Presidente da Câmara, Eduardo Cunha: ele classificou o episódio da anotação que revelaria o pagamento de propina como "absurdo" (Ueslei Marcelino/REUTERS)
Da Redação
Publicado em 30 de novembro de 2015 às 13h08.
Brasília - O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), insinuou que a divulgação de uma anotação que revelaria o recebimento de propina paga a ele pelo banco BTG Pactual tem a ver com o possível anúncio nesta segunda-feira de sua decisão sobre os pedidos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, que deverá ser adiado.
Cunha rebateu, em entrevista a jornalistas, acusações de que teria recebido propina do banco para apresentar uma emenda à medida provisória 608 que beneficiaria o BTG Pactual, do banqueiro André Esteves, preso pela Polícia Federal na última quarta-feira sob acusação de tentar obstruir o andamento da operação Lava Jato.
"Quero reagir com bastante indignação e desmentir com veemência isso que foi divulgado ontem (domingo). E o faço não somente pela irritação com uma situação que me parece mais uma armação", afirmou Cunha.
"Esse assunto aqui (divulgação de anotação) primeiro tem que ficar muito bem claro para não confundir a minha decisão (sobre impeachment) com esse assunto. Acho até que o fato de eu ter anunciado que ia decidir hoje pode ter motivado isso aqui. Então, provavelmente, eu não decidirei hoje em função disso", adiantou.
Uma anotação apreendida pela Polícia Federal junto a Diogo Ferreira, chefe de gabinete do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), indicaria o pagamento de 45 milhões de reais de propina do BTG à Cunha para que ele apresentasse uma emenda à MP 608 para que o banco pudesse usar créditos da massa falida do Bamerindus, da qual é proprietário.
Delcídio e seu chefe de gabinete também foram presos na última quarta acusados de buscar obstruir a Lava Jato, que investiga um bilionário esquema de corrupção na Petrobras.
Na entrevista desta segunda, Cunha negou as acusações e disse que a emenda apresentada por ele era contrária aos interesses do BTG.
"A minha emenda era contrária ao interesse que está sendo divulgado, é bom deixar isso claro. Minha emenda era justamente contra o aproveitamento de créditos por bancos em liquidação", garantiu.
"É realmente uma situação absurda. E o que é pior, ganha-se um contorno da mídia onde uma anotação torna-se documento e a anotação vira, a partir daí, o suposto pagamento de propina", criticou.
Cabe a Cunha, como presidente da Câmara, decidir se dá ou não andamento a pedido de impeachment contra a presidente.
Caso um pedido de impedimento seja acatado por Cunha, uma comissão de deputados será criada para emitir um parecer sobre a abetura efetiva ou não do processo de impeachment.
Esse parecer terá ainda de ser votado em plenário e, em caso de decisão de abrir processo de impeachment, irá ao Senado e Dilma será afastada do cargo até o julgamento do caso pelos senadores.
Cunha rompeu com o governo neste ano depois de ser acusado por um delator da Lava Jato de receber 5 milhões de dólares do esquema de corrupção na Petrobras.
Ele é alvo de uma denúncia ao Supremo Tribunal Federal pela Procuradoria-Geral da República por conta desta acusação e também responde a inquérito no STF por conta de contas na Suíça em seu nome no de familiares.
O presidente da Câmara é alvo, ainda, de um processo que pede a cassação de seu mandato no Conselho de Ética da Câmara por quebra de decoro parlamentar, por conta de um depoimento dado por ele à CPI da Petrobras em que negou ter contas bancárias no exterior.
Documentos dos Ministérios Públicos do Brasil e da Suíça apontaram a existência dessas contas nos nomes do parlamentar e de familiares.
Cunha nega as acusações e, diante de pedidos para que se afaste da presidência da Câmara, tem afirmado que seguirá exercendo o cargo.
Texto atualizado às 14h08