Bagunça financeira da Paralimpíada deve ficar de lição
A bagunça financeira da Paralimpíada, que às vésperas da competição ainda não tinha patrocínio suficiente, pode ensinar lições para os próximos Jogos
Da Redação
Publicado em 19 de setembro de 2016 às 14h50.
As cidades-sede dos Jogos Olímpicos cobrem seus custos com patrocínios, entre outras coisas, e os organizadores da Rio 2016 aprenderam duas grandes lições de um jeito difícil: comece cedo, antes que a economia tenha chance de afundar e as empresas fechem as portas, e amarre patrocínios da Olimpíada à Paralimpíada .
Os organizadores da Rio 2016 sofreram em ambas as frentes. Com a economia em queda, tiveram dificuldades para vender patrocínios de preços elevados para a Olimpíada, e mais ainda da Paralimpíada, que recebe muito menos atenção da mídia internacional.
“Nós tentamos amarrar o máximo possível”, disse Renato Ciuchini, diretor comercial da Rio 2016, que entrou para a organização em 2012 após a saída de seu antecessor. Ao encontrar resistência, o comitê mudou de tática.
“A estratégia era vender adicionalmente a Paralimpíada, mas isso funcionou para poucas empresas. A maioria das empresas, quando toma uma decisão, não altera essa decisão”.
A Rio 2016 esperava que uma vez que as empresas firmassem patrocínios olímpicos, poderiam ser convencidas a investir mais dinheiro na Paralimpíada. Mas o plano foi um fracasso.
Com o baixo apoio dos patrocinadores e a venda fraca de ingressos no início, o comitê enfrentou escassez de recursos. Auxílios de viagem para atletas de mais de 50 países foram atrasados e menos de um mês antes da cerimônia de abertura os atletas ainda estavam no limbo.
A falta de recursos da Paralimpíada do Rio contrastou claramente com Londres 2012, evento em que o modelo de patrocínio vinculou à Olimpíada à Paralimpíada, garantindo a organização e a execução da segunda.
“A amarração parece ser a abordagem mais lógica”, disse Dominic Curran, diretor-executivo da empresa de marketing esportivo Synergy USA, que acrescentou que os patrocinadores normalmente são sofisticados demais para serem convencidos a investir dinheiro adicional depois que já cimentaram suas estratégias.
O acordo “uma proposta, uma cidade”, de 2001, ratifica que as cidades-sede olímpicas também teriam que apresentar uma proposta conjunta para a Paralimpíada. Londres teria sido um “modelo muito bom a seguir”, afirmou o Comitê Paralímpico Internacional, por email.
Os patrocinadores forneceram mais da metade dos R$ 7,4 bilhões (US$ 2,24 bilhões) para o orçamento do comitê organizador da Rio 2016, segundo projeções iniciais publicadas em seu site.
O dinheiro foi usado para tudo, desde infraestrutura até cerimônias, mas o comitê nunca revelou quanto do total foi destinado à Paralimpíada.
Os organizadores precisaram recorrer a empresas estatais como a Petrobras, ao Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), à Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) e às Loterias Caixa.
O comitê organizador de Tóquio 2020 não cometerá os mesmos equívocos: recuperou o modelo de amarração de patrocínios e a campanha de marketing já está bastante avançada.
Quatro anos antes do evento, Tóquio já conta com uma lista maior de patrocinadores paralímpicos do que o Rio neste mês.