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Após “Carne Fraca”, consumidores estão mais cautelosos

A Operação mostrou frigoríficos envolvidos em um esquema criminoso que "maquiava" carnes vencidas com ácido ascórbico para vendê-las ao mercado

Operação Carne Fraca: até o fim desta semana, a Vigilância Sanitária Municipal vai recolher amostras de carne e embutidos em supermercados do Rio de Janeiro para análise (Adriano Machado/Bloomberg)

Operação Carne Fraca: até o fim desta semana, a Vigilância Sanitária Municipal vai recolher amostras de carne e embutidos em supermercados do Rio de Janeiro para análise (Adriano Machado/Bloomberg)

AB

Agência Brasil

Publicado em 20 de março de 2017 às 17h59.

Última atualização em 20 de março de 2017 às 17h59.

Consumidores ouvidos pela Agência Brasil no Rio de Janeiro disseram hoje (20) que pretendem mudar hábitos alimentares em relação a carnes e embutidos.

Na última sexta-feira (17), a Polícia Federal deflagrou a Operação Carne Fraca que mostrou que frigoríficos envolvidos em um esquema criminoso "maquiavam" carnes vencidas com ácido ascórbico para vendê-las ao mercado interno e externo.

A contadora Jane Dias disse que vai diminuir o consumo de embutidos.

"Eu acredito que o principal problema deve estar nos processados, como salsicha, linguiça, e nos enlatados. Eu costumo comer, mas evito ao máximo esses embutidos. Agora vou tomar mais cuidado ainda."

A gerente de projetos Rose Gomes ficou impressionada com as notícias e disse que vai rever os hábitos alimentares da casa.

"Agora, depois dessas matérias, a gente vai rever alguns pontos da nossa alimentação. A gente já tinha cuidado antes, então agora que a gente vai redobrar."

Já a jornalista Paula Uchôa, que já tem cuidado redobrado por causa de restrições alimentares na família, vai tentar ampliar o vegetarianismo em casa.

"Eu tenho uma filha que tem dermatite ectópica, então ela já tem alergia a embutidos, enlatados, condimentos. Em casa, a gente não usa. Também acho um absurdo esse negócio das carnes. Eu já não comia carne, agora eu estou com mais nojo ainda."

Filho de argentinos, o contador Joan Pablo Francesch ficou impressionado com as notícias a respeito da operação e já mudou os hábitos, mesmo que temporariamente.

"Mesmo sendo amante e apreciador de carnes em geral fui impactado negativamente com as notícias que circularam nos meios de comunicação e resolvi adotar medidas que dessem prioridade à minha saúde. Até o momento, penso em não consumir carnes até que a situação seja bem esclarecida e que os órgãos competentes sejam investigados por auditorias externas e que comprovem a procedência dos alimentos vendidos."

Vigilância Sanitária

Até o fim desta semana, a Vigilância Sanitária Municipal vai recolher amostras de carne e embutidos em supermercados do Rio de Janeiro para análise química em laboratório.

A operação começou no sábado, em supermercados de Copacabana e Botafogo, na zona sul.

No domingo, a inspeção foi na Ilha do Governador, na zona norte, e hoje (20) os fiscais passaram pela Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste.

Segundo a gerente técnica de Alimentação do órgão, Aline Borges, o objetivo é analisar produtos das marcas envolvidas nas fraudes, de acordo com as investigações da Polícia Federal.

"As marcas que a gente está focando são as marcas envolvidas nessa operação Carne Fraca, que são as produzidas pelos frigoríficos JBS e BRF, que são a Friboi, Perdigão, Sadia, Seara."

Os primeiros laudos devem ficar prontos em sete dias.

"A gente vai fazer a análise da microbiologia, para verificar se há algum micro-organismo que seja patogênico, como foi informado, salmonela, entre outros. Também vamos fazer a análise físico-químico para saber se tem focos de outros produtos e análise de rotulagem."

O material coletado está sendo encaminhado para o Laboratório Municipal de Saúde Pública, que vai verificar a contaminação por micro-organismos, a composição do produto, detectar corpos estranhos no alimento, há indícios de fraude, análise de cor, textura e odor.

Os produtos com amostras insatisfatórias terão os lotes retirados de circulação.

Aline destaca que o consumidor deve ficar atento às condições de armazenamento nos locais de compra.

"São as condições para qualquer produto perecível: verificar a questão da procedência, a temperatura de armazenamento, higiene do local, do equipamento, se a embalagem está íntegra, a data de validade. Se tiver algum problema com o produto ou o estabelecimento, entrar em contato pelo 1746 para fazer a reclamação, e a gente vai no estabelecimento verificar."

Na ação de hoje, foram encontrados 380 quilos de produto que estavam em temperatura inadequada.

"Foram carnes, embutidos, salsicha, mortadela, que nós inutilizamos. O problema era de manutenção do equipamento, estava com temperatura inadequada e uma parte já apresentava mau cheiro e coloração alterada".

Churrascarias

Em São Paulo, as churrascarias da zona oeste da cidade ainda não sentiram os efeitos das investigações da Polícia Federal.

De acordo com Cristiano Zuck, gerente de uma das churrascarias, o movimento foi normal no fim de semana.

"Ainda não sentimos nenhum reflexo [da operação], a clientela foi a mesma no sábado e no domingo."

Para ele, as churrascarias não vão sofrer os reflexos da operação.

"Para nós, acredito que não vai ter mudança, mas no mercado internacional sim", lamentou.

O gerente diz que o estabelecimento mantém um padrão de controle de qualidade.

"Temos um pessoal que, quando chega a mercadoria, já seleciona para ver se está de acordo com o nosso padrão, e os nossos critérios continuam os mesmos."

Cliente da churrascaria, o médico Rogério Ruiz disse que não vai diminuir o consumo de carne.

"Mas talvez use mais critério na hora da compra da carne no varejo. Nas churrascarias tradicionais eu imagino que eles devam ter um controle de qualidade, então acho que não há problemas", avalia.

Já o taxista Osmar Rocha disse que vai diminuir o consumo de carne.

"Vou diminuir o consumo por precaução, mas depois que eu vir que está tudo certo [com a fiscalização] volto a comprar mais porque gosto muito de carne."

Nas outras churrascarias visitadas, gerentes e clientes preferiram não conversar com a reportagem, mas os funcionários destacaram que o movimento continua o mesmo.

Na avaliação deles, a crise econômica diminuiu o hábito de ir nas churrascarias antes mesmo da deflagração da operação da Polícia Federal.

 

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