disse Marcus Fly, que não viajou a São Paulo para acompanhar o evento.

Capacete. Durante o trajeto de moto, Bolsonaro utilizou um capacete do tipo coquinho, que não protege o maxilar nem possui viseira. O uso desse equipamento é proibido pela Resolução 453/2013 do Conselho Nacional de Trânsito. É considerado uma infração grave, sujeita a multa.

A Polícia Militar registrou ao menos um acidente no comboio, no km 30 da Rodovia dos Bandeirantes. Imagens da Band News mostram o momento em que motociclistas caem. As vítimas não sofreram ferimentos graves.

O presidente uniu uma série de posições negacionistas de seus aliados em um único discurso, que buscou apresentar uma versão diferente da que o Brasil é um dos lugares com mais mortes por covid-19 no mundo. Até agora, 482 mil pessoas já morreram por causa do coronavírus no País.

Essa junção de teses afirma que o número de mortes no Brasil é superestimado e, caso fosse correto, o País teria menos mortes por 100 mil habitantes do que em outros países. Esse número menor seria resultado do tratamento precoce com uso de cloroquina defendido por ele e seus aliados. O discurso durou 28 minutos.

“O documento produzido pelo Tribunal de Contas União (TCU) que, apesar de não ser conclusivo, é bastante objetivo. O critério usado para governadores buscarem recursos era o número de óbitos por covid. Houve sim, pelo que tudo indica, a super notificação de casos de covid”, afirmou. “Quem aqui nunca ouviu de pessoas que reclamaram que seu ente querido faleceu de outra doença, e que colocaram como covid?”, questionou.

O documento do TCU que fala de super notificação, citado pelo presidente, foi questionado pelo órgão, que apura a conduta do servidor que produziu o documento.

Bolsonaro voltou ainda a criticar o uso de máscaras. “Eu propus ao ministro da Saúde que estude a possibilidade, levando-se em conta a ciência, de podemos ou não sugerir a não obrigatoriedade de máscaras para quem já contraiu o vírus ou já foi vacinado”, disse o presidente. “O vacinado não tem como transmitir o vírus” disse o presidente (na verdade, mesmo quem já tomou a segunda dose pode ser infectado e transmitir a doença, mas tem reduzida as chances de precisar de internação e morrer).

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