Brasil

Governo descarta racionamento após apagão

Diversas regiões tiveram corte de fornecimento de energia por falhas no sistema de transmissão, deixando sem luz entre 5 milhões e 6 milhões de pessoas

Marcadores indicam o nível de água na represa de Jaguary, mostrando a barragem seca em Bragança Paulista, interior de São Paulo (Nacho Doce/Reuters)

Marcadores indicam o nível de água na represa de Jaguary, mostrando a barragem seca em Bragança Paulista, interior de São Paulo (Nacho Doce/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 4 de fevereiro de 2014 às 19h44.

São Paulo/Brasília - Diversas regiões do Brasil tiveram corte de fornecimento de energia na tarde desta terça-feira por falhas no sistema de transmissão, deixando sem luz entre 5 milhões e 6 milhões de pessoas, em momento de baixa histórica dos reservatórios de hidrelétricas e de alta demanda por parte dos consumidores de energia.

O blecaute --o primeiro relevante no Brasil em 2014, ano em que o país recebe a Copa do Mundo-- ocorreu um dia após o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, ter afirmado que o governo não enxergava "nenhum risco de desabastecimento de energia".

O secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, classificou como de "médio porte" a ocorrência nesta terça que atingiu cerca de 8 por cento da carga no Sul e no Sudeste --regiões mais afetadas.

Zimmermann afirmou que não há perigo de falta de energia do ponto de vista estrutural. "O sistema elétrico brasileiro tem capacidade instalada de cerca de 127 mil megawatts (MW) e o recorde da demanda de energia ontem (segunda-feira) foi de cerca de 84 mil MW", disse Zimmermann, descartando a possibilidade de racionamento de energia.

Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o apagão foi originado por curto-circuitos em linhas de transmissão no Tocantins, uma da Intesa e outra da Taesa. Após a configuração da perda dupla na transmissão entre Miracema e Colinas, foi determinado o desligamento do circuito remanescente, da Eletronorte, resultando na separação física dos sistemas de transmissão Norte e Nordeste do restante do sistema elétrico nacional.

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, disse que o processo de desligamento orquestrado evitou um apagão maior. "Quando acontece um fenômeno, um acidente, para você evitar apagar toda uma região, você tem um sistema que corta pequenas cargas em certos lugares e evita efeito dominó que apague toda uma região." A Eletropaulo, em São Paulo, a Celesc, de Santa Catarina, e a Light, no Rio de Janeiro, e a paranaense Copel foram algumas das distribuidoras que interromperam o fornecimento de energia elétrica. A CEEE-D, que atua no Rio Grande do Sul, informou que também teve áreas afetadas, mas não forneceu detalhes.

O diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, disse a jornalistas no Rio de Janeiro que de 5 milhões a 6 milhões de pessoas foram atingidas pelo apagão.


Ele garantiu que as linhas de transmissão que falharam não operavam com sobrecarga de energia --além de um limite seguro de operação-- e que o blecaute não tem relação com a forte demanda de energia que tem ocorrido diante de altas temperaturas.

"Todos os equipamentos estão operando dentro dos padrões para os quais eles estavam planejados", afirmou Chipp.

Reservatórios

Os reservatórios de hidrelétricas no Sudeste/Centro-Oeste, os mais importantes para o abastecimento de energia do país, iniciaram a semana a 39,58 por cento de armazenamento, uma queda de cerca de 1 ponto percentual desde a última quinta-feira.

Janeiro teve a pior ocorrência de chuvas para o mês desde 1954, resultando numa queda incomum dos reservatórios do país para esta época do ano, período úmido que normalmente abastece os rios.

"Temos uma quantidade de usinas no país bastante grande e uma diversificação que permite que, mesmo tendo um janeiro ruim, nós não tenhamos nenhum problema de abastecimento de energia elétrica", disse Tolmasquim, da EPE.

Para garantir o abastecimento, o governo tem lançado mão do acionamento das térmicas --cuja energia é mais cara. Segundo Zimmermann, cerca de 15 mil MW dos 21 mil MW disponíveis em usinas termelétricas estão acionados.

O secretário-executivo de Minas e Energia e o presidente da EPE reiteraram que o governo não deixará que as distribuidoras de energia tenham um impacto no seu caixa pelo custo das térmicas além daquilo que podem suportar.

Na semana passada, o preço de energia de curto prazo atingiu recorde histórico, acima de 800 reais o megawatt-hora (MWh). As distribuidoras estão expostas a essa volatilidade por conta da não adesão das hidrelétricas de Cesp, Copel e Cemig, ao processo de renovação antecipada e condicionada de concessões do setor elétrico em 2012.

"Nenhuma distribuidora foi responsável por ter causado isso. A descontratação está acima do que seria e a causa foram as concessionárias (de geração) que preferiram esperar até 2015 (pelo fim das concessões). Essa questão está sendo bem avaliada pelo governo e estudada no (Ministério da) Fazenda", disse Zimmermann.

No ano passado, a conta das termelétricas foi paga pela Conta de Desenvolvimento Energético (CDE).

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