“Bolso-exit” acende debate sobre futuro dos partidos
Presidente que chegou a Brasília falando em reforma política agora busca forma de deixar o PSL e levar consigo o fundo partidário
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2019 às 07h02.
Última atualização em 10 de outubro de 2019 às 07h52.
Em mais uma mostra da capacidade de criar e inflar suas próprias crises, o governo e seus aliados amanhecem nesta quinta-feira concentrados nos desdobramentos do embate entre Jair Bolsonaro e seu partido, o PSL. Após a revista VEJA divulgar, ontem, que o presidente já havia decidido abandonar a legenda, ele veio a público afirmar que as discussões com o partido são “briga de marido e mulher”.
Ninguém sabe ao certo o que isso quer dizer, mas o fato é que Bolsonaro e seu núcleo mais próximo estudam um desembarque do partido que lhe deu guarida na corrida presidencial.
A mudança não é motivada por desavença ideológica, mas uma tentativa de extirpar as crescentes ligações do presidente a candidaturas laranja do partido, envolvendo seu não-demitido ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio.
Pelo Twitter, Carlos Bolsonaro, responsável pelas redes sociais do pai, afirmou ontem que “se quisermos um país decente” “teríamos que ter candidaturas independentes”. O debate sobre as candidaturas avulsas será pauta do Supremo Tribunal Federal em 9 de dezembro. Para seus defensores, o modelo traria mais liberdade política; para os críticos, pode inviabilizar as campanhas e a rotina da política pelo excesso de candidaturas e pela ausência de uma mínima organização programática. Para este grupo, o que está ruim pode ficar pior.
Um lado curioso no embate entre Bolsonaro e o PSL é que o presidente estaria negociando uma saída que o permitisse levar o fundo partidário de 8 milhões de reais mensais e outros recursos que podem chegar a 700 milhões de reais em quatro anos. A ideia seria levar o dinheiro para o Conservadores, partido em gestação por outro filho do presidente, Eduardo. O debate pode ter implicação direta nas eleições municipais de 2020, em que aliados a Bolsonaro despontam como favoritos em grandes cidades.
As discussões partidárias com viés pessoal reforçam que Bolsonaro deixou em terceiro plano a reforma política que defendia no início do mandato. Um dos pilares era a proibição da reeleição presidencial, o que justificaria sua permanência na cadeira presidencial por apenas quatro anos. Outra proposta defendida por ele era a redução no número de deputados, dos atuais 513 para 400.
Outra reforma no Estado, esta sim com potencial de avanço, é a administrativa, que vem sendo tratada com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ela muda, entre outros pontos, a carreira do servidor público. A equipe econômica defende o fim da estabilidade, mas Bolsonaro já disse ser contra. O debate, importante para o país, ficou em segundo plano, engolido pelo “Bolso-exit”.