cachoeira na CPI (Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 14 de julho de 2012 às 15h55.
Brasília - Após depoimentos de dois governadores na CPI do Cachoeira classificados como "frustrantes" por alguns integrantes, a comissão deve focar as investigações na empreiteira Delta e, finalmente, os parlamentares poderão se debruçar sobre documentos que ainda não foram usados para analisar que relações Carlinhos Cachoeira tinha com políticos e empresas.
O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) resumiu, em parte, o sentimento dos demais membros da comissão já quase no final do depoimento do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), nesta quarta-feira: "Estamos numa sequência de frustrações com depoimentos."
Na terça, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), compareceu à CPI e, assim como Agnelo, negou ter relações com Cachoeira. Na avaliação do senador tucano Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), o "jogo terminou um a um", fazendo referência ao embate entre PT e PSDB.
Os depoimentos serviram pelo menos para que a comissão conseguisse o compromisso dos dois governadores de liberar os seus sigilos bancário, fiscal e telefônico para a CPI.
Tanto Perillo quanto Agnelo são citados nas operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal, que servem de base para os trabalhos da comissão que investiga os laços do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com empresas e políticos.
Cachoeira está preso desde fevereiro, acusado de comandar uma rede de jogos ilegais.
Novas convocações
Na quinta-feira, a CPI voltará a analisar requerimentos de quebras de sigilo e de novas convocações para depor, apesar de já ter chamado mais de 50 pessoas.
Entre as possíveis convocações que poderão ser analisadas estão a do ex-presidente da construtora Delta Fernando Cavendish e do ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antônio Pagot.
Nos dois casos, a convocação envolverá embates políticos entre os principais partidos do Congresso: PT, PMDB e PSDB.
PT e PSDB, por exemplo, nutrem sentimentos conflitantes sobre a convocação de Pagot. A ida do ex-diretor do Dnit à CPI pode colaborar para que os tucanos estendam as investigações parlamentares para contratos fechados entre a Delta e o governo federal e ainda atacar a autarquia federal que gere muitos contratos do Programa de Aceleração ao Crescimento (PAC).
Esse cenário deveria fazer o PT resistir à convocação de Pagot. Contudo, há duas semanas ele disse em entrevista que empreiteiras teriam aumentado os preços do contrato do Rodoanel, em São Paulo, para alimentar um suposto caixa dois da campanha de José Serra à Presidência em 2010.
Esse fato faz o PT analisar se a convocação de Pagot não serviria para atrapalhar a empreitada de Serra na disputa pela prefeitura de São Paulo, segundo disse à Reuters um parlamentar do partido que integra da CPI e pediu anonimato.
Em uma reunião ainda nesta quarta, o PT deve se reunir para definir um posicionamento sobre a convocação de Pagot. Um parlamentar disse à Reuters que a tendência, antes desse encontro, é que a base aliada seja contrária ao comparecimento do ex-diretor do Dnit.
A decisão da Controladoria-Geral da União (CGU) na terça-feira declarando a construtora Delta inidônea, impedindo que ela seja contrata pela administração pública e participe de licitações federais, aumenta a pressão para que a CPI amplie a investigação sobre a empresa e sobre o Dnit.
Nesse sentido, depois de convocar os diretores regionais da empresa, Cláudio Abreu e Heraldo Puccini, e quebrar os sigilos bancário, fiscal e telefônico da construtora em nível nacional, aumenta a pressão para a convocação de Cavendish à CPI.
Nesse caso, a resistência é do PMDB, segundo membros da comissão. O partido teme que a vinda de Cavendish reacenda a pressão para convocação do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.
Um requerimento tentando convocar Cabral já foi rejeitado por maioria na comissão, mas a relação dele com Cavendish, de quem é amigo pessoal, não está completamente fora dos planos de investigação da CPI.