Ayres Britto: "Prisão de Temer é impactante e país vive estresse político"
O ex-ministro do STF afirmou que a prisão de dois ex-chefes do Executivo mostra que a "democracia vive de aperfeiçoamento constante e ininterrupto"
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de março de 2019 às 13h52.
Última atualização em 21 de março de 2019 às 13h54.
Brasília — Carlos Ayres Britto, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal ( STF ), afirmou nesta quinta-feira (21) que a notícia da prisão do ex-presidente Michel Temer é "impactante". Para ele, o fato de haver dois ex-presidentes do Brasil presos - Luiz Inácio Lula da Silva e agora Temer - mostra que o Brasil atravessa um período delicado, mas também disposto a se repaginar no "princípio da moralidade".
Ayres Britto ressalvou que ainda não conhece os motivos da prisão e que ela precisa estar fundamentada. "Eu sou muito cuidadoso nessas análises de coisas que são impactantes, é evidente, um ex-presidente da República, um constitucionalista. Tão logo saia daqui vou me inteirar das coisas", disse o ex-ministro, que estava em evento no Superior Tribunal da Justiça (STJ), em Brasília.
Ayres Britto ressaltou que a prisão de dois ex-chefes do Executivo brasileiro aponta que o País atravessa um clima de estresse "político, civil, jurídico", mas que, por outro lado, se a prisão "se fez necessária para materializar o princípio da moralidade", mostra também que a democracia vive de aperfeiçoamento constante e ininterrupto.
"Isso dá conta de o Brasil, por um prisma, atravessa período muito delicado, por outro, se houver mesmo fundamento para a prisão, que o Brasil está disposto a se repaginar na perspectiva notadamente do princípio da moralidade", disse. "Ainda estou digerindo, tentando digerir essa notícia, quero saber dos motivos, quem foi que decretou, quais os fundamentos", completou o ex-ministro, que foi presidente do STF.
No evento em que Ayres participava, com a presença de ministros da Suprema Corte, STJ, membros da advocacia e do Ministério Público, a notícia pegou convidados de surpresa, segundo relatos. O presidente do STF, ministro Dias Toffoli, e a Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, também estavam presentes, mas não falaram com a imprensa.
Questionado sobre o fato de haver dois ex-presidentes presos, o presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, José Robalinho, comentou que para o País é sempre ruim, mas ressaltou ser "sempre bom" ver a Justiça funcionando. "Tem que funcionar perante todos, mas não tenho detalhes, estava aqui quando fiquei sabendo", completou.
O ex-ministro do STF Sepúlveda Pertence, que atuou na defesa do ex-presidente Lula, também comentou a prisão de Temer, dizendo estar "espantado", apesar de ressalvar também que não conhece a decisão. "Apenas estou espantado neste momento inicial do eventual processo contra o ex-presidente. Enfim, é mais uma surpresa desses tempos estranhos, como diria o ministro Marco Aurélio Mello. É triste (ver dois ex-presidentes presos). O primeiro, eu participei da sua defesa e considero uma condenação arbitrária, marcada pelo ódio político que se dedica ao ex-presidente Lula. Não sei o que terá feito decretar, tão rapidamente, há tão poucos dias de ter deixado a Presidência, a prisão do ex-presidente Michel Temer", observou.