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Bancos suíços aumentam fiscalização de políticos brasileiros

Depois da Lava Jato, bancos suíços aumentaram a fiscalização sobre o dinheiro dos políticos brasileiros aplicado no país

Eduardo Cunha: ex-presidente da Câmara dos Deputados teve conta bloqueada na Suíça (Adriano Machado/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 19 de setembro de 2016 às 14h47.

Zurique - A eclosão da Operação Lava Jato no Brasil e das investigações por parte do Ministério Público Suíço levaram os bancos da Suíça a aumentar o controle sobre contas de brasileiros no país.

Em alguns casos, chegam até a se recusar transferências de político ou funcionário público brasileiro. "O escrutínio passou a ser muito maior hoje, com certeza", declarou o presidente da Associação de Bancos da Suíça, Patrick Odier, um dos banqueiros mais influentes do país.

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No total, mais de mil contas em 42 bancos e com US$ 800 milhões foram bloqueadas na Suíça, num dos maiores casos de corrupção já investigado no país.

Entre os correntistas estavam o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o ex-marqueteiro do PT, João Santana.

"O fato de termos encontrado tantas instituições suíças nesse caso é algo que lamentamos muitos", disse Odier. Num raro discurso de mea culpa, o banqueiro não nega os erros das instituições. "Lamentamos muito", insistiu.

O próprio banco de Patrick Odier, o Lombard Odier, foi um dos que abriu contas para ex-dirigentes da Petrobras. O ex-diretor da área Internacional da estatal Jorge Zelada e o ex-gerente de Engenharia Pedro Barusco também eram correntistas na instituição.

Segundo as investigações, menos de quatro meses após a deflagração da Operação Lava Jato, em 25 de julho de 2014, Zelada solicitou a transferência de valores da Suíça para Mônaco.

"Jorge Luiz Zelada, após a deflagração das primeiras fases ostensivas da Operação Lava Jato, a fim de ocultar os recursos ilícitos que mantinha na Suíça com a ajuda de Denise Kos (gerente do banco) solicitou, em julho de 2014, a transferência dos valores mantidos no banco Lombard Odier Darier Hentsch and Cie para o banco Julius Baer, em Mônaco", aponta o documento subscrito pelo delegado Filipe Hille Pace.

'Paraíso fiscal'

Entre os banqueiros, a proliferação de descobertas relacionadas ao bancos suíços voltou a reforçar a imagem pelo mundo de que o país seria um paraíso para dinheiro sujo - uma imagem que a Suíça tenta se desfazer.

Segundo fontes em Zurique, os bancos passaram a acompanhar com atenção o noticiário brasileiro para identificar imediatamente qualquer implicação de um de seus correntistas em investigações. O MP suíço também circulou um pedido de cooperação aos bancos.

Para os novos clientes, a ordem é abandonar a velha prática de se evitar perguntar sobre a origem dos recursos.

"Não podemos ver isso como positivo para o centro financeiro suíço", admitiu Odier, lembrando que a Suíça "não era a única" a receber dinheiro dos ex-dirigentes e políticos brasileiros. Para Odier, o fato de o caso envolver um número "elevado de bancos" ocorre por conta da atratividade da Suíça em lidar com a administração de recursos. "Lamentavelmente, isso leva a essa situação negativa", disse.

Odier, porém, afirma que os bancos "aprenderam" com a crise brasileira. Segundo ele, novas medidas de controle foram adotadas e incluem mais investigações internas. "Acreditamos que a corrupção é um dos aspectos mais perigosos que pode afetar nosso setor", avalia.

Claude-Alain Mangelisch, CEO da Associação de Bancos, também confirma a nova orientação às instituições depois do esquema de corrupção investigado pela Lava Jato levantar dúvidas sobre os bancos suíços. "A sensibilidade hoje é muito alta em relação a quem abre contas", disse. "Se tivermos suspeitas de corrupção, temos agora a obrigação de informar. Isso está funcionando e é graças a isso que existe a cooperação entre brasileiros e o Ministério Público na Suíça", disse.

O executivo admite que o caso brasileiro revela como operadores, fundos e trusts criaram uma rede "complicada" de transferências, justamente para dissimular recursos. "Temos intermediários e teremos de ter muito cuidado no futuro", disse. Para ele, a Suíça e seus bancos têm a obrigação de "resolver da forma mais rápida possível" o caso, diante da repercussão negativa que teve para a área financeira do país.

Segredo

Odier, que é creditado como a pessoa que liderou os bancos suíços ao fim do segredo bancário no país, insiste que a Suíça "mudou profundamente". "Abandonamos a confidencialidade das contas", disse, lembrando que o setor na Suíça passou por uma "revolução".

O fim do segredo bancário, porém, não ocorreu por acaso e sim por pressão de governos estrangeiros, em especial dos Estados Unidos. Washington ameaçou fechar as portas da maior economia do mundo aos bancos suíços se as regras não mudassem. "Esse foi a maior mudança de paradigma", disse. Segundo ele, o setor tinha três desafios: lidar com os clientes que já tinham dinheiro nesses bancos, com os funcionários que abriram essas contas e planejar o segmento para o futuro.

"Passamos em sete anos do tabu de desafiar o conceito de confidencialidade banco-cliente em assuntos financeiros, para uma natural implementação de acordos de troca de informações", completou.

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