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Apesar da popularidade, Lula tem biografia abalada por condenação

Para o ex-presidente condenado hoje (12), o objetivo das denúncias e acusações é impedi-lo de disputar a eleição presidencial de 2018

Lula: "Provem uma corrupção minha que irei a pé ser preso", disse em setembro (Victor Moriyama/Getty Images)
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Reuters

Publicado em 12 de julho de 2017 às 19h55.

São Paulo - Presidente mais popular da história do Brasil quando deixou o governo, Luiz Inácio Lula da Silva foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro nesta quarta-feira, colocando em xeque sua biografia e a possibilidade de disputar novamente a Presidência da República no ano que vem.

Apesar de condenar Lula a 9 anos e 6 meses de prisão, no caso envolvendo um tríplex no Guarujá (SP), o juiz Sérgio Moro não determinou na sentença que o petista cumpra a prisão imediatamente.

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Lula é réu em outras quatro ações penais, duas das quais também ligadas à Lava Jato.

Sempre afirmando ser inocente de qualquer crime, inúmeras vezes Lula se mostrou indignado com as acusações, disparando frases apelativas e desafiadoras.

"Provem uma corrupção minha que irei a pé ser preso", disse em setembro do ano passado, quando foi denunciado na ação que levou à sua condenação nesta quarta-feira.

"O dia que alguém provar um erro meu ou 10 reais ilícitos na minha vida eu paro com a política", disse em uma entrevista a uma rádio de Salvador, em abril.

Após ter prestado depoimento a Moro em maio no processo sobre o tríplex, Lula foi ainda mais dramático.

"Se um dia eu tiver que mentir para vocês, prefiro que um ônibus me atropele em qualquer rua deste país", disse com a voz embargada, em um comício organizado em Curitiba, local do depoimento.

Lula mostrou indignação também com a inclusão de sua mulher, a ex-primeira-dama Marisa Letícia, como ré no mesmo processo.

Morta em fevereiro deste ano, vítima de um acidente vascular cerebral, a ex-primeira-dama teve a punibilidade extinta por Moro, contrariando a defesa de Lula, que queria a absolvição sumária.

O ex-presidente culpou as acusações contra dona Marisa pela doença que a acabou matando.

"Na verdade, Marisa morreu triste. Porque a canalhice que fizeram com ela, a imbecilidade e a maldade que fizeram com ela... Eu tenho 71 anos, não sei quando Deus me levará, acho que vou viver muito, porque eu quero provar que os facínoras que levantaram leviandade com a Marisa tenham, um dia, a humildade de pedir desculpas a ela", disse Lula, emocionado, no velório da ex-primeira-dama.

Para o ex-presidente, o objetivo das denúncias e acusações é impedi-lo de disputar a eleição presidencial do próximo ano. Ele garante, no entanto, que o efeito é justamente o contrário.

"Estou me preparando para voltar a ser candidato a presidente deste país", disse no comício em Curitiba. "Eu nunca tive tanta vontade como eu tenho agora", acrescentou.

"Vou disputar se me deixarem disputar e vou provar que esse país pode voltar a ser feliz", afirmou no rádio.

Apesar da sentença de Moro proibir Lula de exercer cargo público, assim que a defesa do ex-presidente entrar com recurso na segunda instância, o efeito dessa proibição fica suspenso até o julgamento do recurso.

Auge

Com as seguidas denúncias, a situação de Lula se tornou bem diferente de quando passou a faixa presidencial para Dilma Rousseff em 1º de janeiro de 2011, com a popularidade na casa dos 80 por cento, embora ainda mantenha um bom potencial eleitoral, como mostram as pesquisas de opinião.

Os dois mandatos de Lula como presidente, entre 2003 e 2010,coincidiram com um período prolongado de crescimento econômico,beneficiado pelo cenário externo favorável, em que 30 milhões debrasileiros subiram à classe média.

O Brasil elevou seu status para se afirmar como uma potência regional e se tornou ainda mais atraente aos investidores estrangeiros.

Além de engrossar uma base eleitoral que o acompanhou desde a primeira tentativa de chegar à Presidência da República, em 1989, o progresso econômico permitiu a Lula resistir a uma série de escândalos de corrupção durante seu governo, o maior deles o esquema de compra de apoio parlamentar conhecido como mensalão, que ameaçou encurtar seu primeiro mandato.

Como político, Lula foi celebrado por sua habilidade incomum de mobilizar e conciliar adversários políticos díspares. Como líder, ele foi respeitado por atuar como estadista ao mesmo tempo em que mantinha uma conexão especial e proposital com os brasileiros mais pobres.

A aptidão para a negociação que apurou nos anos 1970 como líder sindical era a mesma que utilizava como presidente,costumava dizer Lula, favorecendo o diálogo sobre o confronto.

Sua trajetória até chegar à Presidência, no entanto, foi pavimentada por muitas derrotas.

Embora tenha sido o deputado federal mais votado em 1986, quatro anos antes Lula fracassou na disputa pelo governo do Estado de São Paulo e foi derrotado nas três primeiras tentativas de chegar à Presidência antes de conquistar o comando do país em 2002.

Com a sentença de Moro, a prioridade de Lula terá que ser evitar a confirmação da condenação no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, o que o tiraria da disputa de 2018. Se conseguir isso, poderá tentar um novo desfecho para sua vida política.

Caso contrário, só lhe restará um lugar nos livros de história, como ele mesmo já chega a admitir.

"Tenho a consciência tranquila e o reconhecimento do povo. Confio que cedo ou tarde a Justiça e a verdade prevalecerão, nem que seja nos livros de história", afirmou em artigo no jornal Folha de S.Paulo, em outubro do ano passado.

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