AstraZeneca diz que não venderá doses de sua vacina para empresas privadas
A empresa se pronunciou após notícias de que um grupo de empresas brasileiras pediu ao governo federal autorização para comprar 33 milhões de doses
Da Redação
Publicado em 26 de janeiro de 2021 às 12h14.
Última atualização em 26 de janeiro de 2021 às 14h01.
A AstraZeneca divulgou nota nesta terça-feira, 26, afirmando que não venderá vacinas contra a covid-19 para o setor privado no Brasil.
A empresa divulgou nota sobre o caso após as notícias de que um consórcio de empresas pediu autorização ao governo federal e Ministério da Saúde para a compra de 33 milhões de doses da vacina diretamente da fabricante.
Segundo a negociação, divulgada primeiramente pela Folha de S.Paulo, havia planos para doar metade da compra ao SUS e usar outra parte para imunizar os funcionários das empresas compradoras. Ainda segundo a Folha, o governo federal havia autorizado a transação. Procurado, o Ministério da Saúde ainda não se pronunciou.
Na nota, a AstraZeneca afirma que suas vacinas estão sendo disponibilizadas somente ao setor público em diversos países do mundo e a organizações multilaterais como a Organização Mundial da Saúde (OMS).
"No momento, todas as doses da vacina estão disponíveis por meio de acordos firmados com governos e organizações multilaterais ao redor do mundo, incluindo da Covax Facility, não sendo possível disponibilizar vacinas para o mercado privado", disse a empresa.
"Nos últimos 7 meses, trabalhamos incansavelmente para cumprir o nosso compromisso de acesso amplo e equitativo no fornecimento da vacina para o maior número possível de países ao redor do mundo", continua a nota.
A AstraZeneca cita, no caso do Brasil, o acordo de transferência de tecnologia com a Fundação Oswaldo Cruz, que permitirá ao instituto brasileiro fabricar internamente doses da vacina. "Como parte do nosso acordo com a Fiocruz, mais de 100 milhões de doses da vacina Oxford/AstraZeneca (AZD1222) estarão disponíveis no Brasil, em parceria com o Governo Federal".
Além das negociações diretas com países, a AstraZeneca faz parte da Covax Facility, aliança da OMS para compra de vacinas a países mais pobres -- e a qual o Brasil integra, tendo adquirido direitos de comprar doses para 10% da população, que complementarão os acordos que o governo já têm com as fabricantes.
O número de 33 milhões de doses sondado pelas empresas privadas é tido como alto diante da demanda global pelas vacinas. Ao todo, o Brasil dispõe até agora de pouco mais de 12 milhões de doses no SUS, entre Coronavac (da chinesa Sinovac com o Instituto Butantan) e AstraZeneca/Oxford.
O Brasil recebeu no fim de semana as primeiras duas milhões de doses prontas da AstraZeneca importadas do Instituto Serum, da Índia, que é parceiro da empresa na fabricação da vacina.
A Fiocruz também espera receber por volta de 8 de fevereiro insumos farmacêuticos da Índia para fabricar as primeiras doses próprias da vacina da AstraZeneca, além de produzir o próprio insumo nos próximos meses. Enquanto o insumo -- o chamado IFA -- não chega, a Fundação também estuda comprar outras 10 milhões de doses prontas.
Nenhuma empresa afirmou publicamente ter participado das negociações. Em nota à EXAME, a Vale, uma das empresas citadas como integrante do consórcio, confirmou convite para as conversas, mas disse que não está participando da iniciativa. "A Vale foi convidada a participar da discussão, mas declinou da iniciativa. A política da companhia é de doação integral de insumos que venham a ser adquiridos para apoiar os esforços oficiais de combate à covid-19."
JBS e Oi, outras das empresas citadas, também confirmaram que foram contatadas, mas decidiram por não integrar as conversas. Ambev, Claro, Santander e Itaú afirmaram que a informação não procede e que não fazem parte do grupo.
A Gerdau afirmou que "não lidera nenhum movimento de compra de vacinas, mas que tem sim participado de diálogos no sentido de buscar soluções que visem a saúde e o bem-estar da sociedade neste momento". A Dasa, que havia sido citada como a ponte entre as empresas e a AstraZeneca, reitera que não participa de negociação com a AstraZeneca, nem com outros players de mercado. "A companhia possui amplo relacionamento com diferentes fornecedores de imunizantes globais e está buscando entender a disponibilidade de comercialização por empresas privadas", diz a Dasa em nota.
Ontem, em live do banco Credit Suisse, o presidente Jair Bolsonaro se mostrou favorável à importação das vacinas pelas empresas. "Semana passada nós fomos procurados por um representante de empresários e nós assinamos carta de intenções favorável a isso, para que 33 milhões de doses da [vacina de] Oxford viessem do Reino Unido para o Brasil a custo zero para o governo. E metade dessas doses, 16,5 milhões, entrariam aqui para o SUS e estariam então no programa nacional de imunização."