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Amazônia: garimpo pode ter contribuído para contaminar botos com mercúrio

O mercúrio é utilizado na mineração para separar o ouro de outros elementos, e é altamente poluente

Botos: altas taxas de mercúrio observadas no organismo dos animais representa, igualmente, uma verdadeira "ameaça" à saúde das 20 milhões de pessoas que vivem na região amazônica, que consomem peixes contaminados (Gabriel Melo-Santos/ WWF/Divulgação)
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AFP

Publicado em 24 de outubro de 2019 às 19h20.

Os botos da Amazônia estão contaminados com mercúrio, possível consequência do uso deste metal em atividades de mineração naquela região, revelou nesta quarta-feira um informe elaborado por várias organizações, entre elas o Fundo Mundial para a Natureza (WWF).

Para o estudo, os pesquisadores coletaram amostras de 46 golfinhos de rio entre 2017 e 2019. "É uma boa amostra, todos apresentaram algum nível de contaminação por mercúrio, e pelo menos metade deles um nível alto", explicou à AFP Marcelo Oliveira, especialista em conservação da WWF Brasil.

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"A mineração ilegal e o mercúrio ameaçam a vida na Amazônia e na Orinoquia. 100% dos golfinhos de rio marcados entre 2017 e 2018 estavam contaminados com mercúrio, especialmente os da bacia do Orinoco, onde existe um grande arco de mineração ilegal", perto da fronteira entre a Colômbia e a Venezuela, detalhou o informe.

O mercúrio é utilizado na mineração para separar o ouro de outros elementos, e é altamente poluente. Oliveira considera, porém, que o garimpo não é o único problema.

"O mercúrio existe de forma natural na Amazônia, mas o que ocorre é que ele também é decorrente das queimadas, desmatamento, assoreamento dos rios (...) Então esse mercúrio sai da sua forma natural e é levado para água e entra na cadeia alimentar através dos peixes", lamenta.

As altas taxas de mercúrio observadas no organismo dos botos representa, igualmente, uma verdadeira "ameaça" à saúde das 20 milhões de pessoas que vivem na região amazônica, que consomem peixes contaminados.

"A contaminação não é pela água, é pelo consumo do peixe", ressalta Oliveira, que indica que este mercúrio "é bioacumulativo" e fica por até "100 anos na cadeia" alimentar.

Monitoramento por satélite

O estudo, realizado em seis bacias do Brasil, Bolívia, Colômbia e Peru, também monitorou por satélite 29 destes golfinhos de rio que pertencem a duas espécies. Os animais foram marcados com transmissores de 145 gramas em suas barbatanas.

Esses aparelhos têm uma vida útil de entre cinco e oito meses. Após esse período, se desprendem sozinhos.

O boto-cor-de-rosa, uma das espécies estudadas, está classificado como "em perigo" na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza. "É o segundo nível de ameaça mais grave para um animal e indica que a espécie pode ser extinta em um futuro próximo", explicou a WWF-Brasil.

O estudo se enquadra na Iniciativa Golfinhos da América do Sul, formada pelas organizações Faunagua, Fundação Omacha, Instituto Mamirauá, Prodelphinus e WWF.

A observação dos golfinhos mostrou que esses animais requerem vários tipos de ambientes aquáticos e suas áreas de vida superam em extensão às de outros mamíferos terrestres. Por isso, a construção de represas na região amazônica ameaça seu ciclo de vida, uma vez que quebra a conexão dos rio e isola as populações.

Os pesquisadores também concluíram que os movimentos dos golfinhos não distinguem fronteiras internacionais, o que torna necessários acordos entre países para garantir a proteção das espécies.

Nesse sentido, as instituições participantes buscam que os resultados sirvam para impulsar esforços coordenados entre governos.

Nas próximas fases, o estudo focará em determinar áreas mais sensíveis nas quais não deveriam ser construídos projetos de infraestrutura a fim de salvaguardar estas espécies, assim como monitorar o impacto da caça de golfinhos.

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