A presidente da CCJ, Bia Kicis, compartilhou um vídeo em que Wesley Góes aparece momentos antes de atirar para o alto (Pablo Valadares/Agência Câmara)
Estadão Conteúdo
Publicado em 30 de março de 2021 às 08h43.
Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro usaram nesta segunda-feira, 29, a morte do soldado da PM da Bahia Wesley Soares Goes — abatido na véspera por colegas de corporação após um surto em frente ao Farol da Barra, em Salvador — para criticar medidas de isolamento social determinadas pelo governador Rui Costa (PT) e estimular um motim. Em cerca de quatro horas de negociação, Goes havia disparado diversas vezes para o alto enquanto gritava palavras de ordem e foi abatido após atirar contra policiais.
Nas redes sociais, as hashtags #Surtou e #RuiCostaGenocida estiveram entre os assuntos mais comentados do Twitter na manhã de ontem. O governo do Estado diz que a operação seguiu todos os protocolos.
A deputada Bia Kicis (PSL-DF), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, compartilhou um vídeo em que Wesley Góes aparece momentos antes de atirar para o alto — o trecho compartilhado pela parlamentar não mostra o disparo que o soldado fez na direção dos colegas.
"Soldado da PM da Bahia abatido por seus companheiros. Morreu porque se recusou a prender trabalhadores. Disse não às ordens ilegais do governador Rui Costa da Bahia. Esse soldado é um herói. Agora a PM da Bahia parou. Chega de cumprir ordem ilegal!", escreveu no Twitter. Após repercussão, Kicis apagou a postagem para "aguardar as investigações".
Policiais realizaram protestos ontem em Salvador contra a morte do soldado. O deputado estadual Soldado Prisco (PSC), que se forjou politicamente após liderar motins da polícia baiana, publicou nas redes sociais sua participação em um dos atos em que aparece sugerindo que a corporação deveria "parar". "Mataram um policial, mataram um trabalhador. Até quando vocês vão aceitar isso? Mataram o policial. A hora de parar é agora, eu convoco vocês", disse. Em outro vídeo, o parlamentar bolsonarista chamou grupos de apoio ao presidente dentro da PM para iniciar manifestações. O vídeo foi compartilhado pelo deputado federal Daniel Silveira (PSL), ex-PM do Rio, que está em prisão domiciliar por publicar vídeo.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) compartilhou o mesmo vídeo e afirmou que "aos vocacionados em combater o crime, prender trabalhador é a maior punição", escreveu. "Esse sistema ditatorial vai mudar. Protestos pipocam pelo mundo e a imprensa já não consegue abafar. Estão brincando de democracia achando que o povo é otário. Que Deus conforte os familiares do PM-BA".
O deputado José Medeiros (Podemos-MT) publicou nas redes sociais uma imagem do governador Rui Costa com as mãos sujas de sangue. "Quem imaginaria que um soldado da PM baiana iria dar o brado preso na garganta dos trabalhadores brasileiros e pagaria com a vida esse ato de coragem."
A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) também compartilhou o vídeo de Wesley. "Sinto muito a morte do PM-BA. É muito difícil aguentar tanta pressão."
O presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, engrossou o coro. "Soldado Wesley Soares Góes, um patriota da Bahia que não aceitou cumprir as ordens do petista Rui Costa, foi executado. Minha homenagem a esse guerreiro brasileiro."
Protocolo
Em nota, após lamentar o ocorrido e manifestar solidariedade à família do soldado morto e aos policiais envolvidos na operação, o governador Rui Costa afirmou que o final de semana foi "de ataque a mim e a governadores e prefeitos do Brasil inteiro, mas não iremos nos intimidar com mentiras e ameaças". "Reafirmo meu compromisso com o enfrentamento da pandemia e com a saúde e a vida dos baianos e baianas. Continuaremos lutando dia após dia por mais vacina."
Também em nota, a PM-BA "lamenta profundamente o episódio" e diz que a corporação "adotou protocolos de segurança e o policial militar ferido foi socorrido imediatamente pelo SAMU".
16 Estados denunciam "desestabilização"
Dezesseis governadores assinaram ontem uma carta denunciando "uma onda crescente de agressões e difusão de fake news que visam a criar instabilidade institucional nos Estados e no País". A carta é uma reação à tentativa bolsonarista de insuflar um motim na PM baiana.
"Vivemos um período de emergência na saúde, e a vida de todos os brasileiros está em grave risco." Entre outros, assinam a carta os governadores da Bahia, Rui Costa (PT), de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB).
"Alguns agentes políticos espalham mentiras sobre dinheiro jamais repassado aos Estados, fomentam tentativas de cassação de mandatos, tentam manipular policiais contra a ordem democrática, entre outros atos absurdos."
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