PGR: Aras pediu ao STF abertura de um inquérito para apurar as acusações feitas por Moro (Isac Nóbrega/PR/Flickr)
Agência O Globo
Publicado em 28 de abril de 2020 às 07h15.
Três dias após solicitar a abertura de inquérito ao Supremo Tribunal Federal (STF) que tem Jair Bolsonaro como um dos alvos, o procurador-geral da República, Augusto Aras, esteve na tarde desta segunda-fera no Palácio do Planalto e participou de uma reunião junto com o presidente.
Aras foi ao Planalto discutir questões sobre o combate ao coronavírus com o ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto. O ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), André Mendonça, também participou do encontro. Segundo fontes que acompanharam a reunião, o procurador-geral relatou ações do Ministério Público Federal (MPF) sobre a Covid-19 e pediu intermediação do Planalto para estabecer um canal de diálogo com o novo ministro da Saúde, Nelson Teich.
De acordo com interlocutores, Bolsonaro teria aparecido na reunião e participado brevemente do encontro. Mas uma atualização da agenda ofical do presidente, divulgada à noite, registra que ele esteve com os dois ministros e Aras das 14h às 14h30. A sala de Braga Netto fica no quarto andar do Palácio do Planalto, enquanto a do presidente fica no terceiro. A reunião de Aras com Braga Netto já estava marcada desde a semana passada.
Na sexta-feira passada, Aras pediu ao STF abertura de inquérito para apurar as acusações feitas pelo então ministro da Justiçam Sergio Moro, em seu anúncio de demissão, no qual ele afirmou que Bolsonaro tentou fazer interferências políticas na Polícia Federal, obter informações de inteligência e frear investigações contra aliados seus.
A investigação solicitada por Aras mira tanto os supostos crimes de Bolsonaro como, no caso de Moro não apresentar provas, o possível processo de denunciação caluniosa contra o ex-ministro.
Na chegada ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse que Moro terá de apresentar provas sobre as acusações que fez e que um eventual inquérito no STF poderia ajudar a esclarecer o caso.
"O que acontece: o ministro que saiu fez acusações e é bom que ele comprove, até para minha biografia. Agora, o processo no Supremo é o contrário, é ele quem tem que comprovar aquilo que ele falou ao meu respeito", argumentou. "É uma acusação grave que foi feita a meu respeito, seria bom o Supremo decidir isso o mais rapidamente possível. E o ministro pode apresentar as provas, se ele tiver, obviamente", complementou.
Em uma das cópias de mensagens com o presidente que Moro apresentou à TV Globo, Bolsonaro reclama da investigação sobre deputados bolsonaristas em um inquérito que apura fake news contra integrantes do Supremo e afirma ao ministro que este era mais um motivo para trocar o comando da Polícia Federal.