Ao vivo: diretor da Prevent Senior nega à CPI da Covid omissão de mortes
Antes do depoimento de Pedro Benedito Batista Júnior, comissão aprovou pedido de informações sobre Covaxin a corregedor-geral da União
Agência O Globo
Publicado em 22 de setembro de 2021 às 10h33.
Última atualização em 22 de setembro de 2021 às 13h53.
Em depoimento à CPI da Covid desta quarta-feira, no Senado Federal, o diretor-executivo da operadora de saúde Prevent Senior , Pedro Benedito Batista Júnior afirmou que a empresa não omitiu mortes de pacientes que tomaram cloroquina e acusou médicos de manipularem dados. Segundo o executivo, esses óbitos ocorreram depois da elaboração do relatório da empresa sobre o uso do remédio. Por isso, não puderam ser computados.
Batista Júnior também disse que os termos de consentimento das famílias dos pacientes estão em posse da empresa. Ele afirmou que profissionais já desligados da empresa adulteraram planilha interna da Prevent Senior para dar a ideia de fraude.
— Eles invadiram o sistema, acessaram a planilha e, mesmo não tendo mais reponsabilidade sobre esse processo, adulteraram a planilha e encaminharam a planilha para a advogada — disse o diretor afirmando que houve adulteração também em mensagens da empresa.
Ele negou também a existência de pressão sobre os médicos, que tinham autonomia para prescrever os remédios. O executivo disse ainda que a Prevent Senior tomou medidas para evitar o contágio, como testagem do profissionais, afastamento de quem estava doente, e um gasto de mais de 80 milhões equipamentos de proteção individual. Segundo ele, a regularidade da atuação da Prevent Senior foi constatada pelo Ministério Público do Trabalho.
A Prevent Sênior é acusada de ter pressionado médicos conveniados para que prescrevessem medicamentos do chamado tratamento precoce para a Covid-19, cuja ineficácia já foi comprovada. A empresa é suspeita de ter ocultado mortes em estudos sobre a cloroquina, além de ter sido denunciada por pacientes da operadora, que teriam sido assediados para aceitar o tratamento precoce.
Inicialmente, sua oitiva estava marcada para semana passada, mas ele não compareceu à comissão alegando que havia sido intimado em cima da hora e não teve tempo hábil para se preparar. Na ocasião, o relator do colegiado, Renan Calheiros (MDB-AL), defendeu a condução coercitiva para que o depoente possa depor.
Batista Júnior também foi acusado por um médico conveniado da operadora, que relatou que o executivo ameaçou a ele e a sua família após ter denunciado as práticas ilegais na Prevent Sênior. À Polícia Civil de São Paulo, Walter Correa de Souza Melo relatou que o diretor teria dito que o médico estaria "expondo sua filha e sua família", caso insistisse em levar o caso adiante, o que foi interpretado por ele como uma ameaça. Segundo Melo, o executivo também proferiu frases como: "Você tá achando que é espertão?" e "Walter, olha o que você fez com a sua família!".
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Informações sobre Covaxin
Antes do depoimento do representante da Prevent Senior, a CPI aprovou um requerimento para que o corregedor-geral da União, Gilberto Waller Junior, preste informações sobre a investigação preliminar sumária que levou à abertura de processos administrativos de responsabilização contra o laboratório indiano Bharat Biotech, que desenvolveu a vacina Covaxin, a Precisa Medicamentos, a empresa brasileira parceira no negócio. A Corregedoria-Geral da União é ligada à Controladoria-Geral da União (CGU).
Em 29 de julho de 2021, o ministro da CGU, Wagner do Rosário, apresentou o resultado de uma auditoria em que apontou possível irregularidade na falsificação de documentos apresentados pela Precisa ao Ministério da Saúde, mas não foram constatadas outras irregularidades. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), porém, escreveu em seu requerimento que a Corregedoria do órgão apontou sim fraude.
"Assim, após Investigação Preliminar Sumária (IPS), o Corregedor-Geral da União, Gilberto Waller Júnior, instaurou um PAR (processo administrativo de responsabilização) contra a Precisa Medicamentos. O procedimento aponta fraude e "comportamento inidôneo" por parte da empresa. Um segundo processo foi aberto, no mesmo dia, para investigar irregularidades praticadas pela Bharat Biotech", diz trecho do requerimento aprovado pela CPI.
O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), garantiu a Pedro Benedito o direito de não responder perguntas que possam incriminá-lo, mas manteve a obrigação do executivo de comparecer ao depoimento.
Convocação de Queiroga
No início da sessão, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), disse que não pensa em levar o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, novamente à CPI. Ele já prestou depoimento duas vezes, mas a cúpula da CPI queria ouvi-lo mais uma vez depois que o Ministério da Saúde se posicionou contra a vacinação de adolescentes. Queiroga, porém, está com Covid-19.
— A gente deseja que ele se restabeleça. Seria muita falta de respeito com o ser humano pensar trazê-lo, hoje ou daqui a 14 dias — disse Omar.
O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), discordou.
— É importante ouvi-lo pelo absurdo — afirmou Renan, acrescentando: — Não podemos encerrar antes de ouvir o ministro Queiroga.
O senador Otto Alencar (PSD-BA) criticou a comitiva do governo brasileiro que foi a Nova York em razão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
— Os negacionistas estão em Nova York em quarentena — disse Otto.
Reação à ofensa machista
Omar também defendeu a senadora Simone Tebet (MDB-MS). Na sessão de terça-feira, quando a CPI ouvia o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Simone o criticou duramente, e Rosário reagiu, chamando-a de descontrolada. Com a confusão, a sessão foi suspensa. Alguns senadores disseram que o ministro estava sendo machista. Em entrevista antes da sessão, Simone comentou o episódio:
— Não é mimimi, não é vitimização. Não foi uma palavra qualquer. Não foi um ataque à minha atividade como profissional. A senhora é incompetente, isso é aceitável. A senhora não está dizendo a verdade, isso é aceitável. Quando me adjetiva na minha condição de ser como mulher, a senhora é descontrolada, é exaltada, é histérica, isso é algo que é claramente uma violência política contra a mulher. Todo momento em que a mulher quer espaço de poder, no jornalismo, como servidora pública, como profissional liberal, é estrutural, é inconsciente.
O senador Eduardo Girão (Podemos-CE), autor do requerimento de convocação de Rosário, disse que o ministro errou, mas também reclamou que, durante as sessões da comissão, os depoentes estão sendo tratados de forma agressiva e desrespeitosa.
Aziz criticou o senador Marcos Rogério (DEM-RO), que, na terça-feira, após a confusão na sessão, disse que havia um circo.
— Eles criam uma quizumba, criam uma palhaçada, é um circo. É um circo. Está desde o começo provocando o ministro, fazendo comparação com personagens, xingando — disse Marcos Rogério na terça.
— Se fosse eu ser atacado, tudo bem, mas uma senadora não é um circo. Não pode ser um circo — afirmou Omar nesta quarta.
O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) criticou o governo relembrando falas passadas do presidente Jair Bolsonaro que revelam preconceito.
— O que nós vimos ontem é uma digital desse governo federal. Ele chegou ao ponto de falar que tem cinco filhos, quatro homens, e na quinta fraquejou e veio uma mulher. É o nível do presidente que temos. Chegou a afirmar que não contrataria homens e mulheres com o mesmo salário, e que mulheres devem ganhar menos porque engravidam. Sexista. Homofóbico. Chegou a afirmar que, se tiver um vizinho gay, seu apartamento desvaloriza. Afirma também que o índio está cada vez mais parecido com a gente, se humanizando, e não pode ficar retido numa reserva como se fosse um zoológico. Racista. Racista! Chegou a dizer que não corria o risco de ter uma nora negra porque os filhos foram bem educados. Esse é o nível do presidente que nós temos. E o que vimos aqui foi uma reprodução desse governo sexista, preconceituoso, misógino, homofóbico, racista, e que eu tenho fé em Deus que vai passar — disse Contarato.
O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), também atacou o governo e defendeu a reconvocação de Queiroga. A senadora Leila Barros (Cidadania-DF), que na terça-feira saiu de seu gabinete e foi à sala da CPI, onde defendeu Simone Tebet (MDB-MS) e rebateu Marcos Rogério (DEM-RO), agradeceu o apoio que recebeu a disse que não aceitará ataques às mulheres. O governista Luis Carlos Heinze (PP-RS) discordou do tom do ministro da CGU, mas afirmou também que ele foi atacado e chamado de mentiroso na sessão de terça.
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