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BNDES barra US$ 4 bilhões de obras da Odebrecht

Os desembolsos do BNDES para obras no exterior em contratos firmados com empreiteiras brasileiras foram suspensos em outubro do ano passado

Logo da Odebrecht na sede do Peru (Guadalupe Pardo/Reuters)

Logo da Odebrecht na sede do Peru (Guadalupe Pardo/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 12 de março de 2017 às 12h01.

São Paulo - Do total de US$ 7 bilhões em contratos suspensos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), quase US$ 4 bilhões em recursos públicos eram referentes a empreitadas da Odebrecht em Angola, República Dominicana e Venezuela.

Os desembolsos do BNDES para obras no exterior em contratos firmados com empreiteiras brasileiras foram suspensos em outubro do ano passado pelo banco de fomento nacional.

Para retomar os financiamentos, o BNDES está obrigando que os países e a empreiteira assinem um "termo de compliance", no qual afirmam que não há vícios entre eles.

O avanço das investigações e as delações da Odebrecht na Operação Lava Jato indicam que Angola, República Dominicana e Venezuela - os três países que na última década mais receberam dinheiro do BNDES - terão dificuldades para rever os financiamentos nos contratos com a empreiteira.

As delações da Odebrecht nas questões internacionais deverão permanecer em sigilo, mas, na semana passada, o ex-executivo da empresa ligado ao Setor de Operações Estruturadas - o Departamento da Propina - Hilberto Mascarenhas disse, em depoimento à Justiça Eleitoral, que a empresa pagou o marqueteiro João Santana para atuar em campanhas presidenciais de cinco países, entre eles justamente os três maiores credores do BNDES.

Esses países representam 85% dos financiamentos de obras da Odebrecht que foram suspensos, ou US$ 3,3 bilhões.

Proibitivo

Se ficar comprovado que houve ato de corrupção nos contratos assinados, o termo de compliance tem um custo proibitivo para os envolvidos.

Além do pagamento de multa, tanto os países quanto a Odebrecht terão de quitar imediatamente toda e qualquer dívida que tenham com o banco. O próprio Departamento de Justiça americano, no acordo anticorrupção assinado com a construtora, já apontou haver corrupção em contratos externos.

O diretor de Exportação do BNDES, Ricardo Ramos, disse que o BNDES também vai verificar cada um dos 25 contratos suspensos para checar o grau de andamento do empreendimento, os outros financiamentos envolvidos na obra, o risco do país e o próprio risco de a empreiteira finalizar ou não o projeto - 15 deles são da Odebrecht.

Devedor

Em um financiamento à exportação de serviços, o país contratante da obra passa a ser o devedor do banco brasileiro. Esse tipo de recurso é muito usado por países como Estados Unidos, França e Alemanha.

"Isso é um jogo jogado de países", afirmou Ramos, acrescentando que, para um país em recessão, a exportação é essencial para a retomada. "Mas vamos ter de juntar os caquinhos para voltar a ter obras financiadas no exterior. O Brasil é bom em construção, mas talvez mudem as empresas."

A Odebrecht, em nota, informou que não faz declarações sobre depoimentos prestados em sigilo. Os advogados de Santana e Mascarenhas não responderam à reportagem.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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